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4º Reich Caboclo
(Fernando Cavallieri & Ricardo Moreira)

ETA! Aqui nem é o País Basco,
o que essa gente tem no frasco?
Peço exílio à Catalunha!
Gente feliz fazendo churrasco
com a posse de um carrasco,
o qual nem trato pela alcunha.

IRA de xenófobo caipira.
Logo, um imbecil atira
em quem pensa diferente.
Ah! Mas que cenário mesmo louco,
um 4º Reich caboclo...
Dias sombrios pela frente!

Hordas de fascistas instigados por revistas
pedem através de listas linchamento,
de onde tanta "cabeça de vento"
ainda hoje se lamenta
com o fracasso no Riocentro.

IRA de xenófobo caipira.
Logo, um imbecil atira
em quem pensa diferente.
Ah! Mas que cenário mesmo louco,
um 4º Reich caboclo...
Dias sombrios pela frente!


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80 TIROS (Alvonegro desde criancinha)
Ricardo Moreira

Como se já não bastasse se livrar de fungo ou vírus;
desviar de embriagados caminhões nas madrugadas...
O destino quis assim que ele levasse 80 tiros,
escarrados por fuzis das Forças do Estado Armadas.

Que o tempo suprimido de seus últimos suspiros
seja, quiçá, a cura das famílias destroçadas.
É que, onde ações violentas se registram em conta-giros,
a paz causa prejuízo às TVs patrocinadas.

Não sei se é o retorno à antiga Era dos papiros,
do tacape, inquisição ou do período das Cruzadas,
em que o ódio vira assunto dos pastores em retiros
e escancara-se a ameaça das mentes exasperadas.


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220 VOLTS
Ricardo Moreira

Hoje, acordei
com uma vontade de estourar alto-falantes,
com acordes distorcidos dissonantes
de um piano meia-cauda...

Não me venha com qualquer palavra hidrante,
parece nunca ouviu falar de Dante,
Hoje, eu acordei mais flamejante,
que a Ferrari e o Niki Lauda...

Hoje, acordei querendo é mais
fazer de fralda o lugar limpo,
onde garimpo os versos...
Pichar o Espaço, remexer todo o lodo
que se encontra submerso...

Hoje, acordei...
sem o menor cansaço
para a bagunça, eu confesso!
E, vestido com peruca
e meu nariz de palhaço,
Vou fazer estardalhaço,
bem na frente do Congresso...

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A BOLHA
Ricardo Moreira

Do lado de dentro da bolha,
toda personagem é cega ou caolha,
sofre interferência uma mera escolha;
de fora é mais fácil se achar solução.

Verdade...
E vem desde que o guaraná tinha rolha
e que o álcool do estêncil perfumava a folha:
quem se fecha em núcleos limita a visão.

Como se a ambição sofresse
um processo de encolha;
uma voz grita “hasteie”; outra grita “recolha”.
É o mito da caverna em sua nova versão.

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A CEREJA E O BOLO
(Márcio Policastro e Ricardo Moreira)

A caravana, o programa de auditório;
O caramelo e o aparelho dentário;
A caravela e o novo território;
O cara-de-pau e o otário...

A acareação e o interrogatório;
A carola e o seu confessionário;
A carapuça e a ¨culpa no cartório¨;
O carimbo e o erário.

O carente, a calçada do empório;
A carona, o mesmo itinerário
Eu, descarado, incorporando esta ao repertório,
claramente amparado pelo dicionário


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A CORDA ARREBENTA DO LADO MAIS FRANCO
Ricardo Moreira

A coisa, de quando em quando,
difere daquilo que a gente aguarda,
e aquele futuro com “carros voando"
surpreende e devolve o fetiche por fardas.

Avanço de um "rococó espartano",
que, ao tempo em que Atenas afrouxa sua guarda,
empurra, goela abaixo, os seus planos,
com armas em punho e com cães na vanguarda.

É a corda que estoura do lado mais franco...
É o cancro que aumenta, é a cura que tarda...
e, enquanto a atenção volta-se a um saltimbanco,
o poder permanece à mercê da "eminência parda".


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A FICHA QUE DEMORA A CAIR
Ricardo Moreira

Só acordou quando, enfim, chegou a conta,
e a cidade se encontrava já em escombros.
Queria só agradar os seus, fazer afronta.
Enquanto alicerçavam o caos, dava de ombros.

Aos tempos mais sombrios da história é que aponta
esse roteiro recheados de assombros.
Quem vibra com o chicote só se desaponta
ao ver que a fila em que está fornece os lombos.

Só acordou ao respingar sangue na porta
e só o que via a seu redor era ruína.
Achou bastar um diretor gritando “Corta!”,
e, assim, só no cinema é que a guerra termina.

Sempre há quem tenha ódio irrigando a aorta,
cujo discurso incita o “guardinha da esquina”,
e aí cabe ao tempo eternizar um Herzog ou um García Lorca
e enviar ao limbo quem os elimina.


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A GLÓRIA E O OPRÓBRIO
Ricardo Moreira

Há quem veja na arte uma vitrine ao que é singelo,
com flauta, ukulele, acordeon e violoncelo...
Pinturas só com tons sutis, jardins... Enfim, o belo.
E leves pinceladas, simulando o sol, em amarelo.

Como se a vida fosse um Cordon Bleu com cogumelos,
mas de um modo a deixar Nouvelle Cuisine no chinelo...
Caso assim fosse, Shakespeare não criaria Otello...
E o que, então, faria Lady Zu
se só se ouvisse Elvis Costello?

Para a análise de um mármore esculpido,
há de se ver o quanto sofre o cinzel com o martelo...
Arte nem sempre é estimulante pra libido...

Erra quem vem com vereditos
sem o mínimo acesso ao libelo.
Há dias de poleposition, de champanhe e pódio
e há episódios em que o fim está na curva Tamburello...

O artista se equilibra entre a glória e o opróbrio...
E até para um CR7 faltam as assistências de um Marcelo.

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A MARCA DA CAL
(Sonekka e Ricardo Moreira)

Antes da páscoa, há de cair a máscara
do nosso amor nascido em pleno carnaval...
As notas que ganhou em algum quesitos
soam esquisitas na vida real.

Sobram manias, falta harmonia,
você sem fantasia perde um pouco o sal.
É tão sem brilho, o nosso dia a dia,
De tudo que me diz, eu gosto mais do seu tchau.

Parece estar sobre a alegoria,
mandando tanto beijo, ainda, pra geral.
Com a indicação de tremenda bandeira,
Só resta pro juiz, apontar pra cal...


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A MELHOR DEFESA É O ATAQUE
Ricardo Moreira

Flagrou sua noiva na zona
e espantou-se com o que ela jurava fazer,
que, como buscava um diploma,
era uma “pesquisa para o seu TCC.”

Antes que ele duvidasse,
a moça, de pronto, devolve a pergunta,
sabido que, até uns minutos,
pensavam em levar uma vida conjunta.

Ele, em defesa, disse estar na empresa,
só que encontrou na saída
um dos velhos camaradas,
que pediu ajuda pra entregar bebidas...

Para que a bela não virasse fera,
antecipou-se à investida,
questionando a roupa curta
e o porquê de parecer desinibida.

Diante da urgência, a moça citou
que “em Roma, aja como os romanos”
e que esta é uma norma antiga
da boa convivência entre os humanos.

Falou, sem ficar nem vermelha,
e encurtaram a prosa para evitar mais danos,
saíram com pulgas na orelha,
mas foram pra casa falando de planos.


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A MUSA DA LAJE
Ricardo Moreira

Passei a enviar-lhe mensagens
ao ver suas imagens num site de encontros...
Mundo em que as personagens
são, na proporção, bem mais fadas que monstros.

Comecei a desconfiar
quando ela, de pronto, aceitou meu convite.
Definimos local e uma senha:
algum “som” que se curte apertando o “repeat “.

Não esperava a Angelina Jolie
(Não sou nenhum Brad Pitt)
Curtir um romance levou-me até ali;
do contrário, baixava o Tropa de Elite.

Eis que, de um celular,
um som bem capaz de fazer
com que um Jó se irrite,
me fez ter certeza: não era a atriz de “Sr e Sra. Smith”

A moça sorriu-me com alface no dente,
um top fluorescente-amarelo-“post it”,
uma legging transparente
e um calçolão Hello Kitty.


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A NOITE FRIA ENSINA A AMAR O DIA
Ricardo Moreira

Severino trouxe na bagagem
cicatriz e tatuagem que fizera na cadeia,
tentando um recomeço
sem tropeço ou malandragem...
Sabedor que a gente colhe o que semeia.

Veio conversando na viagem
com uma moça cuja imagem
a princípio lhe era feia,
com quem dividira uma hospedagem,
o adeus à agreste paisagem
e aos olhos cheios de areia.

Um breve papo, coisa de "hora e meia",
a filha do "dotô" Gouveia (como ela se apresentou)
instigou no cabra uma coragem,
e ele passou a ver vantagem
em investir num novo amor.

Aprendiz de mágico,
a chamou para assistente
e, de pronto, a menina aceitou...
Já que o que restou após a compra da passagem
era bem pouco e, em poucos dias, acabou.

Exercendo a velha maestria em sacanagem,
o destino a linhagem aumentou,
e o novo casal, que só fugia da estiagem,
gastaria em fralda pra limpar cocô.

Além de resultar nesta canção
que só vestiu nova roupagem
de algo que Belchior cantou
que diz que é preciso uma noite na friagem,
para que o dia passe, enfim, a ter valor.


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A VER NAVIOS
(Sonekka e Ricardo Moreira)

A história da minha vida é tão brilhante.
O problema: ela não quis mais ouvi-la.
Partiu atrás de “algo mais emocionante”
Em resumo, eu percebi: “andou a fila”. (Nem liguei...)

Ela tachava de “sujeira em toda parte”
toda arte que eu extraía da argila...
Eu, ás de copas, só servia pra descarte.
Deixei partir, sequer corri para impedi-la.

Ela me deixou a ver navios,
e o fato é que eu gostei da experiência!
Fantoche, que se vê solto dos fios,
livre de toda e qualquer interferência.

Ao Deus dará, passei a preencher vazios,
diria até que hoje flerto com a imprudência.
Agi sem freio, abusei, gastei aos rios.
Eu me vejo aos beijos e abraços com a falência...


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ABISMO
Ricardo Moreira

Um problema a solucionar em um certo reino
era um abismo gigante.
Meirelles habitava o topo do lugar;
lá embaixo, o Zé, com sua esposa... gestante.

Meirelles deu uma sugestão para a distância encurtar:
“Cavoucar traria o fim ao mirante”,
mas o outro começou pelo arredor do seu próprio lar,
assinando a certidão de ignorante.

Zé juntava a terra e ia lá em cima entregar
e eis que o destino ia ficando distante,
mas não deixava de observar
Meirelles cada vez mais imponente e elegante.

E, com um jeitão de patrão, sempre fez ressaltar
que Zé “não ´tava se esforçando o bastante”.
além de provocar, com intuito de “motivar”,
que se pensasse na herança do infante.

Zé olhava a terra que tinha que levar
(Meirelles lhe negara um basculante)
Será que chegariam a um mesmo patamar?!
Todos ouvimos que o trabalho é o que há de edificante.

Enfim, de longe, veio o governo para arbitrar.
O crescimento do abismo era gritante.
Criou-se um tributo, e alguém teria de arcar,
o que era, para o Meirelles, algo aviltante.

Analisando com quem mais poderia barganhar,
o governo pensou por um instante...
De um lado, Zé só com a esposa para ajudar;
Meirelles com um monte de representantes
o governo, prudente, temendo se “queimar”,
decidiu que Zé arcasse com o montante.


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ABSTRATO
Ricardo Moreira
(Em homenagem ao gênio Zé Rodrix)

Sei que é muito pouco,
o que eu tenho,
como troco ao seu empenho,
chega até escapar das mãos

Nem dá pra representar
com algum desenho,
mesmo assim, humildemente,
venho “dar satisfação”.

Pois não é sempre
que alguém desce do topo,
com sombra e água de coco,
para quem cavoca o chão.

Pode estar certo,
depois de passado o sufoco,
colo um bronze no reboco
com seu nome na inscrição.

Sei que é muito pouco,
o que eu tenho,
mas, se eu prometo eu mantenho...
Num sinal de gratidão.


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ACORDES ME ACUDAM
(Tato Fischer e Ricardo Moreira)

Diz pra mim: “Foi só um susto!”.
Do contrário, há aí algo injusto,
como fosse um arbusto
sem chance de germinar...

Diz que só preferiu se mudar.
“Juntô as traia i rumô pruma praia”...
Ao fundo, um bom som do Elomar...

E sorrindo, está só curtindo,
algum rincão desse mundo...
Mas a qualquer segundo, ainda há de voltar.

‘Cê bem que podia ter deixado um aviso,
ensinando como é que eu desligo esse riso,
que não me sai da lembrança... (Nunca mais...)

E os planos deixados ao meio?
E os amigos de “email”?
E as “criança”?...

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ADESTRAMENTO
Ricardo Moreira

Antigamente só nos restava a visão
dos que possuíam grana
pra botar a história em livros.
Hoje é possível
cada um dar sua versão
e isso seria bacana
se não fôssemos passivos...

... Servindo só de eco pra televisão
ou pra revista semanal
com os seus escusos motivos.
Mais de um século
e arraigada é a escravidão
ainda torcemos que o patrão
tenha direitos exclusivos.

Crentes que não pode ser céu
quem nasceu chão
comemorando a “lição”
que se dá aos subversivos.
E por mais forte que, de cima,
"desçam a mão", agradecemos
por poder pedir perdão
e estarmos vivos.


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ÁGUA NO ROSTO
(Ricardo Moreira)

Num velho caderno de anotações,
versos revelam tristeza e desgosto,
que, hoje, buscando em minhas recordações,
não lembro o nome, motivo ou sequer um "encosto"...

Jamais eu fui propenso a alucinações,
logo se nota diante do exposto
que o tempo alivia quaisquer frustrações.
Tenhamos em mente esse pressuposto.

A um mesmo ocorrido há várias reações,
da mais sensata à de extremo mau gosto.
è lamentável que haja quem sucumba às suas missões
quando o que basta é diálogo e uma água no rosto.
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Ah! Cabe...
(Nem que eu acabe na Cohab)


Da Corifeu à Anhaia Mello,
da Anhaia Mello à Corifeu,
deve haver ainda um pedaço,
pra eu erguer algum castelo
que eu possa chamar de meu... de teu.

Da Corifeu à Anhaia Mello,
da Anhaia Mello à Corifeu,
serei o teu Romeu, serás a minha Julieta,
mas sem a incrível tragédia
que sobre eles se abateu...

Da Corifeu à Anhaia Mello,
da Anhaia Mello à Corifeu,
construiremos um espaço
para beijo e para abraço,
caramelo e camafeu...

E, da torre do tal castelo, miremos o belo,
que a velocidade da cidade escondeu...
E por menor que seja, nem que à base de cerveja,
Aqui se encontre o bucolismo de Marília de Dirceu


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AH! VÁ DA DUTRA ATÉ O PARI
Ricardo Moreira

Não é pecado dizer que eu prefiro
o Brás e o Bom Retiro à Oscar Freire e ao Iguatemi.
Não é a coisa do glamour o que eu mais admiro,
e sim o duro que as pessoas dão pra conseguir.

Pois quem dá duro para conseguir
não esbanja nem estraga (sabe o preço que se paga),
nem sequer tem tempo pra sair,
falando mal da vida alheia, ali, rogando praga,
numa tarde assim, à toa, batendo pernas por aí.

Me incomoda gente que se acha mais
que um antigo 10, lá da Vila Belmiro,
Mas, se olharmos bem de perto,
não dá nem para ser gandula lá da (rua) Javari
Mas, veja bem, não me refiro
ao fato de estarmos presos
a um destino escrito num papiro;
ora, eu batalho, eu me viro,
se o suor me permitir, eu, por conforto,
vou morar num itaim bibi (ou um morumbi...)

Se discordar dessa minha maneira de pensar,
meu caro, eu sugiro...
São Paulo é grande, mantenha distância!
Que tal dar um giro?! Não sabe de onde começar?!
Ah! Vá da Dutra até o Pari...


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ÁLBUNS DE FAMÍLIA
Ricardo Moreira

Eu lembro era tarde de chuva em visita à sacada
Eu lembro era um frio de cobertas... palavras cruzadas
Um tempo em que nem existiam sinais de wi-fi
E eu ouvia os velhos vinis que eu herdei de meu pai.

Talvez seja duro explicar aos com menos de 20...
A felicidade é simples dispensa o requinte.
a informação não chegava em meios digitais,
Mas, às vezes, pra tornar-se eterno, o menos é mais.

Não havia essas coisas de “selfie”,
“download” ou “dar print”,
as fotos com sorte eram vistas no dia seguinte.
O poder de se ver num papel nos fazia imortais...
Eu diria que é mesmo um presente olhar para trás.

Fica aqui registrado, meus queridos jovens ouvintes,
Não encarem esse arroubo de saudosismo um acinte
E, quem sabe, espalhem esta melodia... em corais
A canção se limita a querer recrutar uns iguais.


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ALÉM DE MIM
(Waldir da Fonseca e Ricardo Moreira)

Entenda o meu silêncio,
aprenda ouvir os quietos.
Decifre a esfinge,
que é minha tristeza
e, a cada não-palavra,
eu me convenço,
é o mais correto:
rancor não é assunto
que se leva à mesa.

Escute com carinho
o que eu jamais irei dizer,
restrinja-se, porém,
à superfície do meu ser.
Temendo ser tão franco,
eu fiz deixá-la
um livro em branco.
Além de mim,
não quero ver ninguém sofrer.


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ALEPPO
Ricardo Moreira

Sob escombros em Aleppo,
ao som das bombas mais potentes,
entre os mortos inocentes,
jaz o que eu tinha de fé.

Se é longe o que ora se definha,
um dia, a dor pode ser minha.
Não se fica indiferente
ante o fim que se avizinha.

A humanidade é um transeunte
dando Ibope a ladainha,
olhos fixos na telinha,
ali chupando um picolé (na Sé)...

Na imagem,
alguém range seus dentes
contra ladrões de galinha
enquanto genocidas se aplaudem de pé.


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ALI, HIENA
Ricardo Moreira

Olhe ali, hiena...
que, enquanto eu desvio a sua atenção,
num lugar longe da cena,
prossigo meus esquemas de corrupção.

Olhe ali, hiena...
Ri com toda essa carniça à sua disposição,
e eu fico livre da minha pena
e você ainda me trata como salvação.

Olhe ali, hiena...
Continue a sua hipnose, via televisão,
e vá chorar sua quinzena,
essa miséria eu desvio em uma só ligação.

Olhe ali, hiena!...
Ainda não dança a Macarena? Mas que decepção!!!
Siga em sua vida pequena...
Que aqui você perdeu, “mermão”


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AMARRANDO UM BODE
Ricardo Moreira

A ânsia para que chegue logo
a sexta-feira,
cega os olhos ao detalhe
de que a vida já passou
a semana inteira!
A cara amarrada e o mau humor
cedem o lugar a um sorriso tolo
e um brinde, então, é feito
com “champagne” vagabundo e bolo.
Esnobe, vives a dizer que acontece e que pode,
mas não conta que, para chegar a esse estágio,
o pedágio é ter de amarrar um tremendo bode,
ganhando a vida no que não gosta.
Achas tudo uma tremenda aposta
e só vence quem é malandro e arrisca...
Acreditas que um anzol brilhante e afiado
o espera embaixo dessa isca.

E continuas a dizer, mas desta vez:
Que pode e que acontece
e todas as semanas
têm uma quarta-feira de cinzas
aos domingos quando anoitece.

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AMOR DE POWERPOINT
Ricardo Moreira

Quero um amor com direito a bloqueios;
logo iria a tristeza para a quarentena;
a dor, para lixeira da caixa de e-mails...
Só a alegria se faria plena.

Um sentimento de HD infinito,
e direito a restaurações de sistema;
Ai, meu padinho Ciço... Ai, meu São Benedito...
Daria roteiro a se usar no cinema.

Quero um amor desses de Powerpoint
- com corações encantados crescendo na tela -
todo em preto e branco, com flores no campo,
com suspiros no parapeito da janela.

Em que ela está sempre a sorrir para ele;
ele abre a porta do carro para ela...
Naves, luz de velas e canções suaves...
E, na hora do êxtase, a imagem congela!


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aMOR eTErno
(Sonekkka e Ricardo Moreira)

O amor dos dois era mais forte
do que a marca de um carimbo
que acabou de se molhar na tinta.
Um, o aperitivo e o prato;
o outro, a fera faminta.
Ela, tremenda gata.
Ele, até que "boa pinta"...

Com o tempo e o assédio externo,
não se empenham mais na finta,
ambos dormem desconfiados,
de que o outro também minta.
Ele sempre embriagado,
E é "´onde´ ela entra na cinta".

Pra ela, ele nem passa perfume.
Pra ele, ela nem o rosto pinta.
Os dois morrem de desgosto
e nenhum passou dos trinta.


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AMPULHETA
Ricardo Moreira

Um segundo durou nosso olhar,
alguns minutos pra eu te conhecer,
algumas horas pra me apaixonar,
alguns dias desfrutando do prazer

Em algumas semanas, comecei a pensar,
levei meses para tentar te entender...
Depois de alguns anos, constituindo um lar,
só o que restou foi tempo de me arrepender!!!

Durante anos, pensei nunca amar,
por raras vezes, cheguei até a crer...
Por várias semanas, teimava em chorar,
por alguns dias, só queria beber.

Por horas, deixei você a me esperar
Por minutos, ouvi você me ofender.
Não resisti ver você reclamar
Em poucos segundos pus tudo a perder!


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ANAMNESE
(iguais perante a lei)
Ricardo Moreira

Seu doutor, por piedade,
sou a sociedade
e sinto algo estranho.

Pra onde olho, tem grade,
E barreira, e muro,
e aumentando o tamanho.

Diz se o que eu tenho é grave,
é gás, é blindado,
sempre que eu me assanho.

Isso é lá liberdade?
Viver sitiado?
Ora, vai tomar banho!!!

Seguranças pretos
que protegem os Vips
das festas daqui,
barrados por pretos
que são seguranças
dos Vips dali...

Dalí


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ÂNGULOS DE VISÃO
(visões distintas de um mesmo espetáculo...)

Quem só usa o rio pra navegar;
nas cachoeiras, vê motivos pra lamento.
Quem não usa a terra pra plantar
vibra quando vê chão de cimento.

Há velas que usam o vento pra se impulsionar
e há velas que se apagam com o mesmo vento...
a quem é íntimo, o mar nem se faz notar
e há quem transforme o ver o mar em um evento.

Toda paixão tem sua canção a ilustrar;
canção, que para outro alguém traz sofrimento.
Tudo no mundo tem várias maneiras de se enxergar,
e atrás de cada olhar há sempre um sentimento.


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ANGÚSTIA DE CAROÇO
(Márcio Policastro e Ricardo Moreira)

Que nesta angústia tem caroço,
sei hardcore e salteado...
Meu mundo que não era insosso,
ultimamente tem ficado.

Lambendo as carnes de pescoço,
eu vou contando os meus trocados
sem sorte no amor nem tem jogo,
em meio a um fogo cruzado

Nem o segredo de Fátima,
a moral das fábulas,
nem o apito da fábrica de tecido
me levantam do sofá,
onde eu me vejo reduzido...

Palavras machucam mais,
do que a perfuração de um tiro
Mas sei, hei de ficar em paz,
aliás, só dói quando eu respiro


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ANSEIOS
Ricardo Moreira

Não quero o vazio, o vulgar e o feio.
Quero vagar no desejo que enrijece o teu seio!
Não quero um rio transbordando de cheio...
Quero, no mínimo, mil horas de recreio!

Não aspiro a alguma espécie de espera áspera
E, se tiver de ser, que seja, se possível,
tão curta quanto a perna da mentira!
Quero passar uma régua na mágoa...na ira;
algo doce na língua,
...uma água no rosto.
Quero uma trégua de todo gosto amargo!!!

Não quero um “sim” dito com receio,
quero que por um fio funcione o freio!
Não desejo chorar por quem partiu,
mas fazer um brinde a quem veio!!!

... Um fim que justifique o meio!!!

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ANTES QUE O SANGUE DERRAME, AME
Ricardo Moreira

Quero de volta o Brasil
“lindo e trigueiro” de Ary Barroso.
O Brasil “mistura”
lindamente retratado
por Darcy Ribeiro.

Não este, inconcebível,
em que um faz discurso perigoso...
o que transforma o outro em raivoso.
Um acusando que o outro
provocou primeiro.

Competição, pra mim,
só Garantido versus Caprichoso.
´Tá insuportável o clima
de “farinha é pouca,
meu pirão primeiro”.

"Please", bote no papel
o que lhe destinaram,
ao desfrutar do gozo.
Verá que a farra é nos palácios
e a briga é cá no galinheiro.

Sei que é difícil
se o juiz é parcial; e o jornal, maldoso...
Que uma TV ligada
influencia a opinião
de um povo inteiro.

Só que é daqui para pior
num clima dividido e belicoso,
se na eleição se escolhe
quem na propaganda
gasta mais dinheiro.


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AO VIOLÃO
Ricardo Moreira

Seis pistas que me levam
a compreender melhor o mundo
e eu que, outrora, por tua causa,
fui chamado ¨vagabundo¨.

Se barreiras enfrentei
até conquistar teu corpo,
garanto hoje, ao teu lado,
meu conforto.

Dizendo assim de forma séria
ou em tom de brincadeira...
Ah... tuas formas de mulher,
o som que sai da sua madeira

Nas rodas com amigos,
salvas noites sem assunto.
Às tardes de domingo,
só, ou mesmo em conjunto

Transforma a minha vida
numa doce ilusão.
Recebe essa canção,
como homenagem, Violão


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APRESENTANDO BRASÍLIA AOS NOVATOS
(Orwell, Orwell... Quem diria)

Os animais contentam-se com migalhas,
nossa ambição não pode apresentar falhas.
Pense bem! Mudar tudo agora
é injusto com as cabeças grisalhas...

É adorável
que a falta de cultura
impeça as criaturas
de enxergarem as muralhas.

Deixe que um ou outro
nos chame de “canalhas”...
Mudamos as escrituras:

“Água mole em pedra dura...”
Nós ficamos com o luxo e a gentalha
é quem paga a fatura.


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AQUI, ALI E EM TODO LUGAR
Ricardo Moreira

Não, meu irmão...
O demônio não cheira a enxofre,
é sem chifre, não leva um tridente.
A imagem do inferno vai te surpreender,
é muito diferente.
Pode até ser um templo,
idêntico a espaços de boa intenção.

Ah, o inferno é cheinho de gente,
e com um cara de terno puxando a oração,
e sugando o presente de gente carente,
e prometendo a prosperidade e a salvação.

Não, meu irmão...
Se há um elogio a tecer ao tinhoso,
é que é inteligente.
A imagem do inferno vai te surpreender,
é muito diferente.

Errou quem jurava ser um lugar quente
com fogo saindo do chão,
e um cara que, ao se olhar com a atenção,
está mais pra gerente,

que jura defender igualmente
a palavra do Onipresente,
porém dando outra interpretação,
visando somente a tirar seu tostão.

Ampliando a visão,
o inferno se esconde
em garrafas cheias de aguardente
e o diabo a empurrá-las
detrás de um balcão...
Em versão digital,
este monopoliza o olhar
para o que traz em sua lente,
ele não perde tempo
amassando o seu pão

O inferno pode ser uma estação de metrô
antes do expediente...
ou a fúria da torcida quebrando um portão
Você pode trazer fragmentos do inferno
no bolso da frente,
É esse mesmo... com cara, coroa e cifrão.



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ARQUITERNURA
Ricardo Moreira

Dividiremos o mesmo teto,
assim que conseguirmos
um pedaço de chão.
Construiremos quartos
com paredes de afeto,
e um revestimento que preserve a ilusão.

Cortinas entreabertas,
um cenário completo...
Luz cênica e um tapete
em forma de coração.
Nem mesmo algum olhar bisbilhoteiro/indiscreto
transforma-se em motivo de preocupação.

Quem se sente flutuando em uma nuvem,
ainda que pise o concreto,
mete o sorvete na testa
no meio da festa
ou vive uma intensa paixão.


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ARREPERDA-SE
(Alexandre Lemos e Ricardo Moreira)

Perceberá, ao frio, a falta que faz uma blusa...
e uma caneta, à urgência de um recado;
as provas, no exato instante em que acusa;
o carimbo e a assinatura, no atestado.

Padecerá, feito um poeta sem a musa
e um terrorista sem a bomba, no atentado;
feito a freguesa sem saber se é quilo ou dúzia
feito um cassino sem roleta, carta e dado.

E só após notar-se assim tonta e confusa,
feito a vaidosa sem espelho, ao penteado,
clamará que algum resgate, então, traduza
o seu sinal de fumaça desesperado.

Caso prefira, volte, pois nunca é intrusa,
se a vergonha impedir, mande algo gravado,
sugerindo que a gente reconduza,
nossos destinos, para sempre, lado a lado.


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ARS LONGA, VITA BREVIS
Ricardo Moreira

Por favor, avalie o artista
pela sua arte, não pela entrevista.
A arte é a parte que fica...
Olhe o exemplo de Pablo Picasso e a sua Guernica.

Dizia o velho guerreiro, Chacrinha,
“Se trumbica aquele que não se comunica”,
mas artista, às vezes, expondo o seu ponto de vista
até se complica...

Por favor, releve a foto do artista,
flagrado no Leblon ou em plena Paulista,
Se queres saber, fica a dica:
nem sempre é verdade o que se publica.

Artista não é produzido em linha.
É “celebridade”, isso que se fabrica.
Só serve pra vender revista
e, espremendo, espremendo, espremendo...
o que é mesmo o que fica?


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ARTE PASSARINHO
Ricardo Moreira

Houve um poeta
que a todos jurava ouvir as estrelas,
e ele ia além e dizia:
“Amai para entendê-las”,

Já o compositor
convence até quem tem os pés no chão,
pois dá a voz ao som do sol
que existe no braço do seu violão.

Houve um pintor
que usou seus pincéis pra ilustrar as mazelas,
mas veio a padecer sob as tintas
que usava nas telas.

Já o compositor
só expõe sua guerra e sua paz na canção
e para isso usa a química
que ele extrai da própria emoção.

Houve um escultor
que das chagas barrocas fez peças tão belas.
Seus afrescos são vistos
por quem se desloca às capelas.

Já o compositor
reparte sua arte com a multidão,
pois sua música voa
e, não raro, repousa em algum coração.


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ARTISTA AVULSO
(Márcio Policastro e Ricardo Moreira)

Eu era um artista independente,
mas de tanto que se usa o rótulo indevidamente,
eu decidi sair pela porta da frente,
antes de ter de ir embora, expulso.

Podem me chamar agora,
de “artista avulso”.

Artista avulso, e nem por isso diferente,
não canto merengue em esperanto, ou russo,
gosto de estar rodeado de gente,
principalmente se é dar impulso.

Já quis ser descoberto, inocente...
Saco hoje “espertos” só pelo discurso.
Descobridores que me vêm à mente,
somente o Cabral, o Colombo e o Vespúcio.


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ATALHO
Ricardo Moreira

Eu, parado feito um poste,
e os melhores postos
todos em poder de imbecis.
Eu, sentadinho no assento,
contando os pingos nos is...

Cheio de boa intenção
e de santo ninguém tem é nada,
será que esconderam o atalho
e ensinaram o caminho mais longo,
o que vai pela escada...

Esperar, esperar, esperar...
é só isso o que eu faço com habilidade
Espero agora que não seja tarde,
pra deixar de ser tão covarde.

Jogando baralho,
foi que minha ficha caiu,
Na verdade, não existe atalho,
e eu devia entrar pela porta,
onde se lê, ao longe, a palavra ¨trabalho¨.

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AUTOAJUDA
Ricardo Moreira

Para quem nasceu com a convicção de ser poeira,
qualquer cílio pode se tornar um empecilho!
Quem se esconde sob a casca não estoura,
...é sempre milho!
É rasteiro,
atropelado pela vida feito um trilho!

E vai sozinho se prender a uma corrente,
ali rente e indiferente
(no que diz respeito ao que é breu e o que é brilho!).
Nunca age imponente quanto um pai.
É covarde, é inseguro...
É eternamente o filho!

Quem não engata nem segunda
nada sabe dos domingos
e joga as sextas nos cestos de lixo
junto aos sábados... dormindo


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AUTÓGRAFO DE DEUS
Ricardo Moreira

Só procura quem ainda não achou.
Quem já achou, eu acho, não procura mais.
Quem já achou passa a viver a vida em paz.
Esquece o que sofreu, pois já ficou pra trás.

O amor é a mais saudável das loucuras.
É a estrutura que faz frente aos vendavais.
Se um coração que se rasgou, ele costura,
é impossível saber do que ele é capaz!

Só procura quem ainda não achou.
Quem já achou, eu acho, não procura mais.
Quem já achou não tem “porém”, “contudo” ou “mas”.
Só tem a agradecer o que a vida lhe traz...

Criado o mundo, Deus o fez de assinatura.
O Amor nos emociona com coisas banais.
A imperfeição se torna linda escultura.
Se não achou o seu, meu caro, corra atrás!


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AZULEJO E REJUNTE
Ricardo Moreira

Há quem enxergue
naquilo que é feio um charme.
Questão de gosto,
não cabe nem discussão.
Há quem se orgulhe em rechear
com volantes de desarme
até o meio-campo da Seleção.

Não vou dizer aqui
o que chega a cativar-me,
nem qual seria a derradeira opção,
mas, se tem quem vota em político por charme,
nada mais tem 100% de rejeição.

Cada panela tem sua tampa,
se existisse mesmo a lâmpada
ativada à fricção,
assustar-nos-íamos
com muito mais escolhas
que as do Ipec e o Datafolha
em período de eleição


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BALAIO DE GATOS
Ricardo Moreira

Na ausência de um bom motivo,
recheei de citações as linhas...
Por achar tão pouco criativo,
descartei feito ervas daninhas...

Pus o amor, a flor e o sorriso,
a sinhá que não quer batuque na cozinha,
a porta do Arnesto sem qualquer aviso,
um outro homem a cruzar a vida de Terezinha...

As águas refletindo o rosto de Narciso
O lobo tomando o lugar da vovozinha
O sol que há de brilhar no derradeiro juízo,
Iluminando o biquíni amarelinho, cheio de bolinha...

Na ausência de um bom motivo,
recheei de citações as linhas...
Por achar tão pouco criativo,
descartei feito ervas daninhas...

Disse do saber viver, tão precioso e preciso,
passei horas vendo a galinha pintadinha...
Comparei céu de Brasília ao que enfeita o paraíso,
pus a estrela do PT, que é tão bonitinha

E entre os casos pensados e mero improviso,
não criei uma frase sequer que fosse minha...
Fui do ourives das palavras, ao Raul "messias indeciso",
à moça que acha que não dói só um tapinha...

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BALBÚRDIA
Ricardo Moreira

"O que os serventes lucrariam ao ler Cervantes?"
"E o operador de plotter, se exposto a Platão?"
"Lá no balcão, quem se interessa por Bacantes?"
"E o risco de Confúcio causar confusão?"

"Eu me preocupo é com nióbio e com alqueire,
e vêm vocês com Paulo Freire, com Filosofia e Arte,
que a meu ver não levam a parte alguma.
Que emprego que arruma
quem fica lendo Descartes?"

"Impeçam o segurança de ler Sagarana!"
"Exaltem Médici em vez de Arquimedes!"
"Só se pode estudar se vai dar grana!"
"E, antes de buscar um ofício, corte os dreads"

"Eu me preocupo é com nióbio e com alqueire,
e vêm vocês com Paulo Freire, com Filosofia e Arte,
Por que não deixam logo de bobagem e arrumam
uma bíblia pra uma mão
e, para outra, um bacamarte"


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BALDEAÇÃO
Ricardo Moreira

Mão de obra rasa, ela encontrou a Luz enfim...
Tomara, siga o seu destino em paz.
Não foi o que viveu partindo de Artur Alvim,
trocando de composição no Brás.

A cada estação, um vendedor de amendoim
(“Seis pacotinhos por quatro reais”)
suplantava o fone de ouvido, recentemente adquirido,
de um outro ambulante logo atrás.

Sem sinal na rádio, e a Internet tão ruim,
e um troglodita lhe esfregando os genitais...
tem hora em que só recorrendo ao senhor do Bonfim
ou reforçando as doses de florais...

... para transformar os cheiros de suor no de jasmim;
e ver atitudes bem mais racionais.
Por sorte, hoje o drama já era ou, mais tarde, sentido Itaquera,
a história se repita um pouco mais.


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BALUARTE
Ricardo Moreira

Botou sua calça mostarda,
paletó de linho, chapéu panamá...
Como acabamento da “farda”,
um “pisante” que acabou de se engraxar.

Não caminhou nem trinta jardas,
chegou ao pagode e sentou no sofá.
Mirava, de lá, a “retaguarda”
das moças que estavam na pista do bar.

Intimado a exibir-se do palco,
sambista de estirpe jamais se acovarda...
Ele faz do batuque a razão de existir.
Pense em quem se arrepia ao som da velha guarda.


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BANDIDOS "VIVOS"
Ricardo Moreira

Sei que você quer ver
morando na Granja do Torto
o cara que diz que “bandido bom,
é bandido morto”

Só que o cara vive junto
de quem já levou mesada,
e de quem faz fisiologismo
por boquinha na Esplanada.

Sei que você quer ver
morando na Granja do Torto
o cara que diz que “bandido bom,
é bandido morto”...

Mas que, de tempos em tempos,
é flagrado em palanques
com quem utiliza templos
com a mesma função dos tanques.

Sei que você quer dar-lhe
razoável temporada,
podendo optar
pelo Palácio da Alvorada.

Cuidado com quem rosna sob a luz,
mas, na calada,
“explode” uns caixas eletrônicos
em uma só jogada.

Sei que você até promove a Deus
quem jura ser representante da família,
mas que, de forma simultânea, ri na foto se um dos seus
é o responsável por manter uma quadrilha.

Sei que você quer ver
morando na Granja do Torto
o cara que diz que “bandido bom,
é bandido morto”

... e que promete “devolver
o paraíso que era antes”,
quando os praças se humilhavam
ante os seus comandantes.

Que acha absurdo
dar o que é do almirante a um cadete,
“Antes!!! Antes!!!”
Retornemos ao Catete!


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BANQUETE
Ricardo Moreira

A festa é paga por você
e só pra isso você presta.
Se você não for do buffet,
não tem acesso nem por frestas.

“Melhor assim.
Só pode questionar quem vê...
A portas fechadas,
crê-se que há só ´gente honesta´”

Soa um clichê,
mas, se sobrar um canapé ou algum suflê,
quem sabe até se dê aos porcos o que resta.

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BATOM NO COLARINHO
Ricardo Moreira

Quando lábios de outra mulher
surgem brilhando, em vermelho,
na gola da camisa,
não há álibi que alivie a barra,
aliás, em cartilha de malandro,
a esposa é a primeira a fazer a pesquisa!!!

As traças estragaram o tecido da cortina,
e os cupins o pau do parapeito,
se a casa, por chorar sua ausência, está assim,
imagina ao coração, o estrago que foi feito!!!

Foi-se embora o céu azul, veio neblina,
procurei em outro batom,
carinho e respeito.
Mas, se, entre o prazer instantâneo
e uma cilada, a linha é fina,
o portal da estrada que leva
a um amor duradouro é estreito!!!


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BELLE EPÓXI
Ricardo Moreira

Por favor, será que alguém pode me situar?
Uma noção qualquer sobre o horário?!...
Volto de um mergulho no universo literário,
porém, se disser que solitário, minto:
Eu estava com garrafas de absinto.

Tentando juntar fragmentos da Belle Epòque,
nesses tempos em que o verso anda extinto
Talvez digam que isso já “não cole”
- e esteja mais pra “belle epóxi” -
e que eu seja mais sucinto.

Sem fio da meada e perdido no labirinto,
em busca de um fim para o meu texto a todo custo.
Eis que eu voltei com tudo pronto a este recinto...
o telefone me trouxe à real com um susto,
Dar parceria a quem ligou é só o justo.


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BENFAZEJO
Ricardo Moreira

Houve quem achasse um tanto estranho
o agir daquele cidadão
a poucos metros da esquina...
Ovelha que destoa do rebanho
ou flor que nasce junto a escombros
de uma ética em ruínas.

Abria mão de quase todo ganho
e, benfazejo, construía em caridade sua rotina,
sem olhar pra origem ou tamanho e sem julgar,
como é de praxe no horror que se dissemina.

O amanhã não importa, tampouco o antanho...
Espalha a paz, conserta o hoje,
as ruas são sua oficina.
Dá pão ao faminto; dá ao sujo o banho
e, aos enfermos, ele proporciona a vacina.


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BILIONARIOFOBIA
Ricardo Moreira

Vive por aí dizendo
que trata todo mundo com igualdade,
mas nunca o vi dando "Bom dia" a um bilionário.
Em teoria, faz "discurso palestrinha" de humildade;
na prática, o que se percebe é o contrário.

Esnoba todo restaurante chique da cidade,
fica fechado em seu mundinho operário.
Insiste em pôr a culpa nos muros e grades,
itens, que, nas ilhas, nem compõem o cenário.

Fica raivoso ao criticar toda iniquidade,
sem ver o quanto sofre um latifundiário.
E é até pecado invejar quem tem prosperidade,
sobrevivendo quase com o que é necessário.

E, pra viver em sociedade, é bom ter claro:
O que seria do malandro, não existisse o otário?


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BLUES ALEGRE
Ricardo Moreira

Às vezes eu penso
que estar alegre
enquanto canto um blues
é um contrassenso.

Mas repito, num mantra,
“that I´m feeling good”
E então me convenço:
lanço a mão de um lenço
se eu quero chorar!

Dispenso
qualquer sensação
de fracasso ou derrota...
eu dispenso.

Meu blues traz alívio
em todas suas notas
se eu quero chorar,
ora, eu fico em silêncio.


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BOAS FORMAS
(Renê de França e Ricardo Moreira)

Quem sabe a diferença
entre o retângulo e o quadrado?
É que o quadrado tem a mesma altura,
em pé ou deitado.

O retângulo é da forma da lousa,
mas seu nome nos lembra o losango,
que é outra forma que surgiu...
e se você não sabe o que é...
é a parte amarela da bandeira do Brasil.

Epa!... Olha um círculo, descendo a ladeira!
É um bambolê que da cintura caiu,
junto a dois outros que o mesmo fizeram,
se transformam nos três zeros do número mil.

O triângulo é a gola da camisa,
a ponta da seta que avisa a exata direção;
se estiver com uma das pontas voltadas para cima,
fere o pé de quem não olha para o chão

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BOCA RATON
... As coisas que me tiram o sono
(Márcio Policastro e Ricardo Moreira)

Hoje, eu não sei se volto à Disney
- ir ver a Minnie -
Se eu vou à Costa Amalfitana
ou Santorini.
Mas, pra evitar que alguém,
ao ver-me em um Porsche, discrimine...
eu vou sair com minha Ferrari ou a Lamborghini.

O mais difícil é encontrar
algum Rolex que combine
com o terno Armani
que eu comprei agora há pouco...

Imagine fazer isso
rodeado de modelos de biquíni...
Todas me deixando louco.


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BOLETIM DE OCORRÊNCIA
(Alexandre Lemos e Ricardo Moreira)

Um homem, fortemente amado,
saiu roubando flores pela madrugada.
Rendendo uma balconista,
com um papo de “morrer de amores”,
por sua esposa, eterna namorada...

Na pressa, ele acabou deixando pistas,
e o circuito de vídeo registrou a ação.
O prejuízo à razão do sujeito
ainda não foi calculado,
mas, coisa de apaixonado,
seu jeito de andar é de quem não tem chão.

Capturada, a cúmplice confessa,
demonstrou-se então correspondida,
disse que só entrou pra essa vida,
por não poder viver sem seu amado.

Mesmo com provas
de um amor tão evidente,
O caso foi devidamente arquivado,
mas há quem jure que o casal foi visto
se beijando até no retrato falado.

Seo Evaristo, doutor delegado,
até por Cristo ele tem jurado
que o casal foi visto
se beijando até no retrato falado.


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BONSAI
(Sonekka e Ricardo Moreira)

Achava que só sorriria
com o choro de alguém do meu lado,
se fosse esse choro,
o choro de alguém por mim derrotado
Hoje comprovei que eu estava
redondamente enganado
sorri vendo o choro do meu filho
ao mundo sendo apresentado...

E logo após a disputa por mãe e por pai,
com sua delicadeza de um frágil bonsai...
deixando ambos sem chão
como um preciso samurai

É um filme que em poucos segundos
passa na nossa cabeça,
e a gente meio sem cabeça
nem presta atenção.
É um mundo que gira ligeiro
de ponta-cabeça.
e o mundo, tomara...
que nunca saia dessa posição

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BREGA E CHIQUE
Ricardo Moreira

Folclore é "coisa de terceiro mundo",
mas a troca da guarda da rainha é ¨tradição¨,
Festa de quadrilha é um negócio ¨quadrado¨,
porém a parada de 4 de julho é a tal.

Pegar um bronze na praia é programa de índio,
esquiar em Aspen é o que há de atual.
Eu canto em inglês, pois quero o mundo me ouvindo
jazz, rock, soul, funk, blues e reggae.

Não sei se estou por dentro ou por fora,
não sei se estou bem ou estou mal...
Não sei se meus modos agradam
aos homens que mandam no mundo da moda

Don´t Know if I´ve been up or down

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BRUXA
Ricardo Moreira

Eu, escravo da tua conversa,
nem previ ser um aviso
teu vício por vídeos de vilãs,
das mais perversas.

Cavei minha própria cova,
ao cair nessa nova
versão do canto da sereia.
Ainda vejo as marcas da sova,
em que a vassoura, na qual você voa,
arrebentou minhas veias.

Teu convite ao calvário
já era previsto
e, de forma alguma, foi à toa...

(E eu que me jurava “vacinado”
ao descobrir que eram o vigário e o vigarista
a mesma pessoa...
)

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BURACO
(Sonekka e Ricardo Moreira)

Moro bem.
E, apesar das goteiras,
não venha você dar pitaco,
chamar de barraco.
Tudo bem! Endereço não tem,
até deixo você chamar de “buraco”.


Lá o samba é sem preguiça
e quem faz segurança é o próprio malaco.
No boteco, a lei é uma só:
quem perde entrega o taco!

Nos domingos, com laje pra encher, livro o prato
Feijoada ou um bom churrasquinho “de gato”.
E aí quem nunca abusou do veneno,
não sabe o que é ver a “viola em caco”.

Sou da paz, mas se é pra defender o “buraco”,
não me agarro em barbado,
jamais eu me atraco... Só sopapo.
Se o figura tenta reagir,
eu chuto malandro no ponto fraco...

Pra quem é do sereno,
o conhaque é o casaco...

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CABEÇA DE BAGRE
Ricardo Moreira

Eis que a transmissão deu destaque
a um marmanjo barbado, perdido, chorando.
Lamentando o seu time sem craque,
derrotado sem fazer valer o seu mando

Não chorou nem a guerra no Iraque,
ou a falta de feijão com arroz vez em quando,
ou a menina afundada no crack,
ou a mulher que jogava calcinha pro Wando...

Se o filho firmou um casamento de araque,
e o moleque ´tá até separando...
Para essas coisas banais, um conhaque
“faz com que a gente vá se conformando”

Mas time sem defesa, meio-campo e ataque
“é como se o ar estivesse faltando”.

Eis que a transmissão deu destaque
a um marmanjo barbado, perdido, chorando.
Lamentando o seu time sem craque,
derrotado sem fazer valer o seu mando.

Não é por um conjunto de leis tão “mandrake”
ou que, em várias esferas, falta é comando...
Que hospital bonito só tem no Projac
e o que tem no seu bairro está é desabando...

Caso tenha algum piripaque,
É torcer que o resgate apareça voando
o jeito é recorrer novamente ao conhaque,
há uma caixa fechada, “tudo contrabando”

Mas time sem defesa, meio-campo e ataque
“é como se o ar estivesse faltando”



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CABEÇAS DE VENTO
(Candeia neles!)
Ricardo Moreira

Enquanto na TV se exibia
uma competição pra revelar talentos,
no meu computador, sozinho eu assistia
a um bom Nelson Cavaquinho e seu xará Sargento...

Nas regras do concurso, não se exigia
boa rima, ou sequer tocar um instrumento...
mas a boca com batom e boa fotogenia,
creio que eram alguns itens do regulamento...

Pensei na parte que aos velhos sambistas caberia
nesse malfadado mundo do entretenimento
certeza de que hoje nem nas portas passariam
ficariam ali barrados no estacionamento.

O assunto é sério,
por favor, não ria!
Se não chega a ser revolta,
é, vá lá, um lamento...
É a desconfiança de que existe sim um guia:
“Transforme multidões em cabeças-de-vento”


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CAÇAPA CANTADA
Ricardo Moreira

Dora diz sair pra ir a um "culto",
Ari, com isso, fica puto e resolve ir pro bar.
Eis que passam cinco ou seis minutos,
ele encontra um novo amigo pra partidas de bilhar.

Vence algumas delas, comemora;
bem mais íntimos agora,
sentam para conversar.
De repente, o papo esbarra em Dora;
enquanto fala, Ari chora e busca fotos pra mostrar.

Ele diz "Questões de fé eu nem discuto,
o que me causa estranheza é o jeito de ela se arrumar:
Sai com salto e vestidinho curto,
perfumada e maquiada... A meu ver, muito vulgar"

Ao que o outro, um tanto encabulado,
diz não ter nem argumento ou propriedade pra julgar.
Medo de dar uma "bola fora",
muda de assunto na hora e resolve desconversar.

É que o "deus" que a moça adora
é o rapaz com quem ele divide um espaço pra alugar.
Eles têm um trato em que um colabora,
dando voltas bairro afora se o outro vai namorar.


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CALCANHAR DE AQUILES
Ricardo Moreira

Sua vida é voar pelas pistas.
Só se vê o vulto, só se sente o vento.
Não para!... É o nosso recordista,
que, correndo, despista até o mais atento.

De onde será que ele veio?
De que barro?!... Qual ventre?!... Qual o meio?!...
Será que é de um outro planeta?!
Será que algum dia, tomou leite no seio?!...

Parece ter asas em seus tornozelos...
Campeão mundial em desmanchar cabelos...
Ele não se cansa, não tem concorrente,
ninguém o alcança, ninguém toma a sua frente.

Será que algum dia mostraram-lhe um freio?!
Quem disse que não, sei que acertou em cheio...
Será que também sente dor?!
De quantos cavalos será o seu motor?...

Será que é possível capturá-lo?...
Onde ele é capaz de chegar?
Será que o seu ponto fraco
está no calcanhar?!

(Canção feita como tentativa de integrar
a trilha sonora da novela "Os mutantes"- TV Record)



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CALMARIA
Ricardo Moreira

Uma tarde, após a tempestade,
esconde um desejo,
intensa vontade de amar;
as folhas que foram para o mar
e mesmo a natureza
se encarregou de recusar;

O sol colorindo as gotas num coqueiro,
a varanda e um colo, como travesseiro;
no rádio, o lamento de um violeiro;
seu cabelo molhado... seu cheiro!!!

Uma tarde, após a tempestade,
traz junto consigo
o que a gente quer de verdade:
alguns momentos de sossego,
sombra, água fresca e tranquilidade.

O sol colorindo as gotas num coqueiro,
a varanda e um colo, como travesseiro;
no rádio, o lamento de um violeiro;
seu cabelo molhado... Seu cheiro.


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CAMARILHA
Ricardo Moreira

Desonestos fazem isso e aquilo,
põem cem anos de sigilo
e ainda há quem os defenda.
Marcam encontros fora da agenda,
incrementam a própria renda
e ai de quem ousar puni-los.

Calculam propina em ouro... Em quilos,
Dão filé a seus pupilos;
acomodações, vivendas.
Vai custar para que o povo aprenda,
a história de ser "mito" é lenda.
(E é tanto o ódio que eu destilo).

Gastos com cartão corporativo,
compras com dinheiro vivo;
penso em "Queda da Bastilha".
Jamais vivi um período tão nocivo,
faltam mesmo adjetivos
pra se usar com tal quadrilha.

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CAMINHO EM VERSOS
Ricardo Moreira

Começa o espetáculo
o sol tinge um miniarco-íris
nas gotas de orvalho...
E eu vejo da veneziana
enquanto ouço a paz
no ranger do assoalho.

Retalhos de nuvem
me fazem pensar sobre o Autor
de tão belo trabalho...
A cômoda, a velha almofada
que me acompanhava
em tempos de pirralho.

Reflete timidamente,
no vidro em minha frente,
o cabelo grisalho.
Percorro, em minha mente,
um caminho em versos,
do rodapé ao cabeçalho.


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CANÇÃO DO AMOR FELIZ
Ricardo Moreira

As canções que eu nunca fiz de amor feliz,
se nunca as fiz, algo me diz,
que havia uma razão.

Um encaixe imperfeito entre perfis,
um "taco sem giz"...
Faltava um triz, é certo!
Uma real paixão!

Subia a escadaria da Matriz (on my knees!...)
Riam guris em meio à minha oração...

Buscava em folhas dos gibis,
rodava o país,
e a “inspiração” que eu sempre quis
estava ali ao alcance das mãos...

Bastava-me atenção,
por isso, junto desta singela canção,
ao meu amor, feliz,
dou de presente o coração.

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CANTO DE REFLEXÃO
Ricardo Moreira

Beira de rio,
milhões de estrelas,
cheiro de mato
e um violão.

Lua crescente,
o som da nascente,
a paz inspirando a canção.

Fruto fresco no cacho...
Ah, como eu me encaixo
nessa mansidão.

Fogão de lenha,
a janta no tacho,
tempero apanhado no chão.

Beira de rio,
varanda
e um facho de luz
vindo de um lampião.

Brisa leve em minha face,
como se o Criador
me acarinhasse.

Rede armada
debaixo da copa
de um imenso pé de jambolão.

E a pessoa amada, ao lado,
de alma lavada em paixão.


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CAOS CRIATIVO
Ricardo Moreira

A despeito da velha caneta
e da folha amassada
- e crianças gritando, fazendo algazarra -,
foi nesse cenário que a canção nasceu.

A inspiração é xereta
e, vasculhando o nada,
vê além dos muros sem usar escadas,
faz suas colheitas no mais puro breu.

...

A despeito da velha caneta,
na folha amassada
- carente de base e apoiada à almofada -,
eu registro quimeras com mãos de Morfeu.

Atirem-me ao caos,
que passo a imaginar revoadas,
nascentes de rio margeando estradas...
Posso até sentir a presença de Deus.


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CAOS PROGRAMADO
Ricardo Moreira

Que tenhamos paciência de Jó
com esse monte de Judas
que instauram um caos no país,
como a tomar café.

Esses que só depois de algum tempo
- e com letras miúdas -
revelam suas tramas perversas
em notinhas de rodapé.

Imagino barrigas salientes
saltando por sobre as bermudas,
requentando o ambiente
para as “Velhinhas de Taubaté”,
visando somente engordar
contas já bem polpudas...
Criando esse “Deus nos acuda”,
propício para os mercadores da fé.


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CAPITÃO DO MATO
Ricardo Moreira

Afrânio preferia a morte
a permanecer na vida comezinha,
invejava o requinte dos bailes da corte
que ouvia ecoar na cozinha.

Não revelou nem a um consorte,
aliou-se ao "sinhô" já pela manhãzinha...
como quem, pra sentir-se forte,
mostra simpatia a quem o espezinha.

E assim se sucedeu,
numa espécie de pacto...
Afrânio, a partir desse dia,
tornou-se capitão do mato.

E assim se sucedeu,
nem fizeram contrato...
Afrânio pensou pertencer à nobreza
a partir desse fato.

E assim se sucedeu,
nem fizeram contrato...
Afrânio afirma não haver preconceito,
e que esse papo é chato.


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CARAPUÇAS
(Márcio Policastro e Ricardo Moreira)

Às vezes visto carapuças
ou penso que querem me ter pra Cristo,
E, no fim, nem me isolam ou expulsam,
eliás, mal sabem que existo...

Talvez seja postura de quem vê conflito
até entre o corte e a costura,
o contigo e a fissura,
o acessível e o restrito...

Quem mandou ler as regras
só quando já é tarde,
mas antes assim,
a um omisso, ou covarde...

Se dizem que “de tudo se tira um proveito”,
Eu disse “Dizem”... Não sei?!...
Em terra de cego, eu também tenho um olho
E agora? Onde foi que errei?


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CARINHO DE VIZINHO
Ricardo Moreira

Ele olha a esposa
com tanto carinho,
que nem parece marido,
parece vizinho.

Você precisa ver
o jeito que ele olha
o jeito que ela anda...
É como se observasse
as menininhas do bairro
pela varanda.

Vive a dar presentes,
manda flores, dá jóia,
sapato e saia...
Só tem olhos pra ela,
mesmo num dia
de imenso calor na praia.


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CARNE E OSSO
(Diomar Rodrigues e Ricardo Moreira)

Se é só carne e osso,
não há lágrimas...
não há sentimento!
Se é sem sentimento,
não há calor,
não há emoção!

Se é sem emoção,
não há amor...
não há a vida!!!
Se é duro, é frágil,
como o vidro que se quebra...
e se é quebrado, é inútil
como palavras ao vento!!!
Se é ventania, é sonho,
como um pensamento no tempo.


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CARROÇAS VAZIAS
Ricardo Moreira

Explicando o meu querer a quem não quer,
falando a ouvidos que não ouvem,
talvez só vou adquirir na língua uma *L.E.R.
e prevalecerá a versão, não o que houve.

Com trator e escavadeira a dispor, foi a colher
o instrumento que optou quando do estudo
e hoje, em meio a clichês,
para não soar como um qualquer,
rosna para disfarçar falta de conteúdo.

Feito um chihuahua no portão, é tão valente;
fazendo de escudo o senso comum, a multidão...
Muito mais fácil é alinhar-se
ao velho coro dos contentes
do que elaborar a própria opinião...

L.E.R.= Lesão por esforços repetitivos


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CARTA ANEXA
Ricardo Moreira

Venho por meio desta
requerer certa esperança.
Alguém aí me empresta...
Eu vi gritarem por mudança
- e até entrei na dança -
não esperava tanto rato
sair pela fresta
(e ocupar o trono)

Venho por meio desta
declarar-me estupefato
com a cara de pau.
Deram sonífero para o gato?
Ou 10% do contrato?
e tanta gente "inteligente"
achando ser normal.

Venho por meio desta
registrar o inconformismo
e o asco por vocês.
Sei que o que penso ou falo é indiferente
a quem acha inconveniente até as leis.

Venho por meio desta
demonstrar-me temeroso
com o que vem à frente.
Só o que resta é despedir-me.

Atenciosamente,

Brasil, 30 de Agosto... 2016.


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CARTA FORA DO BARALHO
Ricardo Moreira

Ela cuidou da limpeza,
preparou o jantar,
espalhou velas sobre a mesa
e flores para enfeitar

Quis fazer uma surpresa,
Decidiu impressionar
Tinha quase certeza
De como a noite iria terminar

Vestiu-se como princesa,
pôs-se a se perfumar,
botou uma lingerie de tigresa,
que ele até poderia rasgar...

Ele chegou embriagado do trabalho
Chamou-lhe por nome de outra: um ato-falho
E se agrediram, e se ofenderam...
Em respeito a ouvidos puros,
Deus me livre, eu nem detalho...

Ele chegou embriagado do trabalho
E assim ela caiu das nuvens no assoalho...
Ela perdoa o paspalho?
Ou considera como uma carta fora do baralho?


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CARTÃO DE VISITAS
Ricardo Moreira

Chegou pra entrevista de emprego
estampando no peito o rosto do Seu Madruga.
Falou que ama a paz e o sossego
“envolver-se demais com o trabalho dá rugas”.

Trabalho, diz ele, “é fumaça que se empacota”,
“é gelo que se enxuga”.
Quanto a um chefe antigo,
o mais meigo dos predicativos foi de “sanguessuga”.

Chegou pra entrevista de emprego
estampando no peito o rosto do Seu Madruga.
Falou que ama a paz e o sossego
“envolver-se demais com o trabalho dá rugas”.

Foge do suor como o "herói"
ao cobrarem o valor da casa que ele aluga.
questionado de qual animal gostaria de ser se pudesse,
respondeu “tartaruga”.
Aí, não deu...


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CARTÃO POSTAL
Ricardo Moreira

Você brindou-me com sonhos,
valeu a pena esperar.
Sei que é muito o que lhe devo
e, por mais que isso me custe,
de uma forma muito justa,
morrerei tentando pagar...

Sinto que devo beijar-te,
beijar-te bem devagar
E te ter na mente ternamente.
Pra sempre te amar.

You can trust in me,
´cause all that I owe
I pay until I die
I wanna kiss you, slowly kiss you.
To make you happy until my last days.


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CASA GEMINADA
(Marfiza de França e Ricardo Moreira)

Há um casal que geme, geme e não é pouco
lá na casa geminada a que aluguei para morar
Os ruídos atravessam o reboco
e para eu dormir é um sufoco...
Ah... Eles amam namorar.

Há um casal que geme, geme, geme muito,
devem ter até um circuito
que precisam completar...
Por um tempo,
Achei que eu tinha um show gratuito,
mas não foi com esse intuito
que optei pelo lugar.

Quem vê de lá da rua a simetria
não faz ideia da fria,
como é difícil descansar.
Sem uma chance sequer de dar o troco,
não há pique nem tampouco
quem possa se interessar.


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CEGO EM TIRA-TEIMA
Ricardo Moreira

Sem você,
parece sempre faltar troco no meu caixa.
Parece que sofreu uma baixa meu batalhão.
Falta barbante para pendurar a faixa!...
Falta a marcha a me trazer maior tração!

A tampa, na panela, não encaixa!...
O tom abaixa e, aí, falta pulmão...
Falta em meu erro, feito a lápis, a borracha!...
Falta à minha vida, uma direção!

Sem você,
eu não me atrevo a trafegar próximo à jaula...
Falta pauta em fechamento de edição...
Na hora da avaliação, faltam-me aulas...
Saltam aos olhos a covardia e a indecisão!


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CENAS EXPLÍCITAS
Ricardo Moreira

Com esses olhos que a terra
um dia ainda há de comer,
eu vi um alcoviteiro se dizer conservador.

De tanto rir com o cafetão e sua audácia,
eu quase morro;
caso típico de rabo balançando o cachorro.

A hipocrisia, como dizem,
é igual a umbigo de vedete.
Assim como é explícito
o desprezo a toda lei;

Também pudera,
há muito lombo implorando cassetete,
e plebeu pedindo pra ser novamente
submisso a um rei.

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CENÁRIO PERFEITO
Ricardo Moreira

Corpos sob o sol,
um beijo à beira-mar...
Ondas se quebrando no rochedo
e uma canção pra embalar...
Brisa leve balançando
as folhas do arvoredo...
Cenário pra se amar...

Um beijo à beira-mar,
corpos sob o Sol...
Que é melhor a vida com amor,
não é segredo...
O amor faz chão flutuar...
Nos faz criança e a vida, um brinquedo...
O amor nos faz sonhar...


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CENTRÃO DE SP
Ricardo Moreira

No centro velho de São Paulo,
se encontra oferta para todo gosto;
mas, quem não vê de muito perto,
ou então só analisa o rosto,
pode comprar gato por lebre.

Se encontra quem conserta
o que eventualmente quebre,
chá que cura qualquer febre,
tem até quem tira encosto...

Arranha-céu
fazendo sombra em casebre
e, a qualquer hora,
tem sempre um lugar aberto
para um lanche, refeição completa
ou um simples tira-gosto.

E o mesmo instante é o “tarde”
para o baladeiro embriagado
e o “cedo” ao esportista
que acorda disposto!


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CERNE
Ricardo Moreira

Por mais que o requinte
requente o repente
ou um software dê cor ao cordel.
Por mais que se queira
embalar pra presente,
à essência é bastante o papel.

Por mais que a moldura
seja fluorescente,
é a pintura que ganha o troféu.
É a linha que vai pra costura
e isso não gera inveja
a nenhum carretel.

Por mais que a assistente de palco,
em seus poucos trajes,
faça carnaval,
improvável, na manhã seguinte,
que gere manchete
em algum jornal.

Por melhor que seja,
o vernissage é só meio,
o enredo do livro é o final.
A forma é coadjuvante
quando o conteúdo
é o ator principal.


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CHÁ DE CADEIRA
Ricardo Moreira

Passe aqui no guichê,
Que eu vou registrar seu crachá.
Tá vendo aquela atendente fazendo crochê?
Depois siga pra lá...

Sei que parece clichê,
Mas é sempre assim, não tem colher-de-chá...
Aliás, nem colher nem sachê,
Esse chá não acalma, não cura, não cheira...

Prepare-se para tomar
Um bom chá de cadeira.


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CHÁ DE CAMOMILA
(Marcos de Assis e Ricardo Moreira)

Quando a coisa se afunila,
uma sílaba mal colocada
ganha destaque, parece que brilha
Isso, em meio a uma trama,
que até aquele momento,
seguia tranquila

Para a vida é inútil desculpa
a vida sequer vai ouvi-la
Se, dando banana aos macacos
perder a sua vez
e isso te fizer voltar...
e começar tudo outra vez

Enfie a viola no saco.
Releia o capítulo um da apostila!
Paciência...
Há momentos em que é melhor ter paciência
muitas doses de suco de maracujá
e chá de camomila


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CHANTILI COM CARNE SECA
(Zé Terra e Ricardo Moreira)

Tudo tem o seu momento e mistura,
a forma válida, a cura,
ou seu modo mais fino...
Tudo tem seu complemento, cara pálida!
Para que a pressa? Até parece um menino?!...
Nem sempre compensa a prenda,
quando a argola abraça o pino!

Feito a banda, no coreto,
que não espera o padre, na capela, tocar o sino...
Vai que o rapaz do prato se atrapalha
e atropela o hino?!...

Certo estava o caboclo que dizia:
“Existem coisas que não dão liga,
misturar chantily com carne seca,
na certa, dá dor de barriga!!!”


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CHEIAS
Ricardo Moreira

Soubesse Deus
o sufoco que se passa
quando chega a chuva
aqui nessa selva de pedra.
Sábio, aqui, a chuva em excesso faria cessar...
Sábio, chuva em excesso, só faria chover
lá em cima no sertão...
onde sempre é deserto,
onde sempre é verão,
onde nada é tão perto,
onde arde o pé que toca o chão,
onde o futuro é incerto...
onde morre a plantação!


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CHEIRO DE FÉRIAS
Ricardo Moreira

Flores com cheiro de férias,
na casa da avó...
Avó com suas caras sérias...
de afeto... de dó!

Hoje, o quintal encolheu...
Quem era criança cresceu...
Lá onde eu reencontro,
o verdadeiro eu!

A bola que ia pro vizinho,
a cantoria no caminho...
A manga, o pé de pitanga...
A inesquecível farra,
num dia em que choveu.

O esmagar das uvas
pra fazer bom vinho,
da bela toada entoada ao pinho,
do brinquedo improvisado,
com um velho pneu!...

Depois do esconde-esconde
Ninguém mais se achou,
aquilo se perdeu!.


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CHURRASCO DE INTELECTUAIS
Ricardo Moreira

Eis que intelectuais se uniram em uma laje,
para um churrasquinho, feito os demais mortais,
porém, num canto, um recitava Bocage
e um resumia “À sombra dos laranjais”.

Em outra rodinha, outro contava a vantagem
dos assemblage sobre os varietais...
O churrasqueiro até escondeu o caldo Maggi
e passou a mentir sobre a origem dos sais.

Uma mulher falava da vernissage
em que falou com Vinícius de Moraes
e que jurou compor em sua homenagem,
e disse: “Ai, você, se todos fossem iguais”.

Festa avançava e então surgem as miragens,
e os papos vão de ménage a bonsais...
Taças de álcool em alta porcentagem
e, a essa hora, “Evidências” até vira Jazz.


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CICLOS DO MAINSTREAM
(A ascensão e a queda da canção)
Ricardo Moreira

Em grande parte, nasce de uma folha em branco,
que algumas letras tingem lhe dando um sentido...
Vira canção, faz excursões com saltimbancos,
depois que um violão coloca uns sustenidos.

Ganha um arranjo com toques de banjo e flauta,
dita a pauta dos cadernos culturais,
e aí cai nas graças, vai de febre entre internautas
a fundo musical que inspira alguns casais.

Ganha um arranjo com toques de banjo e flauta,
dita a pauta dos cadernos culturais,
telões, coreografias, luzes da ribalta,
fogos de artifício, orquestras e corais.

Mas, desde sempre, existe um ciclo: vida e morte.
(E hoje há um recorte de que isso é bem mais fugaz)
Ainda que um texto gere visto em passaporte;
Muito em breve não encontrará canais.

Se veio em busca de palavra que conforte,
peço que tome outro norte, volte casas pra trás...
Queridos jovens que me ouvem, tenham sorte,
mas notem que até Beethoven parou no caminhão de gás.


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CIRCU LAR
Ricardo Moreira

Experimente IR COm uma criança
ao CIRCO
aplaudIR COntorcionistas
se espantar com o faquIR, COmer pipoca
e sorrIR COm o talento dos artistas
Se o ilusionista pedIR COnte até três
Ele dividIR COrpo de mulher em dois,
Meu Deus, corram já pra impedir
Ué, como é que ela gruda
e ainda anda depois?

(...) Depois disso, um mico, faz bico,
piruetas, caretas, em cima da bola


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COLISEU CIBERNÉTICO
Ricardo Moreira

Havia um reino feliz
em que o onívoro
respeitava o vegano,
e o pé de cana convivia em paz
com o abstêmio.

Invariavelmente,
é chamado até de mentiroso,
hoje, aquele que diz:
“Sentavam-se ao lado
torcidas de Inter e Grêmio”

Dividiam a mesa
e até a sobremesa
o ateu e o proselitista,
o alienado, o ativista,
o todinho regrado e o boêmio.

Não se propagava esse ódio
às mulheres “machas”, nem aos homens “fêmeos”,
Jurava-se: “a plebe é feliz
ao limpar as latrinas de herdeiros de prêmios”.

Só que o calendário virou,
E com o passar desse novo milênio...
Sei lá que arsênio jogaram na água,
espalharam pelo oxigênio.

Deu-se voz a quem nunca opinou,
do preconceituoso ao ingênuo;
do senhor de engenho ao escravo...
Eureca!!! Notaram - o mundo é heterogêneo!


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COMO DIRIA JETHRO TULL
(Too old to rock and roll...)
Ricardo Moreira

Vejo um senhor na quitanda,
um roqueiro exibindo a camisa da banda.
Já desbotada após anos de submersão
no sabão de lavanda.

Dando a impressão de encolhida,
já que ele foi quem alterou suas medidas,
se equilibrando entre o sonho “easy ryder”
e a realidade da vida.

Em uma das mãos traz sacolas;
na outra, um neto a caminho da escola.
Puxa assunto com outro tiozão
com quem disse ter jogado bola.

Entre alfaces e inhames,
Sorriem lembrando os tempos de moleque
Ouvi reclamarem de exames
e que Guns´n Roses já é flash back.


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COMO UMA VELHA CANÇÃO
(Ari Reis e Ricardo Moreira)

A alegria de viver reside no poder
de espalhar bons sentimentos no ar
quem faz o bem, vê o bem voltar...

É morar de frente para o mar
não ter hora pra acordar,
ver pessoas brincando e sonhar...

Descansar à sombra de uma árvore,
como dizia a canção...
É seguir somente, o que manda coração!

Viver melhor o presente
e recordar no futuro um passado melhor
Enquanto criança, abusar das cores,
na juventude, de aventuras e amores
e jamais, jamais... deixar de cantar


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COMPOSITOR DE MPB
Ricardo Moreira

Tudo o que eu preciso,
é estar com o violão bem afinado.
E, pra isso, já comprei um aparelhinho,
que me ajuda a fazer...

E depois é só ficar
mexendo o dedo assim de lado,
e aí já posso até dizer:
sou um compositor de MPB

coloco um pouco de fermento
em qualquer papo furado
e cubro com muito glacê
Se Deus quiser, tenho um sucesso
ainda a ser solicitado
em casas de karaokê.

Posso até posar de injustiçado,
que “não me querem na TV”...
Invento um nome pro culpado,
e suas intenções de “não sei lá o quê?”

Passo olhar o mundo enviesado,
com um jeito assim meio blasé
orespondo até nem sendo questionado
que a seleção era melhor no tempo do Telê.

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CONCERTO DOS CONCEITOS
Ricardo Moreira

Ao promíscuo, o prazer é premissa;
ao peregrino, o pedal é a promessa;
ao ébrio, o hímen é de cortiça;
ao pescador, toda paz está anexa.

À cafetina, é nociva a noviça;
ao sovina, um centavo interessa;
ao vacilo, o vizinho é seu vice e assume;
sob sevícia, todo assassino confessa.

Aos farsantes, o progresso é postiço;
a tempo, todo torpe tropeça;
à grande massa, basta a superfície;
ao apito do hábito, a novena começa.


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CONDIÇÕES EM POSTAS
Ricardo Moreira

Se um dia você me deixar,
vou abraçar a solidão,
tomando vinho de São Roque,
ouvindo Ratos de Porão...

Se esse dia for no inverno,
vou chorar até o verão:
pisado, esparramado, humilhado,
feito um trapo de chão.

Se um dia você me deixar,
meu Deus! Nem sei o que será...
Eu, de patins, vou me arriscar
a descer o monte Serrat.

Eu vou plantando bananeira,
de São Paulo ao Ceará,
Pelado, exposto ao vento gelado,
vendo o mundo girar.

Porém, se ocorrer o contrário,
e você disser que fica,
dou um upgrade em meu armário,
passo a andar só na estica

Sorrirei, para fazer páreo
a qualquer fã do Tiririca.
De tão feliz, estranharei
até o choro de uma simples cuíca.

Se um dia você me disser
que quer viver sempre ao meu lado
e que ama ser minha mulher,
e vive em um mundo encantado

Eu passo a agir feito um tolo,
e, como todo apaixonado,
flutuarei, eu pisarei nas nuvens:
eis-me um homem alado



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CONFRONTO DE CLASSES
Ricardo Moreira

Oriundo da mais fina cepa,
Johnny defende a meritocracia,
Em seu caminho, flagra zé na xepa,
vasculhando seu sustento só para aquele dia.

Atrás dos vidros de seu SUV,
Johnny acha isso um absurdo (e zé “um preguiçoso”)...
zé, exposto aos raios UV,
suas rugas fazem com que se pareça mais idoso.

De um cenário de total conforto,
um comenta “andam a criar um confronto de classes”.
O outro nem percebe, de fome está morto,
em meio a sobras de pepinos, tomates e alfaces...

O mais triste de tudo:
zé é presa fácil, um coitado, um duro...
É massa de manobra!
O certo é: seria muito mais seguro,
estivesse ele vivendo em um ninho de cobras.

O mais triste de tudo:
zé é presa fácil, confia nas pessoas...
Não interpreta um texto!
Um simples agradinho e ele já tece loas.
zé veste perfeitamente é um bom cabresto.

Folheando a Forbes e a Isto é gente,
há uma coisa com que Johnny
nunca se conforma
e “alguém deveria resolver urgente,
criando uma lei, uma MP ou norma...”

“Por que é que juntam os trapos
esses que andam em farrapos
e espalham, sós, os filhos
nesse mundo de meu Deus?”

Por falar em filhos,
Johnny não faz ideia,
Por onde andam os seus.



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CONTÉM IRONIA
(Márcio Policastro e Ricardo Moreira)

Heroica e profundamente emocional
e com a missão de honrar os nossos mitos fundadores,
a nova Arte exalta todo o orgulho nacional,
“passando um pano” em biografias de torturadores.

Com a intenção de que se passe a achar normal,
o sofrimento, o suplício dos opositores...
Trazendo o holocausto para o nosso quintal,
enquanto economistas riem com os indicadores.

Olha Auschwitz batendo na porta.
Ele está de volta!

Feita pra quem só lê as letras grandes do jornal
e vai direto aos comentários dos leitores,
com frases feitas para expor um ódio irracional
ou meras réplicas de falas de influenciadores.

Vamos lembrar também a família tradicional,
a que ama Cristo pelo filtro dos pastores...
a que lamenta não ter Washington de Capital,
dizendo honrar o verde e amarelo, as suas cores.

Olha Auschwitz batendo na porta.
Ele está de volta!


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CONTO DE FADAS SAFADO
Ricardo Moreira

Eu queria o seu sorriso,
você queria que eu jurasse todo meu amor.
Eu pensava no futuro,
você parou no começo.
Eu, gaguejando por não ser tão bom ator,
você, fantasiando um tropeço meu.

Se o tempo curto que nos resta hoje,
joga contra e faz gols
no amor que há muito balança...
Você errou, eu sei
ou também errou...(não sei?!)
Com a sua tática "desconfiança".

Você horas para se aprontar,
eu preocupado com isso e com as contas.
Você sempre cobrando, tirando meu ar,
eu, atrapalhado, atabalhoado...
Uma barata tonta.


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COURAÇA
Ricardo Moreira

Existe quem se satisfaça
em poder caminhar sem ter dor pela praça
e quem ache a vida uma desgraça,
focando o sucesso nos bens materiais...
O outro tem, na cultura de massa,

bem mais que o bastante,
e nem vê, e a vida passa...
E há, por fim, quem recorre à fumaça,
por crer que a loucura propicia a paz.

Cada qual sabe o calo onde aperta,
onde a ferida é aberta
e onde rompe a couraça...
E justo o que um escorraça
é tudo aquilo que a um outro apraz.


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CPTM FASHION
Ricardo Moreira

Deixou cair de seu ombro
sua Louis Vuitton,
espalhando no trem
o que nela estava protegido

De um lado se espatifou
um perfume da Avon;
do outro, espalhou-se
a caixa de lenço umedecido.

A seus pés, um boleto vencido,
um remédio que é para nariz entupido,
uma cola branca das que se encontram em bastão
... um batom.

Nenhum vestígio de grana,
sequer um cartão que emprestou do marido,
nem mesmo um fone de ouvido
pra se ouvir um som.

Um bastonete para ouvido;
um papel que envolvia um bombom,
um bilhete da linha safira, sentido Calmon.

Li em seu olhar um pedido,
após revelar-se mais um ser fodido,
pra que a Mega Sena confira com o seu cupom.


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CRIADOR E QUEM ATURA
Ricardo Moreira

Aí, eu fico imaginando quem não canta...
O que ele pensa no momento em que levanta?
Como é acordar sem ter noção do que é um acorde?
O que é esse troço aí? Será que ele morde?!

Como é que aquele "sem compor" começa o dia?
Será que encontra no viver uma alegria?!
Será que assovia alguma melodia?
Que ao menos seja pra animar a tarde fria?

E o motorista ao batucar no seu volante?
Será que encontra a emoção só nesse instante.
Será que anota algum verso num rompante?
Ou acha que isso aí nem é tão relevante...

Será que só cumpre o que dele se espera?
E ele não se permite a qualquer quimera.
Será que tem vontade, mas por ora espera
aproximar-se do momento do "já era"?

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CRONOLOGIA
Ricardo Moreira

No primeiro encontro,
tropecei como era de costume,
deixando um vidro betume
virar por sobre o cardume, no aquário...
E, enquanto procurava,
pra curar do vexame,
ocultar a espuma aparente da poltrona,
um trapo velho no armário...
Encontrei um Coltrane escondido,
daqueles com a capa
em estado bastante precário...

E, apesar de parecer patético,
recebi como é pertinente ao princípio,
seu sorriso hilário...
E, não bastassem as promessas, a enchi de perfumes,
ao ser premiado, apostando em surpresa,
no primeiro páreo...

Mas só quem já sofreu,
que presume: além do ciúme
existe, nas relações,
um tapume ordinário,
separando o cume da ambição material
e o amor de Platão,
que há só no imaginário...

Aprimorado o padrão,
aproveitou pra partir,
pleiteando o prêmio,
o armário, a nova poltrona, o aquário,
com os peixes pintados de preto, o Coltrane
e parcela do meu parco salário...
Com a luz de um simples vaga-lume,
se vê novamente o vermelho
em meu extrato bancário!!!



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CRUSHS
Ricardo Moreira

Primeiro encontro de ambos (de ônibus),
mãos se encharcavam em suor.
Dois corações palpitavam.
Cada qual queria mostrar seu melhor.

Eu, ouvindo a prosa de relance,
e a moça surpreende o rapaz com um alfajor,
cita trechos de um romance,
e ele a compara com a atriz da Record.

Pergunta se ela viu um lance
do CR7, pra ele, o “maior”;
entoa, batendo no banco,
uns “versos” de funk que sabe de cor.

Cheguei ao destino
e fugiu-me do alcance
a história de amor dos meninos.
Se me questionassem haver chances...
E eu sou sabedor dos planos do Divino?!


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CUANDO TÚ ERAS TÚ
(Ricardo Moreira e Léo Nogueira)

Muerto de sed
Pienso en los besos, los brindis, ¡salud!
La soledad me atrapó como un pez en su red
Ni siquiera huyo

A tu merced
Vivía yo cuando tú eras tú
Triste laúd o un feo cuadro en la pared
Sin ni un murmullo

Me acostumbré
A tu batuta tenaz dirigiendo mi ineptitud
Pero eres hoy
Usted

Por la mitad
Mi corazón es un hazmerreír
Sale a latir bobo bombo con celeridad
Sin compás ni orgullo

Por la ciudad
De bar en bar, de iglesia en burdel
Y en cada piel, oración, trago o casualidad
Busca un rastro tuyo

Me acostumbré
A tu batuta tenaz dirigiendo mi ineptitud
Pero eres hoy
Usted


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CUSTO ZERO
Ricardo Moreira

Não se compra
o amor de uma criança,
só com bens materiais...
Criança precisa de apoio, presença...
carinho dos pais

Criança precisa
se sentir querida e capaz...
precisa entender que a vida
é melhor se vivida
em harmonia e paz

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DAS NUVENS DA PAIXÃO À NUVEM DE UM BACKUP
Ricardo Moreira

Eu quis seguir as regras de etiqueta,
escolhi, em minha gaveta,
a melhor pena, a melhor cor.
Mandei lhe entregar "via" estafeta
o que extraí de cada letra
e pus nuns versos de amor.

Só que, ao conferir sua gorjeta, o moço grita:
"Arremeta! Esse 'avião' não é para “o bico” do senhor.
É que a 'donzela' trabalha para um proxeneta
e hão de achar obsoleta
a carta do nobre escritor."

Essa informação jogou-me na sarjeta,
e eu, que nunca fui xereta,
tornei-me investigador...
Vi que ela antes ajuntava cadernetas,
mas hoje cadastra amantes
usando um computador

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DE BEM COM A VIDA
Ricardo Moreira

Uma incansável busca
ao intenso prazer...
Razão pra se viver!
Uma carícia, um beijo,
na pessoa amada
Viajar às vezes
pôr o pé na estrada...
Tentar descobrir a cor,
o cheiro, a magia
e os mistérios
que existem no amor

Dançar abraçadinho,
um bom vinho...
Dar e receber
um afago, um carinho!...
É a visão de um gol,
em meio à arquibancada,
contemplar estrelas
numa madrugada
Sugar todo o mel da flor,
que a vida às vezes,
deixa ao dispor!


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DE DOMINGO A DOMINGO
Ricardo Moreira

Vivem num cômodo apertado no Ipiranga,
de onde ele sai para vender suas bugigangas
numa banquinha na estrada dos Alvarengas,
bem perto da represa do Guarapiranga.

Enfrenta o stress de motoristas se xingando,
depois o sol do meio-dia na moringa,
enchente numa marginal de vez em quando
e alguns fregueses com os seus bafos de pinga.

Na estação, deixa a mulher, que sai voando
rumo à Porto Geral, ela vende miçangas...
Os dois, tão experts em tirar
coringas de suas mangas...

Voltam pra casa, já está escurecendo
e essa é a rotina, de domingo a domingo...
Fazem as contas de uma prestação vencendo
e antes mesmo da novela estão dormindo.


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DE ONDE VÊM AS RUGAS
Ricardo Moreira

Se lhe soa familiar
Stan Laurel & Oliver Hardy,
Jerry Lewis e Abbott & Costello…
Se já se emocionou
com Larry, Curly & Moe,
com o Sítio do picapau amarelo.

Confesse, se confundiu quem,
entre o Bud Spencer ou Terence Hill,
era o gordo ou o magrelo...
Gargalhou aos borbotões
com a trupe dos Trapalhões
com o Didi vivendo “Cinderello”.

Vê no “palhaço” Amácio,
o dono do “Anastácio”,
espécie de Chaplin verde-amarelo...
Viu competirem os patifes
- o Shazan e o Xerife –
e o duo nonsense
o Bronco e a Nair Bello...

Viveu o auge da Praça;
do Monty Python achou graça,
em histórias de castelo...
Não compartilhou, mas curtiu,
meu Deus, como sorriu,
e hoje não encontra nenhum paralelo.


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DE PERTO, HÁ DOR
Ricardo Moreira

Hoje o despertador soou pior
do que torcida adversária festejando um gol.
Ouvindo aquele som, soltei um urro,
como se eu tomasse um murro
deep in my soul.

É uma pena eu ser tão covarde
e ter sempre a sensação de dar com os burros n´água.
Pelo prazer de acordar tarde,
hoje eu venderia churros lá na Nicarágua.

Hoje o despertador soou
infinitamente pior do que um sino que dobra.
Quem dera a urgência para me arrancar da cama,
fosse só salvar as damas picadas por cobra...

É uma pena a falta de atitude,
logo o cabelo embranquece e o olho enche de ruga.
A gente corre como se secasse o açude,
esperando que Deus ajude quem cedo madruga.


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DE TODOS OS SENTIDOS
Ricardo Moreira

Ainda que atentos,
ouvidos nem sempre percebem
de onde vem a voz
que lhes trará conforto.

Bocas não sabem
se o beijo perfeito
sempre esteve ali
ou virá por algum aeroporto.

Aos olhos que miram
somente o infinito
escapam amores
que sempre estiveram por perto.

O ombro com a anatomia,
o encaixe, o aconchego...
Nem sempre é aquele
que está descoberto.

A alquimia que aguça
o olfato de um apaixonado
não se sabe ao certo...
Ora, se eu traduzisse
tudo isso em canções,
talvez me chamasse Roberto.


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DEBAIXO DO CARPETE
(Beto Queirós, Ari Reis e Ricardo Moreira)

Olhando aqui de fora, o sapato brilha,
por dentro, um furo na meia o incomoda!
e das sementes que deixaste em toda sua trilha,
cresceram árvores que não resistem a próxima poda.

Recheia e doura histórias da sua vida,
cobre com confete, serve com vinho e caviar
ledo engano, iludir-se com essa ladainha!!!
Escondeste a verdade, mas teimaste em deixar,
pra fora do carpete, um pedaço da linha,
e só quem puxa adivinha, o que não esconderia um véu.

Se falas em doze, não chega a ser onze
seus ovos de ouro, não são nem de bronze
e o smoking e o fraque: trajes de aluguel!!!
A verdade, um carpete... um pedaço de linha.

Granulado confete, a vida, uma ladainha.
Um sorriso no close da foto é só pose!!!
Ovos de ouro que nem são de bronze!
uma fome tamanha, um adeus à galinha...!


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DEFINITIVO E PROVISÓRIO
Ricardo Moreira

Muito mais do que irmãos,
eram perfeitos amigos.
Frutos de um mesmo umbigo:
o Ivo e o Osório.

Dupla em eventos festivos,
o ombro e o aconchego em velórios...
Sempre o par mais efusivo
em batismo e em casório.

Só que o caldo entornou,
tornaram-se dois primitivos.
A causa: o momento político
bastante inglório.

Ivo adotava o “muro”,
somente temia que, de hoje ao futuro,
todo poder de cargo eletivo
cairia por motivo irrisório

. O outro, num radicalismo puro
e pouco se lixando para a história,
dizia haver provas para tornar legítimo
o governo provisório.

Por restrições de horário,
excluindo os impropérios em um palavrório.
De um salvava-se somente o “define-te, Ivo!”
e do outro o “prove, Osório!”.

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DENTRO
Ricardo Moreira

Refrão:
A felicidade pode ser
algo que basta uma fagulha para acender.
mas, enquanto se vasculha agulha no palheiro,
muita gente não consegue ver.


Muitos têm a curiosidade
pra saber se há uma cidade
onde é melhor de se viver...
Se existe uma faixa de idade
em que a vida nos dá mais prazer.

Quando se busca um pássaro azul,
o olhar se volta ao norte, ao sul
ou pra um lugar perdido no passado
Ficamos, assim, mirando no que é distante
e o que há diante do nariz acaba ficando de lado.

Refrão:
A felicidade pode ser
algo que basta uma fagulha para acender.
mas, enquanto se vasculha agulha no palheiro,
muita gente não consegue ver.



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DEPARTAMENTO PESSOAL
Ricardo Moreira

Buscam-se novos talentos
que contem, com jeito, histórias repetidas.
Questões de relacionamentos
as quais muitos atravessam durante suas vidas...

Que reacendam sentimentos
e mantenham a audiência contente e entretida,
contenham fácil entendimento
aos que priorizam só dinheiro e comida.

Buscam-se novos talentos
(faces fotogênicas, boas medidas)...
Não venham com questionamentos
e preservem a massa controlada e contida.


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DESCULPE INCOMODAR
Ricardo Moreira

Se a rede de TV do dono do chicote
disser que apanhar é gostoso,
bastou para que o açoitado deixe de fricote
e se sinta orgulhoso.

Onde é que já se viu? Quando afunda o navio,
prioridade aos que têm holofote...
Triste ver que tem gente que, de tão servil,
acha nem ter direito a um bote.

Nessa luta entre o forte e o fraco;
o primeiro, velhaco, nem usa o serrote.
Calcule quem tomba o próprio barraco
e ainda é grato por Deus dar-lhe a sorte.

Feito um papagaio – “currupaco” –
repete o que lhe assopram no cangote.
Acha até que o patrão elogia a “sua maria”,
quando pede “mais ousadia ao decote”.


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DESEJOS
Ricardo Moreira

Nem sempre o melhor perfume,
nos faz recordar de tempos felizes.
Assim como tão belas canções
remexem e abrem velhas cicatrizes,
Fases difíceis, parte do passado,
insistindo em invadir meu presente,

Impedindo aos sinceros desejos, se realizarem,
Nesse jogo, em quem o importante é tocar
sempre a bola pra frente.

Cada dia um capítulo novo (quem me dera!),
cheio surpresas e mais:
que o sorriso esteja estampado
em rostos de pessoas
em nossos futuros jornais.

A violência e o óbvio demais,
além do mais, é só o que a TV nos revela,
de manhã no desenho animado,
à tardinha nos filmes e à noite na novela!!!

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DESINTELIGÊNCIA
Ricardo Moreira

Brigam bem aqui dentro de mim
um eu que é guerrilheiro e um eu que é comum
Um ruge com desejos de explodir o mundo inteiro;
o outro curte um Elton John na Antena 1.

Aqui bem dentro há um revolucionário
a lutar intensamente com um covarde.
Um vive alerta não importa qual seja o horário;
ao outro, após as 19h já é tarde.

Infelizmente, o insipiente sobrepõe-se ao notório,
este que arrota não ter sangue de barata
que diz que morre ao defender o soberano território,
mas teme ir para o escritório sem gravata.


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DESPREZO RECÍPROCO
(Sonekka e Ricardo Moreira)

Ela faz questão de me retribuir
todo desprezo que eu sinto por ela...
Ela me omite um sorriso,
eu fecho, em sua cara, a minha janela...

Desvio sempre o meu caminho
vou ali por uma rua paralela...
Quer saber? Nem reparei,
que, a cada dia, ela fica mais bela...

Me ignora tão solenemente...
as pessoas contam, eu juro, não vi
Não sou de prestar atenção,
ao que ela costuma fazer por aí...
me irrito lembrando a delícia,
que era sua presença por aqui...

Coitada! Deixar-me?!...
Não sabe o mal que ela fez só pra si

Será natural sua atitude?
Será que em seu caso isso é proposital?!...
Só penso ao vê-la esbanjando saúde,
Será que nem mesmo deseja meu mal?!...


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DEVANEIOS DE UM VERANEIO
Ricardo Moreira

Estirada, sobre a pedra, ao relento,
entretida às entrelinhas do céu.
Experimentando um outro sentimento... no vinho,
com a pressa de nuvem
num dia de vento,
que não move o papel,
que não espalha o moinho!

Avessa ao burburinho...
Ave travessa, vez primeira,
fugindo do ninho...

Sobre a pedra, estirada...
esquecendo o tormento,
que cachoeira lavou com seu véu...
implorando carinho!

Decifrando os enigmas do firmamento,
vendo a lua, ao léu, lendo os astros vizinhos.
Certa de que Saturno se tornaria soturno,
se até o último anel o deixasse sozinho!

Avessa ao burburinho...
Ave travessa, vez primeira,
fugindo do ninho...

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DEZ
(Alexandre Lemos e Ricardo Moreira)

Viverá seus dias de revés,
mesmo quem entrar
em campo com a camisa 10...

Nem que seja pra provar,
que é capaz de carregar
o ¨peso da dez¨ às costas...

Não se recebe o gabarito
com as respostas, ao nascer,
mas vale a pena viver...

Otário é quem pensa o contrário,
Talvez, a vida passe e ele nem prove...
Tão preocupado com holofotes,
com a egotrip de um ¨camisa nove¨...

Pensar que o Sol é seu,
é seu engano...
Pois quando desce o pano,
ninguém é rei pra sempre!
Ninguém é só "fulano".


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DIA D
Ricardo Moreira

Destruíste meu Dia e minha viDa,
ao DiviDir nosso antes Do meu Depois.
Ao Desluzir o Diamante, que éramos nós Dois!
Desfez-se Do que lhe Dei em nome Do amor
e com DesDém Devolveu em Desilusão e Dor!
Devo aDmitir o meDo, ainDa que ceDo,
Do vazio que invaDe o coração.
É Duro ver, Despir-se o DeDo...
Desmanchar a aliança e toDa uma relação!

Despedir-se e ir com os seus, De repente,
é atirar-me ao ninho Da serpente.
DuviDar Dos meus Desejos e Dizer aDeus
é Divertir-se ao Deixar-me Doente!!!

DesperDício é ir com os seus De repente
e atirar-me ao ninho Da serpente.
DuviDar Dos meus Desejos e Dizer aDeus
é Divertir-se ao Deixar-me Doente!!!


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DIAGNÓSTICO
(Ricardo Moreira)

Fico tentando saber
as identidades ali no vagão...
De que pratos gostam,
pra quais times torcem,
qual a profissão...

Não importa se é ágil,
se é forte ou se é frágil,
há sempre uma atividade que combine,
de ator até atendente de pedágio
que quer que ninguém
escolha a sua cabine.

... e eu tentando saber
as identidades ali no vagão...
Pra qual partido votam,
quais sites acessam,
qual religião...

Eu, igual a uma câmera de vigilância,
tal qual terapeuta,
feito um “grande irmão”,
sei quem toca atabaque,
ou é um “crente de araque”,
ou quem segue o alcorão...

... e eu tentando saber
as identidades ali no vagão...
Quem maltrata a esposa
e quem, estando certo,
ainda pede perdão...

Quem só lê autoajuda,
orienta-se em Buda
ou tem pós-doutorado em comunicação,
que observa calado a lábia
de um ambulante fanfarrão...

... e eu tentando saber
as identidades ali no vagão...
Quem vai a um show de rock,
quem frequenta rave
ou saiu de um sambão...

Quem prefere sushi a nhoque, ou tem TOC,
ou acaba de vir da manifestação.
Quem parece ter sido educado em Bedrock
e, quando abre a porta, comanda o arrastão.


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DIGNÍSSIMO
Ricardo Moreira

Ele bebe, ele fuma, ele tosse,
tem ejaculação precoce
e passa o fim de semana no bar...
Não tem cobertura ou recheio,
também peca um pouco no asseio.
Diz ir para o escritório,
e é na Major Sertório que acaba o “passeio”.

Não bote a culpa em sorteio,
Afinal, você o escolheu.
Mandou para o escanteio
a paz que viveu...

Quem ama acha bonito o feio,
você plantou o que agora colheu.
Eu acho, meu bem, que você se deu mal...


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DISSE-ME DIRCE
Ricardo Moreira

Disse-me Dirce,
nesses tempos
em que é livre pra opinar,
que tem saudades
do período do regime militar.

Pois cada um tinha o seu Fusca,
tinha apreensão e tinha até busca...
Dirce, tão ocupada sempre
em sua sala de jantar.

Dirce me disse,
nesses tempos
em que é livre pra opinar,
que tem saudades
do período do regime militar.

Não sabe o que houve lá em Perus,
nem viu no céu os urubus...
E comemora: "Se apanhou,
tinha mesmo é que apanhar".

Disse-me Dirce,
nesses tempos
em que é livre pra opinar,
que tem saudades
do período do regime militar.

Dirce me disse, e eu dei corda,
que "um povo livre pinta e borda..."
"Que história é essa de viver,
fazer canções, ficar em bar?..."


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DÍZIMO A ATEUS
Ricardo Moreira

Saiu jurando que só ia ali
para pagar o dízimo a uns ateus,
mas disse adeus.

Bem que achei estranho
vê-la a esvaziar armários,
pesquisar no Google "advogado e honorários",
e eu, que só esqueço às vezes seus aniversários,
só me dei conta ao canto dos pneus.

Saiu jurando que só ia ali
para pagar o dízimo a uns ateus,
mas disse adeus.

Achei que era carinho me chamar de "adversário"
e que amava o meu "way of life" sedentário,
O que ela quer mais, se eu proporciono o "necessário"?...
Será que ela partiu por erros meus?!


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DO LIVRO AO LOUVRE
Ricardo Moreira

Tirou receita do livro,
jogou tudo na panela,
acrescentou anilina, enfeitando...
Talvez, exagerou na canela?!

A iguaria, tal uma escultura,
de tão dura, ao esfriar-se, não soltou da tigela,
gerando crise de loucura à mestre-cuca,
que atirou o engano pela janela...

Atingindo, após alguns segundos de vôo,
uma linda donzela;
dessas que fujo do assunto ao dizer
que a rua a roubou da passarela!

A bela, então, num delírio, chegou a acreditar,
que a ¨obra¨ caiu lá do céu...
Foi até para o Vaticano, virou tema da Portela,
Ganhou Prêmio Nobel.

E quanto ao malfadado prato,
que originou o orgulho da “Nação Verde e Amarela”,
Foi visto dia desses no Louvre,
enquanto um dos funcionários passava flanela

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DODGE POLARA
Ricardo Moreira

Veja que dia tão lindo,
meu bem, se prepara!
Vamos para a Praia Grande
em meu Dodge Polara.

Sentir os pés livres na areia,
tomar sol na cara,
só que são mais de trezentos quilômetros
de Araraquara.


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DOMINGO DE VISITAS
Ricardo Moreira

Passa o pente, ajeita o topete, se apressa,
porém, preste atenção pra não tropeçar no tapete.
Tira a tampa do pote, tempera, experimenta,
bota os pratos, azeita o pirão, põe pimenta.

Prepara uma porção de polenta
pra apaziguar o apetite dos primeiros,
e, enquanto o pessoal não aparece,
breve pausa para lembrar o passado...

Velha vitrola (os mais novos vão achar engraçado).
Dá um tapa na limpeza, o processo parece lento
e o vento que paira ameaça piorar o tempo...
Pingos de chuva atrapalham,
interrompendo o futebol dos pequenos
(para o meu desespero!).
A patota com o pé sujo de barro,
palito, papel de pirulito pelo chão...
Um apelo, um grito; quase aos prantos:
“você esqueceu de botar sal no feijão!”

Os primeiros convidados aportam.
Está tudo quase já no ponto.
Ninguém repara o quanto nos portamos tontos...
O prazer aos poucos pinta e toma posse.
Com um pouco de paciência tudo ficou pronto.
A gente sempre apanha para aprender,
mas promete se aperfeiçoar num próximo encontro


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DOMÍNIO PÚBLICO
Ricardo Moreira

Agora que as bundas do axé caíram...
Caíram em domínio público.
Algumas não levantam nem
o moral de quem era neném
quando elas fizeram tremendo sucesso:
Momento único.

Agora que as bundas do axé caíram...
Caíram em domínio público!
Já foram trocadas no harém,
por outras, cujo talento, também,
é dimensionado por metro cúbico...

Dizem "rei morto é rei posto"...
Um sai, outro já cobiça o lugar
e, aqui, coadjuvante é o rosto,
na luta pra ver quem se sai mais vulgar...

Tem bumbum declarando imposto,
de tanto que é exposto, pra quem quer olhar
Eu juro, tem bumbum no seguro,
Tem bumbum arrimo familiar...


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DOS TEMPOS DO ONÇA
Ricardo Moreira

Saí da avícola, a caminho do alfaiate,
fiz a fé na esportiva (eu ouço dicas de Cassandras)
adquiri aviamentos com o mascate
e parei lá no coreto pra ver ensaiar a banda.

Aproveitei que estava à toa o engraxate,
dei um tapa no pisante... Fiz estoque de lavanda.
Pus no penhor um anel de dezoito quilates
que era herança de mãinha, dos seus tempos de formanda.

Por mais que as contas queiram me dar xeque-mate,
não sou desses que lamentam, vendo a vida da varanda.
em meio à grita de credores, sou simpático,
enquanto os cachorros latem, minha caravana anda.


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DONS DE NOSTRADAMUS
Ricardo Moreira

Dilermando e Guilhermina já não fazem planos
Perguntados, nem os próprios sabem desde quando
Ele chega da oficina bravo e reclamando
e ela gasta suas horas reformando uns panos

Dilermando acha difícil conviver com humanos,
pelo ofício oculta os pensamentos mais insanos...
Besta-fera adaptando-se aos centros urbanos,
desagrada, tanto faz, aos gregos e aos troianos.

Guilhermina às vezes fala com a menina
que ela deixou de ser há muitos anos.
Pensa que, lá atrás, se entrasse em certa esquina
ou quem sabe até sumisse com uns ciganos,
não cumprisse desinteressante sina
e sempre lamenta não ter dons de Nostradamus.

Guilhermina e Dilermando
e a maçante rotina...
Dilermando e Guilhermina
só se suportando.

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DUZENTOS MILHÕES EM AÇÕES
Ricardo Moreira

Começa a Copa, e soa o hino.
Eles colocam a mão no peito,
e passam a ver tudo perfeito,
e, nem percebem, dobra um sino

para um país que, qual roleta de cassino,
é cheio de "vício" e de "jeito",
e que hoje até ignora um pleito,
e idolatra alguns cretinos.

É Copa, ó(lha) lá, sua o menino
- e é a vez de a bola ir rumo ao peito -.
É que o talento às vezes dribla o destino.

Não fosse isso, era mais um entre outros pretos
lá nos trens que vêm do gueto
ou segurança de grã-fino.

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E AÍ, MEU REI?!
(Ari Reis e Ricardo Moreira)

- Hei, nativo!...
Estou aqui por dois motivos:
um é festa;
o outro, é conhecer de perto uma floresta!
E me deparo logo na avenida principal,
com um povo descontente e que protesta.
Com quem reclamo?!...
Será com Momo ou com o Leão?!...
Qual o rei que manda?!...
Da sua selva, eu só sei que faz calor...
e que não tem urso panda!...

- Quer uma pista, seu turista?
Aqui tem gente que detesta como a coisa anda!
Só conte, entre os descontentes, a parcela que é honesta
e aí já são bem mais do que uma Holanda!

Não tenho culpa se puseram “otário” em sua testa
e a expuseram na varanda!
Isso aí somente atesta que não presta
a nossa auto-propaganda!!!
(Se a intenção é ajudar,
‘tá ali o balde, o esfregão e a lavanda!!!)


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É DE DAR PENA
(Sonekka e Ricardo Moreira)Ricardo Moreira

Será que as aves fazem gargarejo,
quando chove ou quando garoa?!
... Que elas competem para ver
quem é que entoa o melhor canto,
quando a situação do tempo é boa?!

Será que uma ave derrotada,
depressiva, chega até a se esquecer que voa?!
Será que quando dá empate, no embate,
a decisão só sai no ¨cara e coroa¨?!

Será que aves expulsam
de seu bando alguma coleguinha que destoa?!
Será que o que somente as magoa
é que no mundo há pessoas,
que não lhes dão atenção
nem quando estão à toa.

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EFEITO MORAL
Ricardo Moreira

Repita só o que eu quero que acredite.
Ninguém aqui pediu sua opinião.
Desista! Para você não tem convite.
A festa aqui é para quem é patrão.

Limite-se ao subúrbio e não grite!
Contente-se, eu já dou televisão.
Defenda – aí do barraco – a elite,
que é quem garante sua ração.

Não dê ouvidos a quem dá palpite.
É baderneiro e só quer confusão.
Ao ver um insatisfeito, solicite:
0800 - “disk-bomba e pelotão”.


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ELE ESTÁ NO MEIO DE NÓS
Ricardo Moreira

Ele sabe tudo o que se faz;
é verdade, ele é onisciente;
monitora o velho e o rapaz,
o rico e o pobre, o ateu e o crente.

Faz vigília em encontros de paz;
pela frente e por trás, ele está sempre presente;
lê o que falas junto ao telefone
e, com isso, desconfia do que trazes na mente.

Ele está sobre os teus carnavais;
e te vê vagando em tuas noites insones,
vê dos quintais até as boates do cais,
tenta flagrar algo que te desabone.

Sabe bem mais do que o que sai nos jornais,
por detrás dos vitrais... e em shows do Bruno e Marrone...
Sim, o seu nome, enfim, começa com D.
Tá pensando que é o quê?
eu tô falando do drone.

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ELIXIR
Ricardo Moreira

Criei um pastel que emagrece,
bem mais saboroso que o original,
também brigadeiros que descem
mais leves que um copo de água mineral.

Sorria, não têm calorias,
quem prova, se não se vicia, se assanha
e leva de brinde a lasanha
que molda um “tanquinho” abdominal.

O bacon que uso em meu lanche
é como avalanche: expulsa o que faz mal.
Frituras que excluem gordura.
E a pizza? Você ainda não viu nada igual.

Eu não disse, mas meu carro-chefe
é a coxinha de metro, coisa artesanal,
a cada mordida, um ano a mais em sua vida,
então prove e se torne imortal.


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ELO GIL
(Ari Reis e Ricardo Moreira)

Não sei até que ponto é legítimo o elogio?!...
As juras em gíria?!...
As joias e os relógios da praça da Sé?!...
Ofertar-me uma elegia?!...
Postar-se de joelhos perante os meus pés?!...

Não sei até que ponto é legítimo, o elogio?!...
Achar meu cantar paralelo
a algo que já ouviu?!...
Penso que fez confusão, pois eu tentei a fusão
entre o reggae, o blues, o baião!
E, nem por reverência, apenas referência
Se há um elo que liga esse trio.
O nome desse elo: Gil!


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EM TEMPOS DE TOCHAS E MESÓCLISES
Ricardo Moreira

Sobrou lá no final para a coitada da onça,
Que nem foi consultada sobre a extravagância
Sua “culpa” foi ser só um exemplar de “responsa”
Que humanos paguem agora por toda essa lambança.

Chega a dar vergonha ter qualquer semelhança
Com seres que esbanjam tanta inconsequência,
adultos sendo bem mais infantis que crianças
ao bicho, nem foi permitido pedir clemência.

Do jeito que isso anda, creio que a tendência
É dar somente à idiotice importância.
E aquele que ousar agir com inteligência
Condenar-se-á sem nem direito à fiança.


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EMPIRISMO
Ricardo Moreira

Eis que engendraram um estudo usando ratos,
deixando queijos à sua disposição,
mas só parcela tinha expostos os seus atos;
os outros se fartavam à escuridão.

Pra aprimorar, manipularam uns retratos,
com avançados programas de edição.
Ao veredito, os tais cientistas qual "Pilatos"
fingiram dar à audiência a decisão.

Esta, sem ter visão completa sobre os fatos,
tal quais censores dos tempos da inquisição,
sem ver quem realmente esvaziou os pratos,
achou que só de um lado é que havia ladrão.

Houve um que quis denunciar o aparato,
mas quase foi linchado pela multidão.
Aos demais ratos, deu-se a outorga dos contratos
e ouviu-se um foguetório em comemoração.


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ENGANANDO AS APARÊNCIAS
(Ari Reis e Ricardo Moreira)

Pode ser que o difícil não seja bonito,
E nem o luxo ofereça conforto...
Pode estar de partida e achar-se infinito,
Mas herói... só depois de morto.
Pode achar o perto muito mixo”,
e o caro nem sempre seja o melhor...
Pode jogar várias vidas no lixo,
mas não pode prender, pois é menor.

Pode dormir ao fim do disco,
pode querer saber de cor...
Num papel branco, arriscar um rabisco,
ou querer ser um ser maior.
Pode ser que eu te ame até junho,
pode ser que antes eu vá embora...
Pode ser que eu passe a limpo o rascunho,
ou então, que eu jogue tudo fora.

Pode ser que se perca no caminho,
pode ser que não funcione a memória...
Pode ser que comemore com vinho,
mesmo sendo injusta a vitória.
Tudo pode nesse jogo.
Pode ser que peçam bis.
Marcar o corpo com um carvão tirado do fogo,
ou escrever no chão, como se fosse giz!

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ENQUANTO ESFRIO A SOPA
(Ari Reis e Ricardo Moreira)

Estalo de um tapa no trapaceiro.
Estilo do tapeceiro à estopa.
Estrelas que me atraem ao travesseiro.
Travessuras que se faz sem roupa...

Estátua de acesso restrito.
Status de “dono da boca”.
A tropa atenta ao apito.
A estiva, a proa e a popa...

O staff da extinta Tupi.
Estupidez, que não é pouca.
Estupendo pato no tucupi.
O entrave ao meu canto, a voz rouca...

Pode parecer que pirei,
parindo essa prosa tão louca,
porém passei para a pena,
apenas o que pensei,
esperando esfriar a sopa.


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ENQUANTO ISSO, NA TV...
(que falta faz um controle)
Ricardo Moreira

A mulher que ensina
como emagrecer está gorda.
Isso é notório, mas não é só essa a surpresa...
E, se eu minto, que um raio me parta,
macacos me mordam!
O cara que presta consultoria
nunca teve uma empresa...


Quando o assunto são sais minerais,
proteínas e carboidratos,
ela expõe com clareza...
Receita a você cereais,
mas devora uns dez pratos mais as sobremesas...
Já o rapaz procurou nos jornais
algo que lhe ajudasse a bancar suas despesas,
mas nem nos serviços braçais
sentiu-se capaz, por excesso de delicadeza.

A mulher que ensina
como emagrecer está gorda.
Isso é notório, mas não é só essa a surpresa...
E, se eu minto, que um raio me parta,
macacos me mordam!
O cara que presta consultoria
nunca teve uma empresa...


A verdade é que tem por aí muito cara-de-pau,
Estilistas que se vestem mal,
ditando tendências,
indicando o que é in o que é out.
Tem recém separado,
pregando reconciliação de casal.
E um que nem toma conta
das próprias finanças,
comentando a crise mundial


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ENREDO
Ricardo Moreira

Nascer, crescer e estudar
e arranjar um emprego.
Vender um tempo que é só seu
para alguém ter mais sossego.

Pois, como dizem,
“Tem valor só quem levanta cedo”
e é persistindo
que a água fura o rochedo.

E todo dia o despertador
rompe o aconchego,
e a sensação de só servir praquilo
gera medo.

Fracasso é evidente
se um filho pede um brinquedo.
... a gota d´água de uma dor
que se sofre em segredo.

Pressão e metas pra bater,
um chefe erguendo o dedo,
a fuga para os copos de álcool,
uma cama de hospital e um funeral:
Clichês de um velho enredo.


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ENTRAVES
(Sonekka e Ricardo Moreira)

Iria te mandar um papo reto,
porém me avisaram que o correto
seria formatar na ABNT.
Chegou também a Anvisa, o Inmetro
e tantas outras letras do alfabeto...
Fiscal pediu o aval até do arquiteto...
E era outra alíquota,
"ultrapassou o teto"...
Faltava a ISO 9000,
e mais a puta que o pariu...
Eu fiquei quieto.


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ENTRELINHAS
Ricardo Moreira

Eu beijava os pés da Paz,
o Amor tocou a campainha.
Abri a porta e, logo atrás, entrou a Inspiração,
que há tempos não vinha.

A Solidão, avessa à multidão,
pulou o muro, pra vizinha...
Azar, ficou sem ser parceira da canção,
na qual a Paz brilhou já na primeira linha.

A canção estava linda,
só não tinha um bom refrão ainda...
Desses que marcam para sempre um coração...
Recorremos à Paixão,
que, em qualquer ocasião, é tão bem-vinda.

Com tantas credenciais,
coube ao Amor a escrivaninha,
Humilde, ele acatava as notas musicais,
que a Inspiração ditava da cozinha.
Representando os mortais,
em meio a tão boa companhia,
eu ficaria satisfeito em ser capaz
de extrair dos sentimentos as entrelinhas


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EQUILÉBRIO (ou Eqüilíbrio)
- Millôr já fez melhor -

Ricardo Moreira

Ao volante, desobediente aos apitos.
Confundindo até Cantinflas com Carlitos;
enxergando curvas, mesmo em raio infinito... (reta!)
Ultrapassando, em álcool, o estado alfa,
já chegava em beta...

Desordenadamente, quer falar bonito;
inconformado, filosofa em meio a gritos
que a polícia é cega, é incapaz
e, até certo ponto, quieta,
com aquele que fuma, aquele que cheira,
aquele que injeta...

E o que vou contar, quando me contam,
confesso não acredito,
mas, afinal, devido às graças de Sto. Expedito,
conseguiu chegar ao paradeiro nosso atleta:
“Que nem” equino, equilibrando a bicicleta.


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ERAM UMAS VEZES
Ricardo Moreira

Da cabeça de algum escritor,
surgiram as tais tranças de Rapunzel.
De outra, saiu Joãozinho
e seu pé de feijão que subia até o céu.

Mais recentemente, criou-se Iracema,
a virgem com mel em seus lábios.
Desde então, tem anel, espinafre,
tem nariz que cresce infestando alfarrábios.

Saiu de uma cuca maluca
a mocinha no bosque e seu chapéu vermelho.
Tem rato famoso, a Mafalda, o Pinduca,
tem pantera rosa e coelho.

Já a rima prevista, o espelho,
é protagonista na história de Alice,
dá as caras em Branca de Neve
e, quebrado, dá azar como diz a crendice.

Imagina crer numa velhice
que nos atingisse somente em retrato.
Imagina a raposa instigando a cegonha
a tentar tomar sopa no prato.

Imagina que chato se essas criaturas
ficassem no anonimato.
Tanta coisa legal pra botar no papel
e você só escrevendo contratos...


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ERVILHA
Ricardo Moreira

Não vou me desgastar causando intriga,
com alguém cuja história
de memória não dá um giga(byte)...

Vou procurar alguém capaz de encher um tera(byte)
e que, de lá da estratosfera,
enxergue em ti uma formiga.

Como você, muita gente coça a barriga,
espera a vida vir do céu
e fica só fazendo figa.

Há, nesta canção, embutida a intenção
de te ofertar um pouco mais de conteúdo...
Não é lá grande coisa, mas agregue ao que possui
e, em um disquete, pode ser que caiba tudo.


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ESCOLHAS
Ricardo Moreira

O seu carrão parcelado
só o leva ao trabalho...
Sempre ao mesmo local.
O meu fuscão ´tá quitado
e com ele eu vou ao campo e ao litoral.

Pense bem!
“0 Km/h a 100 Km/h em segundos”,
dizia o anúncio que viu no jornal,
mas você nem engata a segunda,
parado por horas numa Marginal.

Sua mulher tem investido em vestidos,
só pra fingir um outro padrão social...
Sem repetir, só usa um dia...
(e vocês bem que poderiam
ir ver as dunas de Natal).

Que tal você experimentar andar descalço?
Será que o seu próximo passo é um passo em falso?
Em breve, o estresse o ataca, você tem um piripaque,
e uma bengala é o que servirá de calço.


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ESCRAVOS DO RELÓGIO
Ricardo Moreira

Eis aí o tal do tempo,
que tanto nos escraviza...
E furta-nos de perceber,
ao dia findo, o quão foi lindo...
e, assim, vemos passar a vida
com olhar de ojeriza...

... e comemos grama, atrás de grana;
suamos a camisa,
gastando energia ante os ponteiros,
nos consumindo por inteiro
só pra dar destino fútil ao dinheiro

Um e outro até o que ganha economiza
para, enfim, comprar
aquilo tudo de que não precisa.


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ESPERMICIDA
Ricardo Moreira

Quem é sensato
para opinar pede licença;
licença, que nem sempre lhe é concedida.
Leva vantagem, enfim, o chucro,
o que nem pensa,
que, sem medir as consequências,
dá a questão por definida...

... Não sem antes disparar certas ofensas,
vocabulário que é o que adota pra sua vida,
e é assim que proliferam as indecências...
Talvez explique as relações tão destruídas.

Se pelo grito jamais vence a inteligência
e, durante a fase adulta, a guerra está perdida,
que tal detectar a estupidez na essência,
para ser exterminada já com espermicida.


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ESQUEMA TÁCITO
Ricardo Moreira

Eu me preparei para enfrentar meu dia
num 4-4-2 bem do tradicional.
O dia veio com muito mais ousadia,
eu era um Davi diante de um Golias,
mas, como aquele, não sou de fugir do pau.

Despertador/apito é quem inicia
e, logo nos primeiros lances da porfia,
ficou muito evidente quem dominaria
e quem sucumbiria à força do rival.

Só que, ante o adverso, surge uma energia
que não se sabe de onde e nem se desconfia,
e surpreende o que a princípio se previa,
e o jogo pouco a pouco vai ficando igual.

É mais gostosa a vida que nos desafia,
e que bota na reserva a monotonia,
e que obriga acharmos na cartola uma magia
que faça com que a gente vença no final.

Sem isso, qual a graça que há na travessia
com tudo previsível e em paz e em harmonia?
Aquela em que se chega sem uma avaria?
- Vencer o improvável é muito mais legal -


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ESSÊNCIA
Ricardo Moreira

Inverno, assovio do vento...
Semente começando a germinar.
Hora da Ave Maria,
eu me lembro de ouvir a minha avó rezar.

A visão do vale, a vereda, o viveiro,
o cheiro de tempero no ar...
O som do riacho, o jambeiro...
Em que curva a vida resolveu virar?

Inverno, assovio do vento...
Pr´além das porteiras, conversas no bar,
as trovas na vila, o convento,
o unguento que eu ia na venda comprar...

O café no pano, o ser humano na essência,
o som de um cavalgar...
É pena que essa escravidão ao dinheiro
fez esse cenário mudar.


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ESTATÍSTICA
Ricardo Moreira

Lavou-se o sangue da calçada,
e a vida na cidade voltou ao normal.
Lojistas levantavam as portas,
motoristas furavam o sinal...

“Que bom!”, festejava ao meu lado,
um passageiro orgulhoso por ser pontual
Cochichavam duas moças, com um olhar assanhado,
algo sobre a aparência do policial.

A senhora que olhou sobre o muro
tornou a cuidar do jardim no quintal.
Desconhecidos seguiam seus rumos
Sem se despedirem ao menos com um tchau.

Na TV do boteco, os gols da rodada;
ao lado, num beco, discutia um casal.
Três ou quatro ninguéns confiantes
conferiam os números da Federal...

Os peritos trocavam de turno sorrindo
enquanto tiravam o avental.
Lavou-se a calçada,
E a vida voltou ao normal.


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ESTRANHO NO NINHO
Ricardo Moreira

Tentou encarnar um Sinatra
num clube pra fãs do jazz e do blues
tiro foi pela culatra,
não tinha sua voz nem seus olhos azuis.

Quem viu sua big band
jura que não entende...
“meu Deus!”, “por Jesus”...
Se tivesse noção esconderia a cabeça
feito um avestruz.

Em vez de um naipe de metais,
bolivianos sopravam seus velhos bambus
e, em seus primeiros trinados,
notaram-se os seus verdadeiros gurus.

Tragédia prevista
por ouvidos leigos e a olhos nus
Quando no palco surgiu
um teclado infantil sob um canhão de luz.

Se fosse afinado o coral,
perdoar-se-ia só ter tribufus...
E um cara no baixo de pau
sem qualquer noção dos sons que reproduz...

Se for devaneio, chamem a ambulância,
aceito ir pro SUS...
Se os clientes têm as partituras na mesa,
a orquestra acompanha os menus


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EU NÃO ´TÔ FAZENDO NADA, VOCÊ TAMBÉM
(Ari Reis e Ricardo Moreira)

Tire o peso das costas
...da boca frases;
do vaso, a flor...que é da natureza!
Tire da certeza, o quase;
do artigo, a crase
e o inimigo da minha mesa!!!

Tire do arquivo, o antigo;
do castigo, uma lição;
da cabeça, o imenso, aviso de perigo
e a frieza do seu coração!!!

Jogue-se no rio da vida, ainda que raso.
Use do meu abraço...seu abrigo.
Pois acusarei o acaso,
se vier a casar-se comigo...!

O título é uma citação à canção Deixa isso pra lá
(Alberto Paz e Edson Menezes)



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EVOLIÇÃO
Ricardo Moreira

Se o ventilador nasceu para ser
a evolução imediata do leque;
o mesmo, podemos dizer
da relação cartão magnético e cheque!

Em outra situação,
com a intenção de evitar
que o líquido esquente,
antes que seque,
eis que o litro cedeu o seu lugar
a esse troço de nome esquisito...
tal de longneck!

O impossível, no entanto, é afirmar
se o futuro do “ao vivo”
é mesmo, o playback
com a certeza de que, para chegar à overdose,
é preciso passar, antes, pelo pileque!

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EXEMPLOS
Ricardo Moreira

Peço que preste atenção...
Qual o destino
de quem toma como exemplo?
Que tal iniciar pela religião?
Veja com quem
você divide o seu templo.

Peço que preste atenção...
Busque ao redor o que é sucesso
e o que é fracasso.
Comece por sua rua, bairro ou região.
Que fim levou o antigo
“astro do pedaço”?

Peço que preste atenção...
Certas escolhas podem até servir de prova
Que há trajetos para a glória ou para a cova,
mas geralmente levam só à vida em vão.


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FÁCIL PRA NINGUÉM
Ricardo Moreira

Quem é que atura essa temperatura
e esse tempo no espelho cruel e veloz?
A postura imposta por quem nos dá as costas
e insiste em domar nossa voz?

Quem é que atura essa pouca estrutura,
essa “oferta e procura”, a “exigência de Pós”?
A “zumbização” da criatura
que aplaude de perto (de pé) a vitória do atroz?

Quem é que atura seringa
injetando agrura em cada um de nós?...
A ira, a cizânia, a ruptura,
que fazem de um ser tão pacato,
atrás do teclado, um feroz?


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FAIXA DE GAZA
Ricardo Moreira

Quem se enriquece com a guerra
não vale o que o gato enterra!

Onde jaz civil,
as crianças são mortas
por petróleo e terra.

Imagine que neste momento,
em algum canto do mundo,
em algum gabinete...
Alguém negocia um novo armamento:
algum míssil, um canhão... um foguete.

Covardes mimados!
Distribuem seus campos minados,
espalham porretes...
Fechados em carros blindados,
escondidos em bunkers, usando coletes.

Quem se enriquece com a guerra...

Nunca entenderão
a beleza do “amor anotado em bilhetes”
e a riqueza que é passear com os netos
pagar-lhes sorvetes...


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FALSOS MESSIAS
Ricardo Moreira

Era uma vez um gigantesco território;
em grande parte sob a linha do Equador,
em que nas ruas, parques, praças e escritórios,
terceirizavam as soluções a um salvador...

Digo que, enquanto a indisciplina for motivo de orgulho,
e o patrocinador só se importar com quantos views,
e o mercado tiver mais valor do que o trabalho hercúleo,
e o entulho e o lixo poluírem terrenos baldios...

Não vejo quem consiga botar ordem num bagulho
em que por lucro se transformam em sepulcro tantos rios,
o que dizer, então, sobre quem, de um modo tão espúrio,
conquistou um pleito com a profusão de fake news?

Basta deixar a bolha pra saber que é ilusório,
Ninguém tem tal poder, seja quem for
e, se é impossível para aqueles que esbanjam repertório,
o que esperar de alguém "sensível" feito um rolo compressor?

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FALTA NA BARREIRA
Ricardo Moreira

O que é que essa turma maluca injeta
que tem lhes causado tão mal à moleira?
Tem gente vaiando gol de bicicleta
e aplaudindo falta na barreira.

Não me choca a gente analfabeta...
Me incomoda erguer-se a bandeira
De fazer da burrice uma meta.
É o cachorro orgulhoso ostentando a coleira.

De um lado, a “gourmet feijoada com pétalas”;
De outro, os contentes com a xepa da feira.
Tá osso manter-se “a espinha ereta”
e o “coração tranquilo” hoje nem por zoeira.

Quando é infecção, basta uma coleta,
para o diagnóstico e a cura certeira,
mas, se a distopia se mostra completa,
é a humanidade rum o à ribanceira.


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FARFALHAR DAS FOLHAS
Ricardo Moreira

Como um Dom Quixote,
sem poder nem mesmo consultar
a opinião de um Sancho Pança.
Eis-me aqui, diante de escolhas.
Eu sozinho e o farfalhar das folhas.
A vida me botou frente a frente a uma balança.

Olhando ao redor,
vejo que tudo perdeu importância.
Justo agora, rumando à velhice,
eu me renovo e volto a me sentir igual a uma criança.

Sai a prudência, entra a extravagância.
Nessa dança, eu me entrego com tudo, perco a timidez.
Logo ali, passada a tempestade, virá a bonança.
Na fila da felicidade, o painel chama a minha senha...
Chegou minha vez!

Perceba a intensidade
desse sentimento, essa pujança...
Essa vontade de viver,
essa renovação de sonho, essa esperança...
Foi você quem fez

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FEIJÃO COM ARROJO
Ricardo Moreira

Venha,
prove o meu feijão com arrojo
e esqueça em sua casa, é lógico, o relógio...
Por favor!

Poupe as maquiagens do estojo
e aquele sutiã com bojo
nem se preocupe em pôr.

Se lhe estão tratando qual um despojo,
com desimportância ou nojo,
eu quero lhe dar valor.

Encontre em meus braços um refúgio,
que, em seu mar, eu, um marujo,
hoje aposento o "pescador".


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FELIZES E SABÍAMOS
Ricardo Moreira

Bastou o placar apontar 7 a 1
muitos se "especializaram"
e discorrem seus crivos.
"Sumidades" que, até outro dia,
falavam de bola e bumbum
a analisar de estupro a leis de incentivo.

Youtubers, blogueiros e demais palpiteiros
disseminam ódio e atraem legiões.
Quem diria, tal sabedoria, entre os brasileiros,
vivia ofuscada pelo "esporte das multidões".

Bastou o placar anotar 7 a 1
e os "gênios" que estavam ocultos brilharam.
Soubessem os CEOs que aqui
a sapiência era algo comum,
teriam insistido em planos
que outrora abortaram.

Há reprodutores de memes para todo gosto,
Há haters e perfis sem rosto...
Um sem fim de opções.
Se é mesmo sério que existe negócio de “encosto”,
isso aqui não é tarefa a quaisquer charlatões.


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FERINO
Ricardo Moreira

Lino era um feliz felino,
que o destino presenteou
com um lar mais confortável
do que o de muito menino...

Mas Lino não tem culpa alguma,
errado é criança na rua.
Erro, que de tanto ver,
a gente se acostuma...

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FINAL DE CAMPEONATO
Ricardo Moreira

Domingo é a grande final,
o amor vai enfrentar o ódio.
Falou no rádio:
"A previsão é de lotar o estádio".

Que o amor tenha o domínio,
tome as rédeas,
e o resultado para o ódio
seja uma tragédia.

E, enquanto o amor
estiver o posto alto do pódio,
o ódio, exterminado, será lembrado
só por quem folhear enciclopédias.

Vejam que comédia a sua torcida,
espantada e convencida
que, diante do amor,
o ódio não tem chances,
saindo sem ver os últimos lances...
Talvez, para um cinema,
ver um filme de romance.


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FINAL INFELIZ
Ricardo Moreira

Disfarça um certo fogo, finge!
Farta-se, ao fugir do frio e fome,
faz fita num filme fuleiro...
Faz falta aos filhos sem sobrenome!

Fisga homens finos e famosos;
desfruta de prazeres falsos.
Festeja, às farras com fregueses,
fatura com a vida fácil!

No futuro, em frente à frieza,
frustra-se, ao primeiro fiasco!
Fraqueja e no fundo do fosso,
falece ao final de um frasco!!!

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FLORES GRIS
(Hermannd Coutinho e Ricardo Moreira)

Tentar decifrar o olhar da atriz,
é exercitar a minha porção juiz
É pena ela não vai me escutar,
lá dentro da tela e eu... pedindo bis!...
Nem sabe que ao beijar o mocinho me faz infeliz!
Nem mesmo ouvi sua voz...
Eu amei logo após compreender a legenda.
Eu não prometo o mar, pois não tenho...
contente-se com minha renda...
Coitado de mim: um mortal,
que ninguém quer saber... o que farei, ou o que fiz...
E você quase eterna,
ao menos, enquanto durar a matriz!!!
Nem mesmo vi suas cores,
ora, o arco-íris, com sete, a que vem não diz
Eu amei seu sorriso...
Em um jardim cheio de flores gris!
...ao saber do seu gosto por flores
peguei-me num desses delírios febris,
ofertando um buquê, que se não englobava o alfabeto
...chegava até “X”
deduzo hoje: se a arte e os sonhos
transformam em ouro coisas tão vis,
o inverso, o acender das luzes,
foi o seu jeito sutil de dizer que não quis!...


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FREIO DE MÃO
Ricardo Moreira

Foi no dia em que eu tentei voar,
a primeira vez, em que eu te vi de cara feia.
Abri o gás, alucinado com o azul,
você encheu o meu balão,
com sacos de areia.

Decidi mudar o rumo,
fui para o reino de Netuno,
desvendar os mistérios da maré cheia.
Queria dar volta no mundo...
você mergulhou mais fundo,
fez complô, até, com as baleias!

Hoje, juro, já não quero mais voar,
ou me aventurar nas águas!
Nem carrego tantas mágoas,
totalmente submisso em sua teia.
Já nem arrisco tanto, enjoado de ouvir o pranto,
ou fracassos da vida alheia.

E, ainda me vingo, brincando com seus cochilos,
acoplando alguns quilos, ao pé que pisa o acelerador.
Pior, eu tiro o seu trem dos trilhos
ensinando nossos filhos a tirar proveito
da potência de qualquer motor...!



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FUGERE URBEM
Ricardo Moreira

Cansou de sua vida ali certinha, deu um basta;
aposentou o terno, a escrivaninha
e uma pasta do tipo 007,
com que os infelizes se arrastam

Foi pra uma cabaninha na Serra da Canastra,
a vida toda engomadinha de antes contrasta
com o estilo reggae roots atual
e os dreads no estilo rasta.

Acorda quando o corpo quer,
não mais se desgasta,
nem sente coação de chefe atrás de pilastra.
Fugiu para viver,
enquanto o ódio por aí se alastra.



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GANGORRA
Ricardo Moreira

Na vida,
nem sempre predomina o disfarce,
vez ou outra, a bochecha cora...
às vezes, se perde o embarque na última hora,
ou no dia da excursão ao parque,
nos surpreende a catapora...

A vida
é uma velha senhora,
que, quem dera, sempre ereta ficasse,
às vezes, apenas se escora...

...e, no ápice da farsa,
ao ver o ator fazendo graça,
de melancolia chora...

...e, no ápice da farsa,
enquanto atores fazem graça,
de melancolia chora...


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GARRINCHAS E JOÕES
Ricardo Moreira

Entra ano e sai ano,
joão-ninguém repete a mesma ladainha.
Reclama que vive entrando pelo cano,
reclama do sedentário e de quem caminha
Ele e a vida são “cão X bichano”.
Reclama não ter o que antes já não tinha,
da nudez e do excesso de pano,
e que, em meio a tubarões, ele nasceu “sardinha”

Só vê a maldade que há no ser humano
E, se vai ao jardim, “caça” erva daninha,
e o incomoda a flauta, o piano...
O cheiro do tempero que vem da cozinha

Repare bem...
Você também quando se olha refletido,
se ali no espelho o que se vê
não é um outro joão-ninguém.
Repare a quantidade de lamúrias
que tem repetido,
mas quando tem a chance de mudar
só o que repete é “amém”.


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GÊNESE
Ricardo Moreira

Eu me pego a pensar
que a paleta de cores
com que se tingiu o Planeta;
levando-se em conta as nuances das flores...
Creio que não caiba numa só gaveta.

Será que Deus fez um rascunho a lápis
e depois, só, passou a caneta?!
Será ousadia crer que existe dia,
pois noite esgotou tinta preta?!

Vamos falar sério, é incrível o mistério
- imagina o tamanho da ´treta´ –
Como é que era feito o transporte,
não tinham a sorte de existir carreta?!

Será que algum ajudante ficou revoltado
por não ter gorjeta?!
Será que a mistura de cor foi algo planejado
ou saiu como deu na veneta?!

Será que é do dia da inauguração
que se soube anjos tocam corneta?!
Ou talvez era pra ser guitarra,
mas asas impedem de empunhar palhetas?!

De certo há somente que a Terra é feliz.
Como explico isso à gente careta?
Basta prestar atenção...
Até hoje, ora ora, ainda dá piruetas.


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GENITÁLIA DESNUDA
Ricardo Moreira

Com um desfile tão perfeito,
minha escola fez
torcida adversária ficar muda.
Unida em laços estreitos,
da destaque sobre o carro
até o pessoal da ajuda.

E fez confundir confete com confeito
uma faminta inveterada e barriguda
A letra do samba-enredo
deu assim um nó no peito
com lampejos de Drummond e de Neruda,
conseguindo o mesmo efeito
que uma prece que servisse aos orixás,
a Cristo e a Buda...

Queria dizer sem ser suspeito:
a melodia equilibrou nota mais grave e a mais aguda
e um refrão tão raro, um “Deus nos acuda!”, um feito
(e, quando é assim nunca tem jeito,
é como a cola que mais gruda!)

Arrancou da face de um austero,
embebido em preconceitos,
sua expressão tão carrancuda...
mas, se não bastasse o agouro,
existem as premissas do direito
e, para as tais, não basta a arruda!...
Perdi um ponto e o carnaval,
pois algo que não é aceito
é a genitália da modelo aparecer desnuda!
... Antes tivesse colocado uma bermuda!




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GERINGONÇA
Ricardo Moreira

Patenteei um invento,
que em meu pensamento era tão genial;
Pretendia entregar, com a engenhoca, a felicidade.
Bastava dizer qualidades para um par perfeito
a um totem através de um bocal
e ele traria ao solicitante sua cara-metade.

O problema é que eu não caprichei,
durante a fase experimental
e espalhei minha cria
nas ruas de toda a cidade.

Uma moça pediu um “poliglota”,
A geringonça entendeu “quero um troglodita”.
Os adjetivos que ouvi lá no júri...
Ah! Esses... você não acredita!

Curioso é que o “animal”
pediu uma mulher delicada e bonita...
Pra ele, foi tudo normal,
deu pra notar rebobinando a fita!

Faltou-me humildade no invento,
um botão só de “por gentileza, repita”...
Fica a dica a quem mais queira se aventurar,
já que “a arte é o que a vida imita”.

O mecanismo deu pau.
O robô, eu não sei se tomava birita.
Ocorreram absurdos de alguém se dizer fã da Gal,
e ele entender Anitta.


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GIRL FROM EAST ZONE
Ricardo Moreira

Eu a vi na vila Nhocuné,
mas só a alcancei já na Águia de Haia,
tomou um refri no Mané
com a roupa de quem vai cair na gandaia.

Tinha um salto alto no pé
e trajava um vestido tomara que caia.
Passei a apelar para a fé,
para que a visse, num dia, em trajes de praia.

Subiu as escadas
da estação Artur Alvim.
Eu seguiria pra Sé,
ela sorriu pra mim.

Ofereci companhia,
ela disse que sim,
e logo emendou conversinhas
de quem tá a fim...

... daquelas em que um diz "café",
e o outro responde, sei lá, "samambaia";
eis que um arrisca um cafuné,
e o outro aceita, não foge da raia.

Perto do Tatuapé,
aos beijos, já virávamos no Jiraya,
assustando até uma mulher
que, num canto, exaltava Silas Malafaia.

Percebi, percorrendo
suas curvas tim tim por tim tim,
que seu tomara que caia
era de cetim.

No dia seguinte, acordei num quartinho
no Jardim Itapemirim.
só então fui saber
que a moça era dama da noite
e seu nome de guerra, Yasmin.

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GRÁFICOS
(Márcio Policastro, Léo Nogueira e Ricardo Moreira)

Gráficos tentam explicar só o fracasso!
É a razão por que foram criados.
Você já viu algum comparando golaços?...
Passeios felizes?... Dias ensolarados?...

Gráficos dirigem a sua lupa à derrota.
Você já viu algum quantificando abraços?
Quem vence avança nem mesmo anota...
Nem muda de rota quem tem firmes laços.

Números em cotação... Não!
Prefiro as aquarelas
a essas colunas numa tela
sem o menor tesão!


Gráficos até que são bem bonitinhos,
As cores na legenda identificam seus traços
expostos pós-almoço dão aquele soninho
são passaporte pra nos enviar para o espaço.

Gráficos enchem linguiça em reuniões
e são cheios de erros ortográficos
Antes fossem pauta pra escrever canções...
Ah, gráficos? Prefiro os pornográficos!"

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GRANDE CÍCERO, FILHO DA GUTA
Ricardo Moreira

Em vez de bola e carrinho,
marcou sua infância encontrar um apito.
Quem sabe venha daí
o seu gosto por sempre dar seu veredito...

Não fazem a sua cabeça gol, drible
e outras coisas que nem acredito;
coíbe a malandragem, acha a arbitragem,
ofício em que atua, algo tão bonito...

Criado aos gritos da avó,
(que, com “paciência de Jó”,
quase que fica biruta...)
Enquanto Guta, a filha da nobre senhora,
encarava a sua luta.

Porém, desta luta,
o menino não via a cor de um pirulito,
e é isso o que mais machuca a avó,
que hoje escuta o grito das torcidas,
lá do infinito.
Que ele é só o “filho da Guta”,
é o grande Cícero, o “filho da Guta!”

E ele distribui seus cartões,
adverte, expulsa...
“Depende a conduta!”.
É o único em campo
que, quando se vê junto à bola,
desvia, não chuta.




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HABEAS CORPUS
Ricardo Moreira

Tráfico de influência,
emenda "jabuti" e prevaricação.
Negociatas, sofismas,
fisiologismo e tergiversação.

Nepotismo direto ou cruzado,
peculato e ato de concussão,
receptação, descaminho
e fraude em processos de licitação.

Grampos ilegais, pedaladas fiscais,
condescendência e usurpação,
violência arbitrária, lide temerária...
"Ah... Essas coisas que nem dão prisão".

Conchavos (e não por centavos),
"supostas vantagens", "repatriação",
eufemismo em manchete, ora, ora,
o doutor já fez por merecer precaução.

Olhe só, não se faz perigoso,
estude Lombroso, analise a feição.
Por um leite em pó, vai-se ao poste;
duvido, o doutor, que alguém lhe encoste a mão.

Desde que isso aqui foi descoberto,
pobre, preto e puta é quem tem punição.
Ah, o doutor é impoluto, é esperto,
ficha limpa e pode até concorrer eleição.


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HAJA ROLHA
Ricardo Moreira

Sempre que flagrava algum galho,
provava de um vinho diferente.
Sua amada lhe dava muito trabalho
e só uma safra era insuficiente.

Foi de Cabernet Sauvignon e Carmenére,
De Malbec e até um vinho quente...
de Merlot e de Syrah... Pinot Noir ,
Moscatel, Sangiovese e Regent.

Depois modificou as procedências,
pois se esgotaram os ingredientes.
E, sem tempo de manter aquele estoque,
experimentou de São Roque até alguns do Oriente.

Pois a moça não tinha nenhum sossego,
E os sommeliers disputavam o cliente.
E era ela mesma quem os recebia
quando o pobre do Cornélio estava ausente.

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HAPPY HOUR
Ricardo Moreira

Pediu uma gelada o saudosista,
numa sexta qualquer num bar bacana.
Mal o garçom sumiu de suas vistas,
voltou-se ao pessimista, que reclama...

Ambos concordam que artista
não é só quem busca ter fama,
que vive dando entrevista,
mas não mostra nada que seja bacana...

... E falam do Senna na pista,
do Zico e do Falcão na grama,
de “O bêbado e a equilibrista”,
que Elis Regina cantava com gana.

Falam, sem ver que, intimista,
uma voz adorável e seu pianista
exibem-se a uma plateia muito mais ruidosa
que cães ao ver a caravana.


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HEMATOMA E CICARTRIZ
Ricardo Moreira

Num reino distante, cheio de uber e ambulante,
Viviam o Hematoma e sua esposa Cicatriz.
Por acharem a alegria algo irritante,
A dupla preferiu ser infeliz.

Vendo a paisagem, lá de cima de um mirante,
Ela se vira para o seu marido e diz:
- Como é reconfortante bombas em manifestantes.
Praticamente, um show (dos que se pedem bis).

De pronto, ele dá corda, ratifica... Ele concorda:
- É isso mesmo! O mal se corta é na raiz.
Tem que proporcionar o que merece essa horda,
usando as formas mais cruéis e mais hostis.

- Povo que tem coisa de mais para comer engorda.
Vamos botar, de uma vez, pingos nos is.
Já já um desses diz que a nossa Terra não tem borda
e que, pagando bem, tem lado um juiz.

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HOMEM DE ESTIMAÇÃO
Ricardo Moreira

Sim, havia um corpo
estendido no chão.
Pra proteção contra o frio do concreto,
um jornal imitava um colchão.

Fiel, ao seu lado,
um cão vigiava o seu sono.
Sem qualquer ambição,
esses seres jamais abandonam os seus donos.

Harmonia que só se rompia,
durante a refeição:
a implacável disputa
por um só pedaço de pão!

E já que o cão é quem tem melhor faro,
e, ao raro amparo, é sempre a primeira opção
Chega-se à conclusão
de que é ele quem tem um homem de estimação

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HORÁRIO GRATUITO
Ricardo Moreira

Tirei meus fones de ouvido e constatei:
o som dos parques é bem mais agradável.
Trilha sonora daquele colorido,
Águas e aves com seu canto incansável.

Tornando a ouvir, tudo ficou mais visível,
e eu pude definir o que é estar tranquilo.
E o melhor, gratuito, ali disponível...
A quem quiser desfrutar de tudo aquilo.

Tirei meus fones de ouvido
e esse simples ato trouxe para mim a certeza,
o que nos chega concentrado em fios é ruído,
o som mais lindo é o que vem da natureza

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IbiraPoeira
Ricardo Moreira

Meninas corRindo,
migrAntes na praça PAZtell...
O maestro corRegendo a orquestra,
um trovão GRIStando no céu.

Domingo antecede a segunda brava.
Sê bunda, grava!
Vendo as pessoas nas pizzas de culper,
de prEnguiça, minha perna trava.

No MAM “chicas” e exPOSESções (filas... filas),
paMilhões na Bienal (filas...filas)
eVentos de filãoTropia
e cLaridade em sua marCrise (Filas, filas)
Take it easy...

BiciQuietas modelam cinDuras,
paTeens e corpos bem moDosLados
oBelisco mantém minha postura
conVersos à beira do lago...

IbiraPoeira


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IDADE DO LOBO
(Ari Reis e Ricardo Moreira)

Olhou, sorriu...
Depois tentou fingir que nem me viu.
Falou com a amiga sobre o tempo.
Estava frio.

Chamou o garçom,
li nos seus lábios até o que ela pediu...
Coloriu a minha vida
que andava em branco e preto,
bagunçou o meu coreto.
Sonhei até com a princesa,
passeando em minha ¨carruagem¨ motor mil.

Subiu minha autoestima
e, lá de cima, eu pensei,
o que de atrativo em mim,
a mocinha viu...

Se aproximou de forma respeitosa
e, ao contrário do previsto,
Ela não me chamou de ¨tio¨
(e eu, todo prosa...)
Na verdade, a gostosa só queria
era me vender Grecin 2000


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ILUSÓRIO UM A ZERO
(Zé Terra e Ricardo Moreira)

Quantas vezes ameaço desistir de tudo
e, num segundo estudo,
mudo de ideia... espero!

Volto para última etapa
com espora, espada e escudo
e, com apoio da plateia,
percebo que apenas perdia
por um ilusório um a zero.

Sei que é sempre assim,
mas meu defeito
é que eu transformo em alcateia, o clero;
visto veludo no verão,
prevendo frio menor que zero;
devolvo o ingresso antes da estreia,
ao ver o público severo!

Sempre assim... Morro de medo do amor,
pois acredito no que diz a letra do bolero
e, ao veredicto do juiz, então, me desespero,
pra, no final, ganhar um beijo da atriz,
com um simples passo em direção
ao que eu quero!


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IMOBILIDADE URBANA
(Ari Reis e Ricardo Moreira)

Iria entrevistar umas atrizes,
de uma peça lá no Tuca,
ali no bairro de Perdizes,
Havia um limitado número de senhas,
e eu estava em plena zona leste
muito além da Penha...

Temia ainda a chegada da chuva,
pois ali na Aricanduva
um terrível cenário se desenha...
Ouço no rádio: “a Radial toda travada...”
Cumprir horário agora
nem com mil novas estradas...

Cruzar São Paulo nem com reza brava
ou truques de abracadabra...
mais fácil é consertar um celular
com pé-de-cabra.

Cruzar São Paulo nem com reza brava
ou truques de abracadabra,
mas pra quem pode se teletransportar
não tem lugar melhor pra se morar,
senão mais fácil é consertar um celular
com pé de cabra.


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IMPACTO SOCIAL
(Gabriel de Almeida Prado e Ricardo Moreira)

Doutor Irineu planta soja
e alguns deputados pra agir no Congresso;
Matheus com sua moto se arroja,
fazendo delivery em Bonsucesso.

Pastor Valdecir se enoja
se as aulas na escola falarem de sexo;
Matilde, em sua loja vazia,
lê que o país vivencia o progresso.

Participam de um grupo em comum,
porém só dois deles chafurdam em dinheiro.
Estes vivem em Miami ou Cancún,
os outros apelam à luz do candeeiro.

Compartilham, na rede, ideais...
Reconhecem-se iguais como "bons brasileiros",
ao trombarem-se em espaços reais,
é um tal de SUV derrubar motoqueiro.


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INCOMENSURÁVEL
Ricardo Moreira

Caio sofre, porque é tímido;
Fátima, pois está flácida;
Ivone, em razão de suas cólicas
e Ana, pelo fato de a acharem antipática.

Célia sofre exposta a críticas;
Sílvia, por razões estéticas;
Paula, com as decepções que há na política
e Zenaide, quando as senhas são em ordem alfabética.

Gabriela sofre com a matemática;
Seu Jurandir, com as dores no nervo ciático;
Antônio sofre muito graças à rinite alérgica
e João, por várias situações traumáticas.

Não se explicam aflições com a genética;
cada drama pessoal pede uma tática;
não se mensura, não existe fita métrica.
Vencer tristezas individuais exige prática.


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INESGOTÁVEL
(Fernando Cavallieri e Ricardo Moreira)

O amor não tem canção definitiva
mesmo após tanta saliva
que se usou com tal assunto...
De forma melancólica ou festiva,
na voz solo de uma diva
ou entoada em conjunto.

O amor é tema quase onipresente
com teor terno ou “caliente”,
superficial.... profundo...
É que o cupido atinge ateu e atinge crente,
atencioso e indiferente,
em qualquer parte do mundo

Sempre tem que chora por amor.
Tem sempre um coração flechado pela dor
E até pra quem diz que o amor é uma “flor roxa”
ele acontece de repente e chega avassalador.


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INEXORÁVEL
Ricardo

Não raro, o telefone toca
e nos vemos confusos diante das teclas...
Não raro, a "bola nas costas"
vem da própria casta, dos próprios asseclas.

Não raro se busca no estoque
o que, diante dos olhos, estava em destaque...
Não raro nos vemos expostos
a um truque, algum tóxico ou um tipo de achaque.
v Não raro, esgotam-se as cotas,
o prazo pra troca, as brechas para o ataque.
Não raro fracassam retórica,
tanques, cultura ou o charme do sotaque.

Não raro é cruel o telúrico
e busca-se a fuga em algum atabaque...
Um táxi qualquer rumo a alhures...
Quem sabe, imersão em Flaubert ou Balzac.

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INFLUÊNCIA DO BRÁS
(Ari Reis e Ricardo Moreira)

Pobre aqui não é o samba,
pobre é o sambista, ô meu!
Conto a história de um que conheço,
ali da Florêncio de Abreu.

Não sabe ler partitura,
entrevistas jamais concedeu,
porém tudo o que ele canta,
você ouviu, entendeu.

Tudo sem muita firula,
para ouvidos normais...
A coisa pra ele é assim:
mais cachaça, menos sassafrás.
Brasuca-afro-italiano
sem plano ou estratégia por trás.

O que ele chama de seu ¨carro”,
vive quebrado ou sem gás,
o jeito é cruzar a Avenida do Estado a pé
e buscar influências no Brás.

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INTRADUZÍVEL
Ricardo Moreira

O bigorrilha, então, desceu da traquitana,
ostentando bugigangas, trecos e quinquilharias;
fazendo pose como se fosse um bacana,
um verso de Mário Quintana,
um detentor de honrarias.

Chamando atenção pra si,
o doidivanas cria possuir um brilho
de ofuscar as Três Marias.
Vi que atendia pela graça de Pestana,
e é assim que ele subiu aos trending topics uns dias.

Caricatura em filme do Hugo Carvana,
passou a ser aclamado como um verdadeiro guia,
ganhou as capas das revistas da semana,
afiliou-se a uma legenda, pela qual concorreria...

... Ao posto-mor de uma nação republicana,
certo de que o eleitorado nele se espelharia.
E, eis que o povo (e sua vontade soberana)
hoje aguenta as trapalhadas do infeliz dia após dia.

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INVISÍVEIS?
Ricardo Moreira

Nada mais assusta
quem viveu o baixo Augusta,
quem perambulou pelo Glicério
(e isso é sério);
defendeu uma grana
no auge da Nestor Pestana;
frequentou a noite,
desvendando seus mistérios.

Nada intriga
quem ocupa as ruas do Bixiga;
passa o tempo ao léu
na praça Princesa Isabel;
madrugada afora,
toma uns drinques na Aurora...
Comemora estar seguro
na Amaral Gurgel.

Há quem, entre os despejados
da Barão de Duprat,
jure que o filho do Criador
já foi flagrado disfarçado por lá.

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IOIÔ
Ricardo Moreira

A vida é mesmo muito surpreendente...
Ora, é um troço efervescente
e a gente procura gente
pra dizer que admira e que ama;
ora, o que nos faz contente
é só um banhinho quente e uma cama!

Ora, se quer sair rolando,
não importa se é areia, neve ou grama...
e pede até para que a vida
nos dê carona ao deserto do Atacama...

Ora, bate um cansaço, uma “leseira”,
que só por Deus ou Dalai Lama...
e só se quer a sexta-feira
Pro chocolatinho quente, pra pantufa e pro pijama

A vida é mesmo surpreendente,
é o claro e o breu, a brisa e a chama
é o passo atrás, o tombo à frente
é o anonimato e a fama.


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ISSO AQUI ERA TUDO MATO
Ricardo Moreira

Você pratica algum spoiler?
Qual cracker tem idolatrado?
Por qual streamer você torce?
É um desses gamers ranqueados?
Jamais caiu num "Trojan Horse"?
E em Deepweb diz que é "vacinado"?

Ainda assim, peço: se esforce.
Tenho o processo evolutivo
completinho e detalhado
Conheço até Código Morse.
Datilografo e nem olho para o teclado...
Se minha imagem de TV distorce,
boto Bombril na antena em cima do telhado.

Quando cheguei aqui isso era mato.
Não me leve a mal, nem me ache chato,
mas, antes de me chamar de "cringe",
vá gastar sola de sapato!



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ISSO QUE NÓS NOS TORNAMOS
Ricardo Moreira

Cultivava, entre os seus, Josué
a admiração do amigo Alfredo...
Se aquele mantinha um apego à fé,
deste o ceticismo não era segredo.

O primeiro afirmava, convicto,
ser o homem uma criação de Deus.
Certeza que nunca rendera conflito...
Entendia a visão dos ateus.

Um exemplo é o que apregoava o segundo
- que “Deus é que é cria do homem” –,
e seguia girando a roda do mundo,
“amigos não brigam na mesa em que comem”.

Avessos em várias questões desde imberbes,
Um era Vai-Vai; o outro, Camisa.
E, mesmo em lados opostos no dérbi,
O máximo que houve era um ouvir Maísa.

Porém com atropelos da vida real,
os encontros ficaram bissextos,
e a velha amizade, tão forte e leal,
restrita aos contatos por textos...

Daí por diante, deu que cada qual,
suscetível à ação de um cabresto,
passou a ver, no inverossímil, o normal,
da ode à tortura a invenções de incesto.

E um passou a enxergar no outro enorme boçal,
e, de boçal, a um total desonesto.
E eu só por um capricho é que conto o final,
imagino que saibam o resto.

Dispensaram a linguagem verbal,
decretaram o adeus com um gesto,
usando o dedo central, num famoso sinal,
em forma de protesto.


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JANTAR DANÇANTE
Ricardo Moreira

Era início do baile,
lá dentro o conjunto tocava "La Mer".
Flagrei-a em seu desembarque,
o contraste entre o esmalte e a luva do chofer...

... Fenda no vestido,
um colar de brilhante,
o salto no asfalto,
meu Deus! Que mulher!...
Dessas que se devora com os olhos...
Está dispensado o talher.

Era início de baile...
Creio eu, os garçons distribuíam o "couvert"
Botei na cabeça: “Eis minha ´partner´ na pista!”...
“Será que ela quer?!”

Um gole de "Dry Martini",
"Nouvelle Cuisine"
e, aos primeiros acordes de "Love is in the air".
Chamei-a pra contradança. Aceitou.
Concluí com sucesso o mister.


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JINGLE BÉLICO
Ricardo Moreira

Sob a árvore estão os presentes;
os ausentes estão sob as pontes;
no fronte, os indiferentes;
insensíveis encontram-se aos montes.

Sob a marquise, os carentes
a viver sem nenhum horizonte.
É Natal e se esquece o que é urgente
e se engorda igual a um rinoceronte.

Vamos cantar em coral:
“Chegou o Natal,
que data tão linda!”
Roupas novas, e a mãe de avental,
o peru não ´tá pronto, ´tá no forno ainda.

Vamos cantar em coral:
“Chegou o Natal,
persevera o amor.”
Só que adultos discutem política
e os jovens não saem do computador.


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JUSTICEIRO
(Ari Reis e Ricardo Moreira)

Gastei até o que não tinha,
pra que o sucesso do plano fosse total.
Não quis que ela tivesse tempo,
de ser carregada a um hospital.

Não quis que gerasse notícia
em nenhum caderno policial,
só sonhava em vê-la mortinha,
um ¨serviço¨ de profissional..

. Não quis que dobrassem os sinos,
Ou que meu rosto estampasse
os cartazes ¨procura-se¨, pela cidade.
Não! Não é assassino,
quem só quis matar a saudade...

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LABUTA

Dá um beijo no marido
e diz: “Meu bem, eu vou à luta”!
Ele, um tanto evoluído,
não oprime a esposa “enxuta”.

Pudera! É dali que tem saído
o sustento dos caprichos e a melhor fruta...
Antecipam-se aos carnês vencidos,
e pagam todo tipo de consulta

Astuta, foge dos mais pervertidos.
E é cada coisa que ela escuta!...
Claro que um ou outro, sem sentido,
perde o rumo e até a insulta...

Pra ela é tudo tão divertido,
o que acontece numa casa
de “freqüência adulta”.
Mesmo porque
é ela quem arranca o real gemido,
e isso não há quem discuta.

E eu já estava terminando essa canção,
e ela me liga com um pedido
e quer que eu repercuta,
diz que trabalha num ‘inferninho’, sim!
Mas ela é caixa,
ela não é prostituta!



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LADRÃO DE IDEIAS
(Márcio Policastro e Ricardo Moreira)

Um meliante furtou-me uma história,
mas ao tentar fugir com tanta rapidez,
deixou cair o ¨...foram felizes para sempre¨,
e logo adiante, o ¨Era uma vez...¨

O detetive que cuida do caso,
sofreu um atentado com um vaso chinês,
o interessante é que, não por acaso,
era igual ao que eu botei no capítulo três.

Ele caiu ali desnorteado,
espalhando na calçada sua capa xadrez,
pensou que era o Sherlock Holmes...
O coitado acordou até falando em inglês.

Curá-lo, eu digo, foi um sacrifício,
e o gatuno, com isso, ganhou mais de um mês
e a minha história sem fim, e sem início,
já causava pesadelos de ¨damas¨e ¨reis¨.

Vou com os trechos encontrados
me amparar nas leis!!!!


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Lavoisier 'tá novo
(Precisamos falar do xixi)
Ricardo Moreira

O homem chegou ao espaço
e, com régua e compasso,
construiu usinas.
Como pode ninguém ter achado um fim nobre
a qualquer propriedade da urina?

Faz flutuar o aço,
mas joga na água que bebe
o que ele elimina.
Como pode ninguém ter achado um fim nobre
a qualquer propriedade da urina?

Num planeta que viu viver Pablo Picasso
e onde existe a muralha da China
Como pode ninguém ter achado um fim nobre
a qualquer propriedade da urina?

E se faz pinga até com bagaço
e há quem jure dar um novo hímen à vagina.
Como pode ninguém ter achado um fim nobre
a qualquer propriedade da urina?

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LEI DA GRAVIDADE
Ricardo Moreira

Estude, que a sua bunda irá cair
Confie, é a voz da experiência
quem vos fala.
Eu sei que é tão lindo hoje o seu ir e vir,
porém em pouco tempo ninguém vai notá-la.

Estude, que a sua bunda vai cair...
Achei por bem vir logo avisá-la.
O tempo passa, a decadência vem,
nós temos que assumir
um dia já foi chique quem tinha um Opala.

Estude, que a sua bunda vai cair...
A gravidade age em proporção com a escala.
Um dia, uma calça preta, enfim, vai substituir
essa que usa agora em cores de mandala.

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LEVA PRA SUA CASA
Ricardo Moreira

A verdade é que quem forma opinião
não sente na pele os problemas
que afligem a multidão.
Deveriam é agradecer por ser de um nicho
e, frente à gente “quase bicho”,
não pisar, mas dar a mão.

Não me refiro a só botar a mão no bolso,
mas mandar para o calabouço
quem desfalca algum tostão
é atacar a consequência não o motivo,
até pois quem define o crivo
dá desfalque em bilhão.


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LI”MITANDO”
Ricardo Moreira

Eu li “mito”,
Devo confessar a você
que quase não acredito
que existe quem sonha em viver
de um modo mais restrito,
optando, olhe só, pelo fim da opção
de poder dizer “Não!”.

Quem dera todo aquele
que olha com repúdio
o jeito de pensar “reaça”,
sempre que ouvir alguém gritar “Ó(lha) o capitão”,
pense em Cafu erguendo a taça;
e o nome “praça” só remeta a um logradouro
ocupado pela massa...
E tenho dito!

Eu li “mito”,
Eu vi um ex-torturador
aclamado por gritos,
Eu vi gente agressiva
Ali a estimular o conflito,
e a jurar só estar defendendo
os “valores cristãos”.

Quem dera todo aquele
que olha com repúdio
o jeito de pensar “reaça”
não sinta o bafo quente
de homens de coturno
se quiser tomar cachaça,
e o milenar conceito,
que é o do livre-arbítrio,
atirado para as traças.
E tenho dito!

Eu li “mito”...
Eu não me conformei por notar
que há quem ache bonito,
o cabresto, o estalar do chicote
e o soar do apito...
E eu vi alvos em potencial
a pedir repressão.

Quem dera todo aquele
que olha com repúdio
o jeito de pensar “reaça”,
que, exposto ao autoritarismo e à censura,
quer distância da desgraça,
note que quem se autoproclama “o diferente”
já tem sido há tanto tempo
conivente com a trapaça...

Quem, de um palanque,
vem com papo de ser pedra
é só mais uma entre as vidraças.


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LIMO NADA
Ricardo Moreira

Quando a vida não me deu limão
escorreguei no limo.
Quando vi caminho aberto a irmão,
eu era primo...
Quando achei ter encontrado
um ombro amigo,
este outro ombro usou-me, antes,
de ombro de arrimo!

Mas, sou digno e tenho uma morena
a quem tanto estimo.
É só com o sorriso dela, que eu me animo.
Ela tem um beijo doce
e é tão carente de mimo,
Anjo, que Deus mesmo trouxe...
É para ela, que eu rimo

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LIVRE ARBÍTRIO
Ricardo Moreira

Entenda, de uma vez por todas,
o afago desarma bem mais que a agressão.
Onde é que está escrito que é errado
não se concordar com a sua opinião?

Cada um tem seu livre arbítrio,
já passou, faz tempo, a inquisição.
Quem sabe, diante de um “não”,
não seja um bom momento pra reflexão?!

Gritos não são argumentos!
Nem venha com essa de imposição...
Precisa rever todos os instrumentos
que usa pra persuasão.


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LOLITA
Ricardo Moreira

Busco somente aconchego em suas pernas,
pra mim, você é uma válvula de escape.
Essas suas gírias modernas...
Meu Deus, onde aciono a tal de tecla sap?

Falando contigo, meu broto,
me sinto um homem das cavernas só falta o tacape,
Talvez você supra sua ausência paterna,
e isso, eu levo em conta, na ponta do lápis...

Lolita! Fala sério, acredita você que me engana,
com essa história de ter de ir pra cama bem cedo,
nos fins de semana?
Minhas rugas me fazem saber de suas fugas,
para os bares da moda, a turminha bacana,
e eu nem me sinto traído
ao vê-la atraída só pela minha grana


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MADRIGAL DO PASSAREDO
(Fernando Cavallieri e Ricardo Moreira)

Tem cheiro de manjericão no quintal;
sabiás visitando a janela;
a represa se vê logo ali do portal;
lampiões, castiçais e arandelas.

Tem doce de leite, iogurte, curau...
Uma cuca - a maçã e a canela –
Ao longe se ouvem animais no curral,
alvorada se mostra tão bela.

Riqueza maior que qualquer capital,
o ipê com sua copa amarela,
a água na fonte, o balanço em sisal,
quaresmeiras por sobre a cancela.

O fruto no pé, a flor do colorau
Um madrigal entoado a cappella
por um joão de barro, um canário e um pardal
e é real, não óleo sobre a tela.


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MAIS UM MENOS
Ricardo Moreira

Em terra de cegos,
quer ser feliz?
Finja não ver também.
Junto aos banguelas
sirva-se de sopa,
concorde com quem vê
roupa no rei.

Não vá além,
repita os gestos
junto à gente louca.
Por que ir contra
quando é coisa pouca.
Irão dizer que é mero nhenhenhém.

Em rio que tem piranha,
escolha o caminho da ponte,
não se arrisque e você se dá bem.
Pra que ser mosca
em briga de aranha?
Ou rosca, se martelo
é só o que se tem?


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MALUCO É SEMPRE O OUTRO
Ricardo Moreira

Como se identifica um maluco?
Como se reconhece um normal?
É o que se transtorna enquanto joga truco
ou o que faz das calçadas quintal?

... É quem visa somente ao lucro
ou quem pouco se importa se o Wi-Fi tem sinal?
Ou é quem se mata para ir a Acapulco
e exibir a alpargata em rede social?...

Será que é quem joga para alto
antes de adoecer com “Burnout”
ou quem, nessa pressa diária,
é alheio a um corpo caído
em um canteiro de uma Marginal.


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MANGUINHAS DE FORA
Ricardo Moreira

Tive um devaneio noturno,
misto de revolta e decepção.
Sonhei que, trajando um coturno,
Adolf Hitler surgia como opção...

... para a sucessão do Governo
e olha que, nas pesquisas de opinião,
com chances de 2º turno
e herói pra parcela da população.

Inclusive um e outro com tudo
para serem os primeiros a ir à fogueira,
miscigenados, como é a formação contumaz
da nação brasileira.

Passei uma água no rosto,
e porção do desgosto é só o que foi embora.
Ficou a impressão que o totalitarismo
tem posto as manguinhas de fora.


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MÃOS AO ATO
Ricardo Moreira

O que será que deixa
“seo dotô” tão preocupado,
dentro do seu carro blindado,
em sua ronda noturna?

Será que ´tá cismado
por ver guri entusiasmado,
com o dedo na cartilha
e agindo em turma?!

Pode ser que nesta noite
seo dotô nem durma,
pois se um dia esse povo
for bem educado
é ele quem perde na urna...

Tomou susto seo dotô?
Ou segue apenas o conselho,
de que em certas situações
é bom que não reaja,
ou se espantou de ver guri,
podendo encarar o mundo
com seu rosto sem tarja?!


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Maracas? (Maracanã ou maracatu?)
Ricardo Moreira

Com uma calça Saint Tropez,
Um chapéu panamá,
E tragando um havana,
camisa florida e sandália...
A vida, um eterno final de semana.

Um coquetel sabe-se lá do quê,
uma rumba no rádio, coqueiro e banana...
Gringo até pensa que encontra macaco,
Ao se andar na praia de Copacabana

É a imagem que se tem do brasileiro,
retratado na TV americana.

Pensam que aqui ninguém escreve ou lê,
está atrasado um estágio em evolução humana.
Pensam que aqui a extrema arquitetura
(a essa altura) é oca, barraco é cabana.

Quando é só burrice ou ignorância
nem tem importância, o povo desencana.
Triste é ver gente perpetuando a ideia
e, com isso, enchendo o “rabito” de grana


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MARGEM DE ERRO
Ricardo Moreira

Eu acho que a conheci em São Conrado,
posso até estar errado, e isso ocorreu no Aterro.
Tudo que aqui trago relatado
deve trazer agregada uma certa margem de erro.

Ela estava com o carro emperrado
e pediu pra que eu parasse, implorando, dando um berro,
mas, segundo ela, a gente se encontrou em um mercado,
ali ao lado da linha de ferro.

Sempre fui assim,
confundo Vitória de Pirro,
Escolha de Sofia e Voto de Minerva...
Trago uma versão "oficial" pra cada fato,
mas acato se alguém traz versão "reserva".


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MASSA DE MANOBRA
Ricardo Moreira

Comendo um Big Mac,
boina à Che Guevara,
tênis Nike no pé.
É a contradição em pessoa:
uma coisa é o que prega,
outra coisa é o que é.

No bolso, traz um rapé
e um I-phone de último tipo.
Eu, sem medo de errar, antecipo:
ele é da massa de manobra!
Um perfeito Zé Mané!

Repete frases
que aprende nas redes sociais:
“força, foco e fé”;

só que o que mais o chateia
é quando “mãinha” atrasa o café.

Depende o lado que venta,
ele é oito ou oitenta;
ora ele é pimenta; ora, é picolé;
ora, é Maradona só para irritar
quem prefere o Pelé.

Manifestando, é centavo,
defende o escravo,
atravessa a Paulista,
ponta a ponta, a pé,
mas na hora do voto,
ele é “casa-grande”
e elege o coroné.



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MASSAGEM “TAILA ANDRESSA”
Ricardo Moreira

Imagine alguém que se encheu
de viver num lugar
e deseja uma nova paragem;
um ar renovado pra se respirar.

Aliás, é o que muitos querem,
mas falta coragem.
Não é o caso desta personagem
que lhes apresento... Eis, o Ribamar.

É do tipo que age
antes que a vontade arrefeça;
sem pensar, junta toda bagagem
e anexa a oração “que o melhor aconteça”.

Quem, após exaustiva viagem,
ousaria pensar em qualquer sacanagem
ou nalgum dos prazeres
que um novo destino ofereça?

Só que trouxe lá do Maranhão
a fama de ser o maior garanhão.
Por favor, compará-lo ao perfil-padrão
é um absurdo, esqueça!

De relance, notou um gigante anúncio
juntar-se à paisagem,
de uma moça pegando friagem na foto,
sem um agasalho para que se aqueça.

Ele, ao ver a imagem
do que parecia vender clínica de massagem,
vislumbrou ter achado ali
a mulher de sua vida, alguém que o mereça.

Creio que um detalhe fez falta,
Ribamar, eu não disse, era um tanto apedeuta
e outro atributo chamou a atenção do inculto,
o que virou, de vez, sua cabeça.

Pelo pouco que conseguiu ler,
concluiu que a moça era “terapeuta”.
Mais que isso tinha um nome lindo,
era “Taila Andressa”

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MATUTO
(Sonekka e Ricardo Moreira)

Ô seo matuto! ‘Xô proseá c’ocê um minuto,
co meu caipirês pra lá de fajuto,
que eu trôxe de lá da capitá?
Sabe caboco? Mi´a terra só tem cimento bruto,
e se prantá corqué um dos fruto
todos recusa a se agerminá.
Mas todo dia o que eu escuto entre os gravata,
copos de uísque e talher de prata
ó Meu cumpadi, é de ripiá.
Uns fica rico co´os tar de dízimo dos tar de culto,
otro levanta uns baita viaduto,
pra móde, a obra superfaturá.
Não sobra um puto
pro povo e essa história não é nova,
Mas onti eu quase cavoquei minha cova...
Então decidi mi fugi pra cá.
E ninguém me ofenda,
se eu paguei em dia o imposto de renda,
que eu sei manejá as chave-de-fenda,
Mas já não tá mai dando nem pra armoçá
arresorvi ergue a tenda,
aqui no seu quintá...

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MEDOS E ANÉIS
Ricardo Moreira

O poeta é capaz de enxergar em um rochedo
a paisagem dos Alpes vista dos chalés.
Une a dor de um Álvares de Azevedo
à euforia de atirar ao alto os bonés.

Concede beleza a um mero arremedo
(parece curá-lo igual fazem os pajés)
Transfere ao “eu lírico” os próprios segredos.
Aborda o óbvio por outro viés.

Interpreta, dos sons do vento no arvoredo,
um belo improviso de um solo de jazz...
Em um mundo em que se vão os anéis ficam os medos,
as palavras são dedos que usa em cafunés


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MEIO BARRO, MEIO TIJOLO
Ricardo Moreira

Entre o razoável e o medíocre,
um "nota quatro e meio"
que não disse ao que veio,
Covarde, inseguro e arredio

Lá vou eu pra rotina diária,
reclamando da "vida de corno"
Saio já desejando o retorno
Quase entregue a uma força contrária

Lá vou eu, um "nem fede, nem cheira"
Sem nem mãe por perto, pra chamar de "lindo!!"
com um risco no disco, na Segunda-feira.

Bom seria, ficasse dormindo...
Um "raspa de tacho", um "sem eira, nem beira"
Ponto para o mundo, nem tivesse vindo...


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MELANCIA NO PESCOÇO
Ricardo Moreira

Melancia no pescoço
já nem é mais sinal de ousadia
nem chama atenção

É tanta vaidade, seu moço,
tempera-se a casca,
e o recheio é insosso...

Vale sempre lembrar:
Quem deseja voar
perde tempo montando em pavão.

... Se o que era exceção virou regra,
então, faz boa escolha aquele que se entrega
a quem procura agir com total discrição.

Quem mendiga um olhar quer ser centro,
imagine-se dentro dessa situação...
Há o risco de servir ao ego alheio
só como uma viga de sustentação.

Melancia no pescoço
já nem é mais sinal de ousadia
nem chama atenção

O troço tá feio, tá osso...
Ou se ama um Narciso,
ou se constrói um poço.

E os que compram
por gostar da capa
sequer têm direito a devolução.

... Se o que era exceção virou regra,
então, faz boa escolha aquele que se entrega
a quem procura agir com total discrição.

Quem mendiga um olhar quer ser centro,
imagine-se dentro dessa situação...
Há o risco de servir ao ego alheio
só como uma viga de sustentação.


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MERA COINCIDÊNCIA
Ricardo Moreira

O dono do circo “deu mole” com o borderô
e, aí, cada integrante da trupe tirou seu quinhão.
Encontraram alguns poucos reais
escondidos na cueca do domador;
Uma ou outra moeda no bolso do anão...

No trailer da mulher barbada,
acharam uns trocados sob um cobertor...
Percebeu-se: a cartola do mágico
não era usada só para ilusão.

Estranho, ao xerife Palhares,
o desfalque passou dos milhares.
A questão que pairava no ar:
“Foi parar em qual mão?”

O palhaço, que não era bobo,
safou-se, ileso, na apuração,
usou de ”laranja” a filha trapezista
e, ao cara do som, deu-lhe uma proporção...

Som, que, aliás, foi o jeito
que o dono usou para falar dos malfeitos
aos ouvidos surpresos da população.

Com culpa em cartório, a “imprensa”
mentia sem pedir licença.
Preservar o palhaço gatuno era sua missão.

Lona recolhida, um plano perfeito,
a maravilha que é o povo exercer seu direito:
o palhaço tornou-se prefeito em recente eleição.




MERITOCRACIA
Ricardo Moreira

Criada em condomínio rústico,
erguido num morro e com ampla visão.
Mãe, samambaia, cachorro
e seis remanescentes de seus dez irmãos.

Filhos de pais diferentes,
quatro deles crentes, só um é “avião”;
o outro é até bem competente
com seu futebol, mas jamais seleção.

A moça não se conformava com as frentes
que lhe davam como opção.
Bem diferentes das que se oferecem
a quem reside lá no chão.

Lá embaixo é arquiteto, é engenheiro...
há quem cuida de dente ou cura coração.
Pilotam-se carros potentes,
são feitas matérias pra televisão.

No morro, a verdade corrente
é que gente decente é quem tem profissão.
Sobreviver é urgente.
Sonhar se permite a filho de patrão.

Que seja atendente (e se dê por contente)
“Jamais abandone o balcão!”.
Há de ser bem persistente
pra quebrar as regras, tornar-se exceção.


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META
Ricardo Moreira

Com receio de rasurar caderno novo,
poesia ficou com rima, de baixo a cima, ruim.
Recheio erudito não agradou povo
e o que foi dito no início não combinou com o fim!

O incrível, a crítica aprovou-me em seu crivo,
mas a desgraça, os gráficos jogaram contra mim.
Escalei calões com um caráter digestivo.
Engoli letras, misturei até o chinfrim.

E já que o assunto é fome,
na visão dos “hómi”
arte sem ter quem consome
é “tirá os ovo du quindim!”

Com receio de rasurar caderno novo,
poesia ficou com rima, de baixo a cima, ruim.
E quanto mais para as coisas simples eu me movo,
mais levo sovas, dessa filha do latim!

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METRÓPOLE
Ricardo Moreira

Metrópole,
que se atropela em quilômetros
de obras inacabadas do último mandato!

Metrópole,
da ausência do toque de pele,
a não ser no esbarrão cheio de desconfiança:
o primeiro contato!

Metrópole:
pálida e poluída ao dia,
colorida à noite em neon,
promovendo o supérfluo polido,
ao posto de bom e barato!...
(Sensato é prevenir forasteiros de que, fora essa rasteira,
de nada adiantam certos aparatos!)

Metrópole,
a tripulação é teu maior problema,
Anos e anos, de canetas em punhos
que mereciam a algema!

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MEZZO-SOPRANO GOURMET
Ricardo Moreira

Sentada sobre um piano, no palco de um bar,
uma bela morena cantava “Dindi”
Corpore sano, um brilho no olhar
e a voz mais serena que eu já ouvi.

E ela desfila Jobim, Janis Joplin... Caetano,
e a plateia, contente, acena e sorri!
Da mesa, de onde eu me via a contemplando,
só queria sumir com a deusa dali.

Com graça e uma extensão mezzo-soprano,
ela emenda um sensacional pot-pourri!
Talento fenomenal (até desumano!),
se eu tinha problemas, na hora esqueci.

Pus em prática um plano,
ao garçom, entreguei guardanapos
com versos pra ela que eu escrevi
recompensado, um bom samaritano...
em instantes, borrava o seu batom rubi.

(...) em instantes, mirava a musa de lingerie.

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MIMIMI?
Ricardo Moreira

Há um hospital que é muito ilustrativo
lá num bairro da zona sul,
afrodescendentes são os cirurgiões
e todos seguranças, loiros de olho azul.

Mesmo vendo estes com comunicadores
e o estetoscópio e as vestes dos doutores,
quem jura não haver preconceito
solicita àqueles toda informação...

... e pede pra que chamem os elevadores,
liberem a porta para outros setores...
Ao tempo em que passam a narrar suas dores
a quem nem pode agir por não ter graduação.


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MINDSET
(Sonekka e Ricardo Moreira)

Talvez venha a vender uns pães de alho
na lagoa da Pampulha caso me falte trabalho;
ou, quem sabe, umas coxinhas lá em Caxias
pra fazer o meu caixinha, já que nunca fiz conchavos.

Outra opção é ir pro pedágio da Imigrantes,
vender uns refrigerantes, torresminho e queijo coalho...
Creio que em um território tão gigante
caiba mais um ambulante batalhando por centavos.

Talvez também venha a alugar um patinete
pra vender bala e chiclete a algumas jardas dos Jardins.
Quem sabe eu vire coach lá no Largo do Arouche,
ensinando a enriquecer fazendo estampa em silk-screen.

Foi-se o tempo de comer gilete,
programei meu mindset e ignoro o que é ruim...
Tal teoria, se não cumpre o que promete,
eu já li na Internet que dá pra vender um rim.


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MISANTROPIA
Ricardo Moreira

Nas circunstâncias ideais,
eliminar-se-iam as dores
motivadas pelos seres
que se julgam superiores.

Exclusão, circo de horrores,
morte, câmara de gás,
misantropia, o ódio dos “senhores”,
o chicote, o capataz

A grana...
a “raça ariana”,
e até a lama em Mariana,
o preconceito, o caos e o cais...

e, sob o “escudo” de internauta,
ainda existe gente que exalta
os mesmos erros cometidos lá atrás...

“Raça pura”? A essa altura?
Deus do céu!!!!
Não cabe mais

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MONSTROS E FANTASMAS
Ricardo Moreira

Tá, eu entendo, meu filho,
eu não quero exaltar o tempo dos “milico”.
Mas, fazer o quê?
Sou saudoso do tempo
em que o Adílio jogava com o Zico
e, no rádio, Caetano fazia tabela com o Chico.

Hoje impera a tal liberdade,
o talento perdeu espaço para a vaidade
e, em terra de pernas-de-pau,
jogadorzinho normal só faz publicidade...
Juro que eu gostaria
que isso fosse só ranzinzice da idade...
Que os tempos são outros
e a culpa é só minha
em não ver qualquer qualidade.

Hoje, o som é digital, e a TV sem “fantasma”,
é alta a qualidade.
Praticamente a faca e o queijo na mão
pra acabar com a saudade,
mas eu confesso que eu consertaria a antena
em meio à tempestade,
se fosse pra ver novamente
o auge dos que eu citei mais o Gil e o Andrade

Na situação atual,
hits de carnaval competem em ruindade...
Tem funk “sarrando as ´novinha´ no grau”,
tem caubói do centro da cidade,
tem refrão “chiclete”, e é legal quem repete,
é “modinha” e faz tudo igual.
Então, todos juntos gritemos,
como em um coral:
VIVA A MEDIOCRIDADE!!!!!

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MORAL DA HISTÓRIA
Ricardo Moreira

É um bicho de sete cabeças
ver que existem ”mulas” sem uma sequer
e que há motivos pra que isso aconteça´.
Inocência? Só no malmequer, bem-me-quer...

Falha até quem não move uma palha,
crente que a vida é um salve-se quem puder...
Crente que, se não é dele a batalha
Então, por que vai meter sua colher?!

“Está tão bom assim, pois quem paga o pato
é quem nem sabe ler o contrato...
E, se este não lê o contrato,
é porque ele não quer ou então que nem liga”
O correto seria dizer
que o outro não o instrui
e então não há briga.

Basta ver quanta cigarra ruim
é mais recompensada que a melhor formiga.

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MORTE SÚBITA
Ricardo Moreira

Confesso e peço perdão,
beijei com falso amor mais de uma camisa,
mas não lamentarei a perda de uma paixão,
em que a chama apagou-se à primeira brisa.

Rasgou-se o contrato,
pois eu ajeitava com carinho,
e você mandava um bico para o mato.
É fato e não boato
o teu ato de achar-me inapto
a trazer, à altura do meu peito,
o mesmo distintivo, seu...!

Se hoje sigo sozinho para o gol
você também não é mais aquela.
Errei, você também errou,
nunca mais se apresentou para tabela!

Aconteceu o que eu tinha medo
não é segredo, até aí tinha o seu dedo,
mesmo sem, antes, ter o amarelo
fui para o chuveiro, mais cedo.

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MOTRIZ
Ricardo Moreira

Que culpa tem o piá?
Tão novo e já tão ativo.
Sem opção de opinar
Sobre um mundo adulto tão competitivo.

Já com extensa agenda
enquanto seus pais complementam suas rendas;
afinal tem de estar preparado
ao também ter suas chaves de fenda.

É assim mesmo que é, vai na fé!
Vou contar e o faço com alegria:
o moinho não pode parar
e você, com seu braço, é a fonte de energia.
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MUITA SEDE AO POTE
Ricardo Moreira

O moço estreava como entregador
- a caixa térmica ali presa a seu cangote -,
Viu a menina implorando um favor...
Tinha cansado os braços levando uns pacotes.

Ela, uma deusa; ele, um galanteador,
feito uma fera, planejando o seu bote.
Fez-se gentil, esquecendo até o valor
de uns dez boletos a servir-lhe de chicote.

Ela foi grata, era um dia de calor,
e o olhar de ambos a brilhar mais que holofotes.
Após uns chopes, num barzinho da Ouvidor,
caçavam seus moinhos dois novos quixotes.

Papo bem fluido em etílico teor,
falavam de "amor", de "nome pra filhotes",
Garçons faziam ouvidos de mercador
aos planos de um casal indo com sede ao pote.

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MUNDO ACADÊMICO
Ricardo Moreira

Ele adora encontrá-la,
ela adora vê-lo...
Estranho, o extremo do papo-cabeça
que ela fala
é de tintura no cabelo...

Ele recheia de diplomas
as paredes de sua sala
e os mantém com muito zelo...
Já “mundo acadêmico”, pra ela,
é um lugar onde se malha,
e, só de ouvir,
quer amarrar uns pesos
no seu tornozelo

Ele adora encontrá-la,
ela adora vê-lo...
Estranho, o extremo do papo-cabeça
que ela fala,
é de tintura no cabelo...

Ele, diante de um problema mundial,
encara como inimigo
e se empenha pra resolvê-lo.
Quanto a ela,
o universo é seu umbigo...
Sonha em ter seios fartos,
tais corcovas de um camelo.


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MURRO EM PONTA DE FACA
Ricardo Moreira

Se tudo parece estar fora do prumo,
por que insistir em manter-se no rumo
das coisas que te fazem mal?

Transforma em durável o que era consumo,
buscando no álcool, no fumo, ou em cobertas...
enquanto lá fora rola o carnaval...

Sei que é difícil...
É elementar, não criaram nenhum artifício,
suplemento alimentar ou uma “super-aveia”...
Pra te levantar, só a fé, camarada...
Então, creia!

Impossível é basquete na praia
com bola de meia.


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MÚSICA INSTRUMENTAL
Ricardo Moreira

Pra não dizer que já contei o final,
Não conto nem o começo...
Bote você o etc e o tal,
te dou meu aval.
Vire o vazio do avesso!

Descreva a personagem central,
E dê a ela inclusive o endereço...
Evite ser genial...
Hoje em dia, não se paga um bom preço.

Um conto de amor,
Luta do bem contra o mal,
Um detetive... Um crime passional...
Simples biografia
de um campeão de arremesso...

Isto o que ouve agora
é somente uma música instrumental,
Bote uma letra legal
e viramos parceiros,
caso achar que mereço...


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NA GAVETA
Ricardo Moreira

Quem vê a escalação
desta canção no papel
pode pensar que prefere a retranca
o compositor...

Feita na concentração,
um dia antes, no hotel.
Mas é só sair da prancheta
é bola na gaveta,
na voz de um artilheiro cantor...

...E ainda bem mais ofensiva,
na posse da diva, e um canto driblador,
que finge que vai para oitavas acima
e termina a rima com um “do” de tenor.

Tática, um tanto manca,
nem de longe, um “carrossel”,
mas, ao sair da prancheta,
é “chapéu”, é “caneta”
é foto na gazeta, é grito de gol.

...E ainda bem mais ofensiva,
na posse da diva, e um canto driblador,
que finge que vai para oitavas acima
e termina a rima com um “do” de tenor.


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NÃO
Ricardo Moreira

Dizer um não
é tão difícil quanto ouvi-lo
ter você em vão,
melhor viver na solidão numa ilha
Fim da paixão,
sensação de que acabou a pilha
do que era amor
só restou a ilusão de parecer família

Pra que empurrar
nosso problema todo com a barriga?
A gente sempre tenta se entender,
muito embora nunca consiga
Você insiste em me prender,
armazena a lenha e embebe com intriga
quer que eu desista de vez de viver
e, quando pega fogo, então,
a gente briga

Dizer um não
é o bastante para se esquecer
de todo sim falado antes.
A situação se altera...
¨Lembra quando éramos
apenas bons amantes¨

Desilusão, um caso todo
resumido a um instante,
A questão fica resolvida assim:
Tudo nunca foi tão importante!

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NEM COM ZIMBO TRIO
Ricardo Moreira

Compôs seu primeiro ska
com uma kalimba que herdou de seu tio.
Pirou com um pedal wah-wah
e com este o seu carimbó evoluiu.

Botou uma zabumba na rumba
e um cello no funk (Onde é que já se viu?)
Chegou com pick-ups pra scratches
no ensaio da Filarmônica do Rio.

Usou reco-reco e cuíca,
o que fez de seu blues “algo bem mais Brasil”.
Uniu honky-tonk e fandango
e sei lá mais o que ele introduziu.

Pegou tudo o que era hermético
e, bem a seu modo, ele desconstruiu.
Seus pares levaram-no ao médico,
mas, no seu caso, nem com Zimbo Trio.

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NEM QUE EU ME DESDOBRE EM TRÊS
Ricardo Moreira

Eu vivo vendo molecada atrás de bola,
mendigo pedindo esmola
e loja querendo freguês,
mas passarinho implorando por gaiola,
com historinha que não cola,
juro que é a primeira vez.

Já vi fracote sem força pra erguer sacola,
bunda que no chão se esfola
e ao meu salário sobrar mês...
... Mas quem nem tem nem para o feijão querer pistola?!
É uma coisa que não rola,
sou sincero com vocês.

Há quem prefira colchão de espuma ao de mola,
guaraná a Coca-Cola,
qualquer língua ao Português,
mas entender gente feliz
quando se corta alguma verba pra escola
nem que eu me desdobre em três.


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NEM SEI
Ricardo Moreira

... Nesse tempo todo,
já nem sei quais os viadutos
e nem quantas vias dutras percorri,
pra definir meus critérios!

Só sei que vi adultérios... vi adultos;
ouvi insultos, ignorância absoluta,
do que determina o aurélio!

Vi crianças preocupadas com minutos...
com a qualidade de produtos,
que eu só conheci depois de velho...!

Eu vi o sério, vi o etéreo, vi o astuto...
o luto, a luz e a disputa:
o decifrável e o mistério.


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NOIVO DE ALUGUEL
Ricardo Moreira

Se você deseja ir para o altar,
mas o que falta é um par,
e isto é motivo de insônia
Já não tem mais motivos para chorar,
cheguei pra salvar,
ao menos, sua cerimônia

Capricho no "Sim!"
E saio bem bonito, em fotos no jardim,
Eu passo a gravata, beijo a tia chata
e deixo que atirem arroz sobre mim.

Estouro o champagne,
mas não se assanhe ao me ver de anel,
Peço, me devolva pra loja,
assim que passar nossa lua-de-mel...

É um "plus" que é oferecido,
um noivo e um vestido num só aluguel.


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Nome de Batismo
(ou Qual é a graça?)
Ricardo Moreira

Em Londres, os duques já sabem
o sexo do herdeiro que urge a nascer
Nas casas de apostas, todo mundo arrisca
a qual graça ele há de atender.

Num outro cenário,
num bairro extremo, periferia de SP,
em idade ainda de esconde-esconde
e, no que era somente o fim de um rolê,
Sem saber de quem ou de onde,
após sexo com um "bonde",
ela espera um bebê.

Atraísse a atenção do Le Monde,
The Guardian ou Diário do Grande ABC,
teria somente suas iniciais,
que é como os jornais fazem "pra proteger".

A menina aguarda, ansiosa,
a definição vinda realeza,
para ao menos ter uma certeza:
do nome que também irá "escolher".

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NONSENSE
Ricardo Moreira

Tive um sonho estranho,
eu via TV num domingo à tarde.
Eis que Toquinho e Vinícius
foram anunciados na voz do Lombardi.

Era um programa bacana,
desses com gincana em que se pagam micos.
A equipe que tinha Raul Seixas
em disputa com a de Taiguara e Chico.

Aldir Blanc, animando, anuncia
o quadro que eu julgo ser meu predileto,
aquele em que o convidado, vendado,
bota a mão numa caixa recheada de inseto.

Deus, quanta adrenalina,
sempre que o vejo até fico inquieto.
Ainda mais se a peleja é
Clarice Lispector X João Cabral de Melo Neto.

Gal e Elis dançam em coreografia,
ao que Chico entoa cantigas.
Auxiliam também na prova da banheira
e na que se estouram bexigas.

Drummond, numa espécie de júri,
responde ao que Aldir lá do palco o instiga.
Compõem a bancada Machado de Assis e Abujamra,
que está só para fazer intriga.


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NOSTALGIA
Ricardo Moreira

Falo da infância...
Falo do cheiro da fruta na feira,
da fieira do pião,
do ferimento feito em beira de riacho!

Falo da infância...
Falo das fotos sem fadiga e sem olheira,
da fogueira de São João,
da felicidade em cacho!

Falo da infância...
De uma fulana futrico-mexeriqueira,
conversando no portão:
“falo!”, “macho!”

Perdão!
Se por acaso, com o que falo,
sentires na íris, o cair de uma lágrima...
Eu falarei mais baixo!


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O ATRATIVO E O REPELENTE
Ricardo Moreira

O ano, eu nem lembro bem,
sei que foi antigamente...
Era um tempo de partos normais
e só se usava toalha quente.

Nasceram idênticos em sua forma
e, em conteúdo, diferente...
Ficaram agora os gêmeos conhecidos:
o “Atrativo” e o “Repelente”.

Este, sempre isolado;
aquele, sempre em meio a gente.
Imaginem um ser que nem os próprios filhos
o queriam ter em frente...

Filhos, aliás, que só se explica
virem ao mundo derivados de um acidente.
Um ser que emana o ódio,
feito um cão preso à corrente.

O outro, com criação igual,
nem parecia ser parente.
Sequer as marcas que o tempo deixou
o tornavam menos atraente.

Quando tinha o nome citado,
deixava todos tão contentes...

Curioso, hoje eu soube,
acordaram os dois doentes...

Internados lado a lado
coincidentemente.
O caso era muito grave;
e a passagem, iminente...

O malvado, antes de partir,
teve tempo suficiente
pra perceber no leito ao lado
um entra e sai muito frequente...

E, nessa hora em que se igualam
o covarde e o valente...
o clemente, o impiedoso...
herói, bandido... o ateu e o crente...

Da noção, tinha um resquício;
mas com o corpo, impotente...
Decifrou que, após tanta maldade,
não sairia impunemente:

Passou pra eternidade
sem ninguém tendo cuidado.
Muito mais do que odiado
- INEXISTENTE.



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O BERÇO DE OURO E A VELHA ESPUMA
Ricardo Moreira

Vou lhes contar,
espero, de forma oportuna,
a história de duas meninas:
a Brigitte e a Bruna.
Não há nada com que Bruna se irrite,
nem o fato de Brigitte
possuir bem mais fortuna.

O pai de Bruna chega a casa muito triste,
mas, ao vê-la, esquece até
o emprego que ele não arruma.
Menina alegre, tão bonita e boa aluna,
enxuga as lágrimas do pai, com o seu lenço,
uma por uma.

Brigitte, como dizem, é da elite,
se um dia quiser voar,
ganhará asa e muita pluma,
mas, em sua casa, todos vivem no limite...
Odeia que o padrasto grite,
enquanto sua mãe se arruma.

É um ambiente em que a paz não se permite,
pensa, às vezes, ser convite
pra que faça a mala e suma,
Quem olha, além do berço, crava um palpite:
há mais insônia em Brigitte
que em Bruna e sua velha espuma.


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O BREU DA RIBALTA
Ricardo Moreira

A alegoria exposta ao tempo,
após a dispersão,
deve doer ao artesão
qual fim de um grande amor.

Retalhos de tecido
espalhados pelo chão
a desbotar com as chuvas de verão.

Ferrugem corroendo
o que já foi esplendor...
É o tempo pondo fim à ilusão

Com a urgência
de um vigia de teatro,
apressando o ator,
ao fim da peça
esvaziando o saguão.


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O CAMINHO DAS PEDRAS E AS PEDRAS NO CAMINHO
Ricardo Moreira

Se a mão precisa de outra a lavá-la
e a perna, de outra a levá-la
para aliviar um choro, é preciso um colo;
para um solo, a clave e a escala;
... uma porta, a chave;
para cantar de galo ou quebrar o gelo,
um último gole.

Para entrar sem convite, um traje de gala.
A um filho, um conselho que valha
e até na urgência é preciso fila
e, para que se cresça, superar as falhas

Brigas se resolvem com a arma da fala
desnecessário apelar para a bala
e, afinal de contas, para ser coerente,
quem com o crime consente é que se cala.

Para chegar primeiro, um atalho
um caminho das pedras que venha a calhar
e que baste seguir olhando a trilha atento
se alguma outra pedra, intrusa, atrapalha


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O CASARÃO DA RUA VELHA
(Ricardo Moreira - Gilvandro Filho)

Recordo o casarão da Rua Velha
E na varanda os olhos das meninas
A lua que descia em serpentinas
Com ela vinham todas as estrelas

E delas, da mais velha a mais nova
Brotavam nossos versos e carinhos
Boêmios semi loucos e sozinhos
A espalhar sua dor por cada alcova

Havia a que mais bela e calada
Vivia o lumiar do pensamento
Que me chegava a cada vão momento
Noite após noite, toda madrugada

Não esqueço da alegria pela casa
Trocavam desamor por poesia
Mil noites se passando em harmonia
Em colos onde havia amor em brasa

O dom de ser risonha sendo triste
Do tempo de sorrisos e penares
Saudades dos extintos lupanares
Onde a memória vive e o som resiste

É que hoje ainda me cobrem aquelas telhas
É como amanhecer naqueles dias
Em que fui tão feliz e bem sabia
No antigo casarão da Rua Velha


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O CRAQUE
Ricardo Moreira

O craque com a bola em seus pés
Parece até um menino
Antes mesmo do domínio
Ele já sabe o seu destino

Escapando de pernas maldosas
Com o seu corpo franzino
Teme somente, o vocábulo “lábaro”,
embolorado, do hino


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O DESTINO ESTAVA TRAÇADO
(Sonekka e Ricardo Moreira)

Não basta empurrar-lhe
o cabo da enxada, a buchada,
as canções na sanfona...
Se o cabra está mais pra viver
de forma debochada,
curtindo Madonna.

Desista, o moleque não vai
ser também motorista
- o terror da zona -
Olha, tá dando nas vistas,
vai 'sê' esteticista
e logo se apaixona...
... por um molde de sobrancelha
que viu na revista;
vai 'estudá' pra ser estilista
e não ser mais cafona.

Quer levar uma vida de artista,
jogar-se na pista; "papai, não insista".
Seu filho já é uma rainha
e ninguém mais destrona.


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O DIA SEGUINTE
Ricardo Moreira

Hoje acordei me sentindo
como uma massinha das de modelar.
Pior, eu me vi discutindo
como se o que opino fosse adiantar.

Peguei-me com as veias e os olhos saltados,
cuspindo de tanto gritar...
Inocente, sou só um joguete!
É dos gabinetes que hão de nos ferrar.

Hoje acordei me sentindo
passageiro em barco prestes a afundar.
Um barco com poucos coletes,
que, em meio à discórdia, jogaram-se ao mar.

Notei que esse ódio, esse asco
são golpes que o casco tendem a arruinar.
Esse clima de Flamengo e Vasco,
em que nenhum dos dois no final vai ganhar.


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O "DIACHO" EM PESSOA
(Ari Reis e Ricardo Moreira)

Do mato, não restou nem cheiro.
E, quanto ao cajueiro,
qual seu paradeiro exato?!...
Desastre, fogo não se limitou no aceiro,
devastando alqueires
“...tudo a três por quatro!”
Gritar “desisto!”,
o beija-flor o fez primeiro,
achando que bancar bombeiro
ficou muito chato.
Logo em seguida, em estado de destempero,
com remorsos e arrependido,
quis dar seu relato...
No desespero, confundiu “fundura” e beira,
meio com inteiro, ditongo com hiato
Mas um abutre, prevendo um banquete,
“inté” foi companheiro da avezinha
(Vixi, aumentou-se o espalhafato!!!).
Jogou a culpa sobre um “véio” fazendeiro,
“Chei’ das conta no estrangeiro”
(“... um grande mentecapto!”)
que fez dinheiro cobrando três pactos e um tíquete
por um tiquin’ de trigo no fundo de um prato...

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O ELEFANTE E O BARBANTE
Ricardo Moreira

Quer saber como se faz
pra se amarrar um elefante num graveto,
com um pedaço de barbante?

Adestre um, ainda filhote,
e nem precisa de chicote,
e com uma corda,
amarre-o em um tronco gigante

Ele vai se debater,
vai se cansar, se enfurecer,
pode ser que até se machuque bastante...

Depois, haverá um instante,
o animal vai perceber:
sua revolta fica insignificante...

Após o esforço inútil,
extremo, desgastante, extenuante,
finalize a experiência interessante...

Se aproxime
com um "sorriso aconchegante"...
o tronco pode ser trocado,
e qualquer linha se garante...

E aí, não importa
o quanto o bicho esteja grande...
Sai o tronco entra o graveto,
Sai a corda, entra o barbante...

(...) Alimente-o
com "restos de um restaurante"...
o tronco pode ser tirado,
qualquer linha se garante...


Dê-lhe amostras grátis
de "falsos brilhantes"...
o tronco e a corda,
entra o graveto e o barbante...



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O FANTÁSTICO ENGOLIDOR DE SAPOS
Ricardo Moreira

Eu busquei sempre os passos mais certos,
o erro, raro, ocorreu ao chão ruir...
E, se eu burlei a lei, foi pra fugir de “espertos”,
pois, do contrário, eu esperei sinal abrir.

Sou um dos que de razão se veem cobertos
e que um simples código jamais ousou ferir...
E que se emociona com um verso do Roberto,
que pesa o pró e o contra antes do discutir.

O ombro amigo que está sempre por perto,
bem acessível a qualquer um que me pedir
pra quem se vê na personagem, eu oferto.
Todos os sapos que se têm de engolir.


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O HOMEM QUE VIVEU TREZENTOS ANOS
Ricardo Moreira

O homem que viveu trezentos anos
virou um pré-adolescente revoltado,
aos setenta, logo que ficou sabendo,
havia sido adotado.

Guardou pra si a cura de toda mazela,
numa tigela oculta, espécie de guisado...
O elixir da cabeleira farta e bela
e do corpão todo sarado.

Questionado se guardava algum desejo,
“ver o mal da corrupção ser extirpado”
e que, ao vê-lo com uma “gatinha de noventa”,
não o chamassem de “safado”.

Escolheu partir, pois a noção de eterno
mais do que a morte o deixava assustado.
Ele mesmo sugeriu botar no laudo
causa mortis: “enjoado”.


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O GÊNIO E O IRMÃO GÊMEO
Ricardo Moreira

Tudo bem, aceito ser o teu mecenas,
teu dublê quando das cenas de difícil execução...
Eu inspeciono a segurança das arenas
e te ajudo a autografar se o tremor tomar tuas mãos

Aceno da janela em hotel de Ipanema,
Se alguém diz que alienas, tomo a dor da discussão.
Cuido das grandes causas também das pequenas,
simples intuito apenas de evitar preocupação.

No telhado, monto, mexo e viro a antena,
pois quem sabe a tua musa é alguém da ficção
E aí me visto de você vou para o cinema,
Ofereço a pele às fãs pra proteger-te do arranhão...

Fico com a pele da cor do nariz da rena,
que, em quinzena de Natal, vai passar na televisão
Leio e respondo cartas que se medem às trenas,
é um prêmio da Mega-sena ter nascido seu irmão

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O JOIO E O TRIGO
(Sonekka e Ricardo Moreira)

Jurandir tinha uma vida honesta,
filho de uma doméstica, ajudava em construção.
E, assim, diversão, lazer e festa
quase sempre eram deixados
pra depois da obrigação.

Não nasceu com estrela na testa,
sua casa, bem modesta,
é o que restou como opção.
Certo dia viu por uma fresta,
da janela do seu quarto,
intensa movimentação.

Feito caçadores na floresta,
homens de uma força tática
entravam em “operação”.
Já viu outras vezes só que nesta
o ruído dos blindados
fazia tremer seu chão.

Nessas horas somente o que resta
é esconder-se ou, sei lá,
tentar fazer uma oração.
Não há tempo pra provar que “presta”
e nem para aparar arestas
da própria argumentação.

Ademais, se alguém do morro morre,
quem se importa? Quem protesta?
Passa logo a comoção
Se ficar, a bala come; o tiro pega se ele corre,
a pele preta atrai a munição.

Em ações de extremo perigo,
distinguir joio do trigo às vezes causa confusão.
Se der erro, há sempre um texto antigo:
“O bairro ali é do inimigo.”
“Jurandir talvez fosse ladrão.”


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O MILAGRE DA MULTIPLICAÇÃO
Ricardo Moreira

Ela pediu-me "um tempo",
ou melhor, me deixou em stand by
Diz estar gamada pelo "gato"
do motorista do carro do seu "papai"

Perplexo, diante do fato, orei:
"Oh, meu Deus! Perdoai...
Ela, insistindo em romper o contrato,
repetia pra mim: "Good bye!"

O meu concorrente é um mulato,
que toca tamborim no Vai-vai
Eu poderia deixar o "campeonato",
mas barato, agora, é que isso não sai.

Chamei para a briga o gaiato,
mas, alheia às cruéis cenas de pugilato,
nossa musa se ardia em beijos
com um vendedor de porta-retratos
vindos do Paraguai

Só sei que começou a voar prato
Somos agora quatro,
I don´t believe in my eyes
e eu termino aqui meu relato
Senão pode ser que apareçam bem mais.


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O MITO DAS CASERNAS
Ricardo Moreira

Da missa ele parece não saber um terço,
com a cara de "Meu Deus, por onde é que eu começo?"
Se escrevo, não é porque eu me compadeço,
só dou um testemunho de tal retrocesso.

Não nutro pelo ser um mísero apreço.
e me enrubesço a cada ato, eu confesso.
E, assim que passam os dias, eu só me convenço
que algo está do avesso em nosso universo.

Porém, caso alguns errem, todos pagam o preço,
Se fosse algo restrito, mas vem todo o anexo.
É excesso de alegoria e adereço.

Espetáculo pelo qual eu não paguei o ingresso.
Mas, para a semente, o esterco é um recomeço.
Se há um entrave à solução, liberemos o acesso.
Os dias têm-me feito recordar um verso
"Deram um espelho, e a doença surgiu no reflexo"


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O MUNDO NÃO PERDE POR ESPERAR I

O Mundo não perde por esperar,
já já, começarei a transformá-lo.
Só que agora eu tenho contas pra pagar
e ir ao podólogo tratar um calo...

...Jogar sinuca ali no bar,
até a mulher vir me chamar
pra ir pra casa pra desentupir um ralo...
...Tenho, então, de abrir a boca
só pra dar passagem às moscas
e depois vou dar bom-dia a alguns cavalos.

Aí, o Mundo não perde por esperar,
em breve, viverá tempos de glória.
As injustiças, no passado, vão ficar
e com o tempo vão se apagar da memória.
Você não venha buzinar,
parece, nunca ouviu falar,
que a preferência
é de quem vem na rotatória,

e ainda nem deu pra começar,
eu tenho tanto a consertar,
mesmo que seja
de uma forma provisória.

Ah!... O Mundo não perde por esperar,
pois nada mais será como era antes,
vou pôr cada coisa no seu lugar,
serão felizes goleiros e centroavantes...

... Deixem só eu terminar,
uns relatórios com urgência para entregar...
Vou escovar uns elefantes...
Sair feliz pela cidade,
e resolver coisas insignificantes...

O Mundo não perde por esperar,
A vida das pessoas será bela,
mas já chegou a hora do jantar
e eu não perco por nada, o final da novela!



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O MUNDO NÃO PERDE POR ESPERAR II

O Mundo não perde por esperar,
se eu nasci, foi pra livrá-lo dos problemas,
mas já que estou aqui, eu também vou gravar,
versão ¨muderrrna¨ de Garota de Ipanema...

Mas algo pode me atrasar, fui contratado pra explicar,
por que no ¨u¨ de consequência havia trema,
já sei, isso vai me cansar, depois, vou ter de relaxar
e há tempos não vejo um bom filme no cinema.

O Mundo não perde por esperar,
reservem já seus lugares nos restaurantes,
não sei se quer saber, mas posso adiantar,
será o fim do futebol com três volantes...

Avisem paca, tatu e cotia, amanhã, será um lindo dia,
já dizia, na canção, Guilherme Arantes,
e nada vai me segurar, começarei lá pelo mar,
só não, se um caminhão quebrar na Imigrantes.

O Mundo não perde por esperar,
mitos de outrora
vão cair no esquecimento...
Com tantos sites de busca pra pesquisar,
Hoje, é tão fácil se achar
moinhos de vento.

Será que alguém pode indicar,
coletes à prova de bala, pra eu comprar,
tenho problemas de orçamento.
Será que podem confirmar,
não sei, eu só ouvi falar,
na Vinte e Cinco, sai por mil reais, o cento...

O Mundo não perde por esperar,
tremei corruptos, pilantras, malfeitores!!!
Vocês têm sorte, eu ´tô sem troco pra almoçar
e o preço do PF tem subido horrores...



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O MUNDO NÃO PERDE POR ESPERAR III
(Márcio Policastro e Ricardo Moreira)

O Mundo não perde por esperar,
dei-me a incumbência de salvar todo o planeta.
Sei que a receita deve estar num exemplar,
num canto escondido de alguma gaveta...

Creio, até podem duvidar,
eu, pelo bem, vou triunfar,
munido de estilingue e espoleta,
e aí, mal posso esperar, vão querer me entrevistar,
revistas de fofoca, pra gente xereta

Aí, o Mundo não perde por esperar,
presentearei todos os seus habitantes,
claro, somente, quem a fila respeitar...
Darei dinheiro, ouro e muitos diamantes...
...Que diante da abundância, perderão toda importância...
Até os feios ficarão interessantes

Só para que tomem ciência,a inteligência há de ser
a substância principal entre os amantes.
Ah!... O Mundo não perde por esperar,
eu tentarei dar o ¨melhor de si¨, eu juro.
Tenham paciência, aguardem o dia clarear,
não sou covarde, mas tenho pavor de escuro...

... Outro medo me incomoda,
ando a beber demais ´tá foda.
Vivo caindo mais do que fruto maduro...
Acho melhor eu maneirar, senão começam a reparar,
e como fica minha fama no futuro?!

O Mundo não perde por esperar,
Já vejo altares levantados em meu nome,
ouço, em meio ao sono, a barriga roncar,
que raio é esse de herói passando fome



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O OVO DA SERPENTE
(fernando Cavallieri e Ricardo Moreira)

Logo mais, dirão que água é que é veneno
E que John Lennon ainda está vivo e é dos Stones,
Que o Sol desliga quando o clima fica ameno...
Tá demorando a aparecer novo Jim Jones.

Dirão que é bom trocar feijão e arroz por feno
aos que obtêm graduação pelo I-phone.
Filosofar já vai virar gesto obsceno,
com punição a qualquer um que o proporcione.

O ovo da serpente, há tempos, dá acenos...
Pena que só uma minoria anda insone
por lamentar não destruí-lo ainda pequeno...
e constatar como os cruéis criaram clones.

Dirão que é bom trocar feijão e arroz por feno
aos que obtêm graduação pelo I-phone.
Filosofar já vai virar gesto obsceno,
com punição a qualquer um que o proporcione.

A cadela do fascismo abriu o dreno
E os “ungidos” se juntaram a Corleone...
Mas, quem se importa? Segue, que ninguém tá vendo.
Hoje, a Palavra é escarrada pelos drones...

Logo mais, dirão que água é que é veneno...
Que o Sol desliga quando o clima fica ameno...
Dirão que é bom trocar feijão e arroz por feno...

A cadela do fascismo abriu o dreno...
Mas, quem se importa? Segue, que ninguém tá vendo...
O ovo da serpente, há tempos, tempos, dá acenos...
O ovo da serpente... O ovo da serpente... O ovo da serpente...
O ovo da serpente... O ovo da serpente... O ovo da serpente...


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O PERFUME DAS PALAVRAS
Ricardo Moreira

Vejam só que coisa curiosa,
embora rime mais com a prosa,
a rosa fica tão formosa é na poesia...

Notem que uma pétala,
quieta lá em seu canto
é um acalanto pra qualquer tarde vazia.

Mas, num jardim, ela é efêmera... é fugaz;
num verso, a flor dura bem mais,
capaz de ter bem mais cartaz, do que numa fotografia...

Não é minha intenção causar ciúme,
não tenho esse mau costume,
só defendo a minha cria...

E quem há de chamar de mentirosa,
caso a rima deixe a rosa
com mais cores, mais cheirosa?...

Quem ousaria?...


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O POETA QUE PARIU
Ricardo Moreira

Uma flor
e um sentimento que nem chega a ser amor
têm na canção espécie de amplificador.
Foi o poeta que pariu.

Um calor,
muito mais quente que o verão de Salvador,
nem mesmo o sol que brilha lá tem tanta cor.
Foi o poeta que pariu.

Uma saudade
gerando lágrimas que encheriam um rio,
tão dolorida quanto a dor se alguém partiu.
Só o poeta há de fingir.

Falsidade,
no texto do poeta, passa a ser verdade,
o puro ódio vira até felicidade,
e mesmo o choro faz sorrir.


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O PRESIDENTE JUVENIL
(Presidente Golden Shower)
Ricardo Moreira

Como num roteiro de filme da boca do lixo,
numa produção vagabunda, sem qualquer capricho,
botaram carcaça de idoso num adolescente
e ele disputou a eleição com o novo "corpitcho".

Fez toda a campanha exibindo um lado inconsequente.
Justamente por esse discurso atraiu tanta gente.
A popularidade crescia à medida que urrava igualzinho a um bicho,
usando os canais que os iguais usavam comumente.

O politicamente incorreto abriu novas frentes,
pois se constatou que não era restrito a um nicho.
Do armário saiu quem queria o extermínio daquilo que é diferente,
espalhou-se pelos quatro ventos o que não se admitia em cochichos.

E, se esquivando de todo confronto a ocorrer frente a frente...
E odiado ou amado por causa de um novo buchicho,
nosso personagem elegeu-se, enfim, Presidente,
pra mostrar que, antes de ser raiz,
tem mal que é melhor extirpar na semente.

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O QUE AS CRIANÇAS VÃO PENSAR?
Ricardo Moreira

Olímpio questiona em voz alta
– tomando cerveja na praia –
a sexualidade alheia
e, segundo ele, a moral que anda em falta.

E sobre o assunto em pauta,
no informal debate que ele medeia,
diz que só cabe a uma mulher usar saia;
ao homem, a gravata, o sapato e a meia.

Fala, enquanto outro gole saboreia,
chateia este exemplo à infância incauta,
e que odeia essa gente à qual chama de laia,
e que o amor entre iguais requer surra ou cadeia.

E, em vez de atentar pro canto da jandaia
ou pro mar esmeralda que Alencar exalta,
resmunga e, com o sangue fervendo em sua veia,
vai embora deixando as latinhas na areia.


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O QUE É DO HÓMI O BIXO NÃO CÓMI
(Ari Reis e Ricardo Moreira)

Fotografava o rio Pinheiros,
ali de cima da ponte Cidade Jardim.
Achei um maço de dinheiro;
a sorte, enfim, sorriu pra mim.
O Jockei-club estava aberto
e eu, bancando o esperto - ali tão perto -
Decidi num só estalo:
"Que tal eu experimentar
fazer a fé em algum cavalo?".
Assumo até que o mais certo
era ir correndo ao banco,
pois, sendo franco,
a minha relação com os equinos
tem a distância de um abismo.
Não sei nem diferenciar
polo, turfe ou hipismo...
-“Filho! Aposte no alazão!"-
Alertaram-me os mais experientes.
Ora, e lá sou eu tão inocente?...
Acatar sugestões de concorrentes?...
Joguei então em outro cavalo: um azarão.
Ocorre que ao ver o bicho,
eu vi: "joguei tudo no lixo!".
Era de um branco doentio
e, além de tudo, meio manco.

Quase arranco meus cabelos!
Mas, se o dinheiro foi achado,
“qual o drama, se perdê-lo?”
Eis que então o tratador,
para o meu total espanto,
corrigiu-lhe a imperfeição
com uma espécie de tamanco.
Largaram e, ao ver
o albino tão veloz, bastou,
gritei, a toda voz:
“É hoje que eu vou cair no mundo!”
Acontece que o alazão, chega junto,
cabeça a cabeça, lado a lado,
ao fim, o meu chega em segundo.
Lá se foi meu eldorado.
Corretas são as mulheres,
que, com dinheiro,sem pensar,
correm logo para o shopping! - resmunguei.
E eu, que comecei falando em foto,
seria o retrato da desilusão,
não fosse o resultado do antidoping
excluir o alazão trapaceiro...
Bicho não come o que é do homem,
tripliquei meu dinheiro.




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O RABO QUE BALANÇA O CÃO
(Ricardo Moreira)

E quando se é crente que a experiência vem antes das rugas?
E quando é parte interessada aquele que julga?
E quando apontar o que é óbvio é pior do que adestrar pulgas?
(Fumaça que se empacota, gelo que se enxuga)

E essa rede manipuladora... Esse algo que nos suga?!
Assustador feito nariz de bruxa e sua verruga.
E bem mais envolto ao problema está quem tenta a fuga
desse retroceder veloz rumo ao “Uga buga”.

Alguém sabe se ainda tem paz? Se alguém vende ou aluga?!
Que interruptor se aperta?! Qual cabo se pluga?
Quando é que vem a tal da ajuda a quem cedo madruga?
Vontade é de me esconder em um casco tal qual tartaruga.

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O TEMPERO DA VIZINHA
(Fernando Cavallieri e Ricardo Moreira)

Minha vizinha usa um tempero estranho
Um quê de show de reggae numa praia de Trindade
Vou ver com ela onde é que eu compro, onde é que apanho
Será que... será que tem lá no mercado da cidade?

E todo dia, enquanto eu tomo o meu banho,
Eu vejo o fumacê que pelo meu vitrô invade
Será que é caro pra quem ganha o que eu ganho?
Será que... será que só se vende em grande quantidade?

Se eu for plantar, a poda é feita em qual tamanho?
Será que o governo vai criar dificuldade?
Será que os chefs dos programas que acompanho
Será que dão umas dicas pra se usar com propriedade?

Um dia desses eu prometo que me assanho
e peço um "tapaué" pra saciar minha vontade,
se for preciso eu pago à vista e nem barganho
“ai, meu deus”, é que essa fome chega ser uma crueldade

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O TOLO E O CASTELO
Ricardo Moreira

Passava em frente a um castelo
e ouvi gritos femininos
vindos lá de cima.
Creio, saíam da torre, pois as nuvens encobriam,
não me ajudava, o clima.

Pensei salvar, oh! Princesa,
embora, da luta, eu, leigo,e ‘inda sem ¨matéria-prima¨,
comprei um kit com espadas, um sabre, um florete
e uma vídeo- aula de esgrima.

Com um mínimo de domínio de tão nobre arte,
entre postura e doutrina,
pedi perdão dos pecados,
como quem da morte se aproxima.

Cheguei fazendo furor, todos riram,
deixando-me do tamanho de uma enzima
(quase sem auto-estima)
Os gritos eram de prazer,
o castelo um prostíbulo
e a princesa... messalina!!!


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O TRAFEGANTE
(ou o traficante de estrofes)

Ricardo Moreira

Entre o último trago e a próxima entrega;
Entre a vítima e o estrago, a trapaça e a regra;
no traquejo ou “no braço”, entre o micro e o mega;
tremendo no traço, apelando pra régua!

Ao largo dos atrativos que enxergam no crime;
prestando atenção num trejeito da atriz tão sublime
diante do mais atroz dos atritos: gula versus regime;

Vou trilhando um trajeto;
tramando estratégias...
“Tirando de letra” as tragédias...
Das que atravessamos na vida...!

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O X DO MAPA
(Ari Reis e Ricardo Moreira)

Na contramão da história,
talvez eu esteja certo,
ou muito perto da marca “x”
do mapa de algum tesouro?!

Não guardo segredo sob a capa,
Só quero livre o meu couro dos tapas,
que levam os que seguem a corrente!
Eu quero apenas ser feliz
e, tão somente, gente.

Sem ser vilão ou herói...
qualquer pancada em mim dói!!!
Quem sabe eu chegue à nascente e, castigado,
imagine até as margens,
surgindo em miragens.

Por vezes lacrimoso
Ou reciclando os craques da escrita acre,
acredito expor a cruz,
aos que só visam lucros... Crápulas!!!
...Não acrescentam nada!!!

Carimbado como escravo,
ou criminoso,
enquanto hipócritas riem,
rompendo lacres...
Quero cravar a estaca
nos que compõem o clã de Drácula
e, na carne podre
do que há de mais cretino:
a espada!!!



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ODE A BRECHT
Ricardo Moreira

Em um tempo em se julgam livros pela capa,
e somente se entendem os refrãos chiclete,
e tanta gente a se enriquecer pulando etapas,
e quem mais aponta os erros é quem os repete.

Pairam até suspeitas sobre os que usam capas,
e é muito mais tranquilo achar amparo em um pet,
e há uma nação, outrora unida, quase aos tapas,
ecoando a voz das pós-verdades da Internet.

E sobra a sensação de que se uniram contra a rapa,
que "o bom do povo otário é que não se intromete",
e Brecht, ainda atual, cantava essa caçapa,
lama podre é o que alimenta o jet set.

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ODE AO NABABESCO
Ricardo Moreira

Eis que um estúpido, em conversa com um idiota,
num dos ônibus da frota com sentido ao Grajaú,
comemorava a alta da bolsa em nota,
destacando os rendimentos do Bradesco e do Itaú.

É estranho ver gente a exaltar próprio sepulcro,
sem ver que tamanho lucro brota do seu desespero.
E cada chucro revelava a sua torcida,
cada qual com sua vida sem mistura e sem tempero.

Eu vinha atrás ouvindo a ode ao nababesco,
e o que defendia o Bradesco resolveu sentir calor...
Abriu o vidro e, em mim, veio todo ar fresco,
o ambiente então ficou um tanto desesperador.

Quase xinguei, porém pensei que, ainda por cima,
fosse o outro, inclusive, facilitaria a rima.
A prosa então tomou o rumo do lamento:
um tinha um consignado, o outro desfez um investimento.

Botei o fone e aumentei o som do rádio,
o estresse afeta o miocárdio, e eu tenho ainda bastante tempo.
Abstraí de um papo tão sem cabimento
e sem hora pra acabar visto que o trânsito era lento.

Posso dizer, me teletransportei a um outro ambiente,
enquanto um crente começava a pregar,
e fiz curtir o meu momento;
e até o zunir voraz do vento, imaginei que fosse a brisa do mar.

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"OFERENDA"
Ricardo Moreira

Sem habilidades motoras,
noção de espaço... Raciocínio algum.
Sem dom para cola ou tesoura,
madeira ou aço, 3D ou Cartoon.

Fracasso como maquiadora,
borrou uma noiva com a cor do urucum,
Tentou culinária, mas sem monitora,
serviu só para incentivar o jejum.

Migrou do fogão pra vassoura,
roteiro simplório, uma vida comum.
Eis que alguém a enxergou sedutora,
e ela enriqueceu graças a seu bumbum.

Nova subcelebridade,
Bastava passar pra gerar zumzumzum.
Sucesso impensado só se justifica
com as velas que acendeu pra Oxum.


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"OLHOS NEGROS"
(Ari Reis e Ricardo Moreira)

Olhos negros...
Abertos: espertos, matreiros
...Conferem o perto, atravessam nevoeiros!
- Fechados: um gozo... um grito,
e a sensação de um desejo infinito
...Um beijo gostoso, um sorriso bonito!

-Abertos, a expressão de quem sabe o que quer
...Graça e beleza, monumento em forma de mulher!
- (Olhos) Fechados: um consentimento,
dando-me a plena certeza
...De que agora é chegado o momento!!

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ONÍRICO
Ricardo Moreira

O lavrador, quando se deita,
leva pra cama a sua colheita;
do mesmo modo, uma receita
é quem frequenta o sono de todo “grand chef”.

A urbanista, se quer ser perfeita,
creio que nunca durma satisfeita;
e o que aprova contas ou rejeita
até a Morfeu questiona qual o seu CPF.

Ah! Os sonhos...
Não há como prevê-los,
mas como filhos são frutos
que caem bem perto do cacho.
Uma vez ou outra,
ocorrem alguns pesadelos
em que um magnata vê-se misturado
junto ao populacho.

Ah! Os sonhos...
Não há como prevê-los,
mas como filhos são frutos
que caem bem perto do cacho.
Uma vez ou outra,
ocorrem alguns pesadelos
e quem tem virtudes vê-se encrencado
em algum cambalacho.

Ah! Os sonhos...
Não há como detê-los,
mas como filhos são frutos
que caem bem perto do cacho.
Uma vez ou outra,
ocorrem alguns pesadelos
e as modelos que te rodeavam
ao final se revelaram todos machos.

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"ORIJINAL"
Ricardo Moreira

Na 25 de Março
se vê de cadarço a whisky “escocês”,
vindo lá do Paraguai,
quem traz tem também
celular “japonês”.

Tem comerciante turco,
negando pechincha
em produto chinês...
Tem canivete suíço,
churrasquinho grego
que vem num pão francês.

Tem, todo fim de ano,
um tapete humano.
Manuais de instalação em inglês...
Karaokê coreano,
“leva quatro aí, mano,
e só pague por três”.

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OS OPOSTOS SE ATRAEM
Ricardo Moreira

Ela vendia sabão,
ele ensacava carvão...
Casados, se completavam,
como o queijo e o vinho, a manteiga e o pão!

Elas, durante as festas,
falavam de filhos,
e eles, dos jogos da seleção
elas reclamavam:
ganharam “alguns quilos”...
Eles não.

Ele era carcereiro,
ela ensinava etiqueta na televisão...
Casados, se completavam,
eram os versos do Wando...
o fogo e a paixão.

Elas, durante as festas,
falavam de sobrancelhas e cílios,
enquanto eles falavam “daquilo”,
num outro canto do salão.

Ele investia na bolsa,
ela vendia pilhas
e bombons na estação
Casados, se completavam,
como o açúcar, a pinga e o limão.

Eles, durante as festas,
comiam com as mãos,
dispensavam utensílios...
Elas vibravam, com brilho nos olhos:
Aumentou o limite no cartão.

Ela fazia shows, de tão boa passista,
ele era motorista de rabecão
Casados, se completavam,
...a platéia do bar e a desatenção.

Eles chegam das festas,
abraçam o sofá pra tirar um cochilo,
Enquanto elas criticam o estilo,
das amigas, sem qualquer perdão!



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“OS QUATRO GAIATO DE LIVERPU”
Ricardo Moreira

“Muita gente nem soube do fato;
pudera, nenhum cristo
pra tirar um retrato
registrando a ocasião...

Sabe os ´bitou´, aqueles cabra
que ´enchia´ os ´teatro´?
Que ´fazia´ um sucessão?

Pois ´tava eu lá no regato
num dia tranquilo e pacato
e, rompendo o silêncio com um jato,
surgiu no horizonte um avião.
Coisa incomum lá no mato,
´inté´ se pensou em obra do cramulhão.

Em terra, os ´quatro gaiato´
zanzaram do clima do Crato
até o mais intenso sertão...
Foram a Cabrobó provar uns ´barato´
(clarear as ´ideia´, sujar os ´pulmão´)...
Uns ´causo´ que se ouve falar
é que Gonzagão e Elomar
serviram-lhes de inspiração...

A Michelle, a do bar da Guiomar,
com ´Jão´ é que foi se deitar,
porém Paul transformou-a em canção,
o que muito enciumou Penileine, neta de Viriato,
que queria só a ela atenção.
Esta faz hoje ´inda os ´prato’
que se come em tio Guedes,
o dono da pensão.

Foram embora em um domingo,
quando um deles, o Ringo,
ficou com um cacoete após ver um trovão.
Os outros ficaram bulindo
(Vê lá se isso é coisa pra ter gozação)

Ah! Esses ´hómi´ entende é de disco;
jamais de trovão, de corisco e o ´caraio´,
e é capaz ´té que o chiste do tic com o raio
ganhou em ´ingreis´ u´a versão.”

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OUTRO 1%

Lamento!
Você não faz parte daquele 1%
que passa imune ao endividamento,
mas que você defende com unha e com dente,
com seus minguadinhos na conta corrente.
Sei que tem na agenda o ramal do gerente
e está nos favoritos para as questões urgentes.

Você é dos 99%,
e enfrenta a mesma batalha que enfrento,
e parcela a viagem em prestações prudentes,
e engole a poeira dos carros potentes,
e pechincha em exames se fica doente,
e se queixa do emprego diariamente.

Lamento,
Você não faz parte daquele 1%,
mas sei que sob o seu coração de cimento,
deve haver resquício de algum sentimento.

... Senta aí e toma cerveja com a gente,
Se o assunto incomoda, sai pela tangente
Não esquenta com a conta, ´cê é quase parente.

Lamento!
Seria tão bom se fosse diferente,
e você não se prestasse a ser útil e inocente,
pois você é mais um entre os inexistentes.

Lamento
que tenha de optar por lazer ou alimento,
seu remar pela vida contrário ao vento,
autossabotagem nem tem cabimento.


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OUTROS CARNAVAIS VIRÃO
Ricardo Moreira

Claro que chorei...
meu coração não é de aço.
Seguirei triste com a minha solidão,
não deu mesmo para acertar o passo?!

Será verdade que o amor,
é como o “gol anulado” de Aldir, de João?!
Com o tempo um misto
de desgosto e incompreensão,
sem que alguém assuma o fracasso?!

Meu samba ficou bem “nonsense”,
não sei se por sua ausência,
ou a de um refrão.
O fato é que a falta de algo foi a razão,
que obrigou-me a deixar a minha fantasia,
esperando que apareça uma nova paixão
e consigo a alegria
e eu consiga cair com a multidão
na incansável folia...

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PÁ DE CAL
Ricardo Moreira

Desculpe,
eu não tenho razões para ir para o samba...
Já não me contagia
isso que andam chamando hoje carnaval,
tem gente que usa fantasia
só como um disfarce para a hipocrisia
e no resto do ano é ranzinza
com tudo aquilo que acha imoral.

E tem mais...
Se fizerem uma enquete,
junto aos que vestem abadá,
perguntando por quem foi Zé Keti,
ou Dodô e Osmar, ou Candeia, sei lá...

Imagino uns, mascando chiclete,
dizendo que estão ali só pra beijar,
sob o som de um DJ que tomou o lugar
do agogô, o repinique e o ganzá.

Desculpe,
eu não tenho razões para ir para o samba...
Já não me contagia
isso que andam chamando hoje carnaval,
Como posso saber se não é malcriada
a tal foliã mascarada,
ao defender posições em rede social?!

"Poperô" no lugar da marchinha,
penso o que Braguinha teria a falar...
Em vez de apoteose,
overdose do atraso que resta do lado de cá...

Decretemos o fim da folia de Momo,
se falta um "mordomo", é pra já.
Tragam logo uma porção de cal,
que eu assumo a pá.

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PACÍFICO
Ricardo Moreira

Tocando sonatas
com o luxuoso auxílio de um rouxinol...
Numa encosta, um platô em meio à mata,
regata e sandália... A visão do arrebol.

Um quadro então se retrata,
pausa com fermata e um “até breve” para o sol...
Após o amor, uma gata
repousa enroscada ao lençol.

Tocando sonatas
com o luxuoso auxílio de um rouxinol...
Numa encosta, um platô em meio à mata,
regata e sandália... A visão do arrebol.

Alheio a qualquer divergência
- política, crença ou mesmo futebol –,
um assunto com bem mais urgência
é quem rege os corais que compõem um atol.


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PAFÚNCIO
Ricardo Moreira

É comum confirmar-se em jornais
o que a arte já anunciou bem lá atrás.
Se, por vezes, isso é involuntário,
uns casos são só "tradução de sinais".

Antes de virarem reais,
já se ouviu em canção, em um filme ou cartaz...
as ruínas de estelionatários,
tragédias ou viagens espaciais.

Daí a intenção do "ninguém fala mais!",
"calem o artista!", "interrompam o prenúncio!"
É que o artista antecipa os anais
ainda mais se o poder tá nas mãos de um pafúncio.

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PAPAGAIO DE PIRATA
Ricardo Moreira

Papagaio de pirata,
sobre um ombro, sob um flash,
nem se mexe o danado
e ainda ajuda a erguer o cetro,
no centro da foto!
Não se sabe seu futuro,
presente ou passado?!
... Se escolta, ou se anda escoltado?!
ou apenas não se contém,
é um coitado?!
Não se importa com o perigo,
ou palanque, ou espelunca...
Intrometido como nunca,
quer ser apenas notícia na televisão!
Não teme nem a polícia
e nem conhece a preguiça,
ao manter acesa a cobiça
de aparecer, sempre,
no olho do furacão.
Papagaio de pirata
quer pertencer as natas,
é impossível encontrá-lo
escondido nas matas
mas nem por isso,
corre o risco de sofrer a extinção!!!


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PAPEL CARBONO
Ricardo Moreira

Manhã de outono,
o sol aparece,
porém o insuficiente
pra espantar o frio.
O mundo é insano,
ainda mais
pra quem não é herdeiro do trono!...
Segunda-feira
cheira a uma semana longa,
meados de abril.

O maior vilão é o sono
e o dono do meu destino é o vento
e, quando eu levanto assim
é fácil me levar à lona,
bem como, o difícil
é arrancar-me algum sorriso,
a razão, ou um simples cumprimento!

Manhã de outono...
o sono, o dono, o trono, o insano, a lona...
Ao megafone, um fanático fingindo narrar futebol,
passa por mim.

Tal a rotina,
parece até que preenchi a minha agenda
com papel carbono (ou algo assim!...)



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PAPEL DE BALA
Ricardo Moreira

Criança encontrou
bala perdida em quintal...
Cápsula deflagrada,
flagra de algo
que é cada vez mais normal.

Será que bala cumpriu seu papel,
fazendo em alvo um furo?!...
Ou será que alvo foi salvo
pra azar de algum muro?!...

Bala perdida encontrou
criança em quintal...
Hoje, criança é deitada, sedada,
paralisada em leito de hospital.

Será que quem embala a bala,
fala ao filho enquanto o embala,
algo sobre o futuro?!...
Ou, pensa que ele, em frente a um muro,
possa vir a ser o alvo,
salvando o muro de um furo?!...


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PAPO DE BOTECO
Ricardo Moreira

João me disse, num balcão de um bar,
Que adoraria se reencontrar com a “sua” Maria,
Mas há histórias em que tudo está tão certo,
E de uma hora para outra, mesmo o clima varia.

Céu azul e um calor feito o deserto,
de repente dão lugar à frente fria...
e a gente sai de bicicleta, achando perto,
e o mapa não informa que é uma escadaria...

João me disse, num balcão de um bar,
Que, quando ouve Roberto, ele só pensa em Maria”
Isso porque só viu a moça uma vez...
Trocaram olhares, endereços, dentro de uma padaria.

Chamaram-lhe a atenção os joelhos descobertos
Um leve toque em sua tez, que é tão macia...
Ele, um mix “canastrão, cortês e esperto”...
Ela, sorriso, igual a uma Miss Simpatia...

João me disse, num balcão de um bar,
ter certeza que a mulher sua vida era Maria...
que, com ela, ele haveria de casar
e, com esse objetivo, até promessa ele faria...

Eis que novos joelhos surgem a desfilar,
e a promessa, depressa, ele a esqueceria.
E João, com facilidade em se apaixonar,
deixou-me a conversar com a cadeira ali vazia.



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PAPO DE DOIDO
(O AUTOCORRETOR E O CORRETOR ALTO)
Ricardo Moreira

Ela: - Olá, meu Amaro!
Ops... Amor.

Ele: - Ora, quem é esse Amaro
de quem você fala?

Ela: - Foi um ato-falho, eu juro!
Foi só o meu corretor.

Ele: - Preocupam-me as coisas
que envolvem futuro.
O Amaro é quem cota
também meu seguro.
Isso explica o furo,
que fiz com o chifre,
no meu cobertor.

Ela: - Ora, que ideia maloca!
Ops... meleca!
Ops... maluca!
Cê anda estranho!
Despreza a minha “pururuca”
(Ai, esse celular)
E já que está
com essa ideia errada
em sua Coca...
Ops, digo, em sua cuca,
creio que seja melhor
a gente nunca mais conversar.

Ele: - Desculpe o meu precipício,
ou melhor, quis dizer
que me precipitei.
Eu sei que é só meu, seu Amaro
(Ai, eu sou um estrupício.
Ui, eu me revelei)

Ela: - Viu? Não foi minha culpa?
Agora foi a sua vez de errar.

Ele: - Mas é vero, eu tirei o autocorretor:
Eu e Amaro vamos nos casar.


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PAR OU ÍMPAR
Ricardo Moreira

Zezinho ganhou, do seu pai, bola nova,
o problema é que agora vai querer jogar.
Se o dono da bola não é dos melhores,
É a conta pra termos um número par.

Já que os pés já têm calos, suportam o asfalto
faremos as traves usando os chinelos.
Combina-se: ¨É fora se o chute vai alto!¨
Um descanso ao portão do amigo Marcelo.

Tem sorte quem fica com o campo de cima,
pois abre vantagem, o outro desanima.
¨Olha o carro passando!¨... ¨Olha a moto!¨
¨Golaço!¨... Uma pena, ninguém tirou foto...

¨Vira o campo no cinco¨... é o combinado
Que azar, olha o craque, saiu machucado...
¨Passa aqui! Passa aqui! Seu fominha!¨
Xi! A bola caiu na vizinha!!!

¨Foi falta!!!¨... ¨Foi dentro da área!!!¨
É do poste que sai a linha imaginária...
Um apito evita o alvoroço...
É a mãe do Zezinho, chamando pro almoço!


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PARA GRUDAR NA GELADEIRA
Ricardo Moreira

Se quer saber mesmo quem sou,
pegue um lápis, tome nota.
Não peço pra bater palminhas,
tampouco a sola da bota.

Não canto bossa nova em inglês
para impressionar o Nelson Motta,
não faço melodias para ilustrar
qualquer polêmica do Alexandre Frota...

Talvez eu nunca agradarei
quem é sardinha, quando come;
caviar, quando arrota,
talvez eu nunca ocuparei
o coração de quem prefere
entretenimento raso e idiota...
Talvez um pouco requintado
aos que não sabem
que a palavra berinjela é com jota;

ou requentado para aqueles
que já sabem discernir
os para-lamas das calotas.

Tome nota!
Aproveite a ocasião,
pois não tem coreografia.
Esta canção não tem função
de animar seus exercícios na academia.
Para isso, já existe bastante opção!

Tome nota!
Aproveite a ocasião,
pratique a caligrafia.
É bom para não ser sempre
um refém da tecnologia.
Muito do que é patrimônio universal
foi redigido à mão!



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PARADOXO
Ricardo Moreira

Só trabalho pra manter o carro,
que eu só uso exercendo a função...
É combustível, é conserto, é pedágio,
é multa e, às vezes, até colisão...
Só trabalho pra manter o carro,
que eu só uso exercendo a função...
É espelho quebrado por moto,
e o lugar aonde eu vou não tem trem nem busão...

Espero que logo um teletransporte
acabe de vez com essa minha agonia,
e que o preço não esteja na hora da morte,
não quero optar pela holografia.

Espero que logo um teletransporte
acabe de vez com essa minha agonia,
e nem posso saber se eu tenho ou não sorte,
eu não tenho dinheiro nem pra loterias.

Só trabalho pra manter o carro,
que eu só uso exercendo a função...
É IPVA, é seguro,
e eu, duro, não tenho nem para o arroz com feijão

Só trabalho pra manter o carro,
que eu só uso exercendo a função...
De tudo, o pior, não sobra para o estudo,
senão eu mudava até de profissão.



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PARAFUSETA DA REBIMBOCA
(Wilson Rocha e Ricardo Moreira)

Veio de mudança lá da Tijuca
pra morar aqui bem no bairro da Mooca,
uma vizinha dessas que os home torce
que acabe o açúcar e o milho de pipoca

Breque: Aí, malandro, não filma não,
mano, se toca!


A cuca das esposa ciumenta
ganhou assim ainda mais minhoca...
A Candinha tinha agora mais que nunca
motivo pra fazer fofoca.

Breque: Essa é a muié que eu queria
pra ser a rainha da minha maloca!


Nas roda dos amigos tomando um chopinho
ou contando piada ali na padoca
só se falava dela, só se cobiçava
a tal gostosa muié carioca.

De forma que eu,
o Mato Grosso e o Joca
pra vê ela se despir,
criemo uma engenhoca
estrategicamente instalada na mira
do quartinho de fundo
adonde ela se troca

Chegou na toalete, tirou a peruca
e todas as próteses que ela coloca
desencantado nóis três descobrimo
que a fanta não passava de uma coca

Breque: Aí, otário,
tu caiu no equívoco do visu da mina, mano!
Cê não conhece aquele véio deitado
que diz que as aparência sempre engana?
Agora eu, eu, sim, desvendei
a filosofia da parafuseta
dessa rebimboca!



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PARAÍSO FISCAL
Ricardo Moreira

Haja serpente,
para tentar essa gente que tem capital;
que declara só a conta corrente
e sonega o que está em "paraíso fiscal".

Ademais, uma pobre maçã é algo insuficiente...
Tem aquele "por fora"; ora, isso é coisa normal...
Com tanto sem-vergonha na frente;
apesar da peçonha, inocente é o animal.

Sempre que ouço falar "paraíso",
em minha mente, a visão
é de um verde total...
Rio cristalino, nascente
e talvez, numa harpa, um som angelical...

Mas quando é despido o caráter,
qual folha é que cobre essa coisa indecente?
Há quem pense somente que o paraíso
é um lugar pra esconder o "cacau".


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PARANAUÊ DA QUEBRADA
Ricardo Moreira

Chegou minha folga na escala,
pensei que, enfim, eu fosse descansar,
mas quem manja dos paranauê da quebrada
sabe que é cilada, não dá.
Esquece, que não tem finesse,
sonzinho ambiente, um bom vinho, um foie gras.
Tudo é feito com a "sutileza"
que Bush usou pra invadir Bagdá.

O primeiro que passa é o lixeiro;
depois, as testemunhas de Jeová;
A Brasília do ovo; a Kombi da pamonha
e o rapaz que oferece sofá.

O vizinho não larga a Makita,
criança que grita em desafio aos pais...
A disputa pra ver qual rádio mais irrita
e a tal da musiquinha do gás.
Tem a calopsita da casa da frente,
o cachorro da casa de trás.
Só na hora do Brasil Urgente
que dá para se ter um pouquinho de paz.

O primeiro que passa é o lixeiro;
depois, as testemunhas de Jeová;
A Brasília do ovo; a Kombi da pamonha
e o rapaz que oferece sofá.


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PARCELA DE CULPA
Ricardo Moreira

Quem joga o lixo no mato,
recebe de volta do mato,
o rato e a doença.
Quem suja o mato não pensa...

E aquele que suja o rio,
parece que nunca ouviu, na imprensa,
que tem gente que sofre com a enchente
Sujar o rio é uma ofensa...

Pior ainda é o sujeito,
que a caminho da missa,
por pura preguiça joga o lixo no chão,
não tem perdão, o lixo vai para o bueiro,
e com esse cheiro de chuva...
Xiiiiiii! Lá tem inundação.


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PARECE PRECE
(Apá Silvino e Ricardo Moreira)

Você é A frase de Drummond em melhor fase,
a base em que eu me lanço ao mundo da lua,
o toque que impede que um segredo vaze,
você é a melhor cena em que (Paulo) Autran atua.

Por você, dá um viva à vida, o kamikaze,
qualquer pensamento vagueia... A alma flutua
você é a pele novamente intacta
assim que cai a gaze,
você multiplicou a minha “sorte grande” em duas...

Com você é que meus pais
sonham que eu me case,
e caso eu não pense em ti, a contento,
ou pra te ver eu me atrase,
alguma Força Divina me autua...

Só espero que essa mesma Força antes arrase,
tudo que possa fazer
com que o nosso amor se destrua...


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PASSA BOI, PASSA BOIADA
Ricardo Moreira

Sua filha já deu,
já deu o que dizer...
Já era, já foi, o que se há de fazer?
A meu ver, não há nada.

Sua filha já deu,
Já deu o que dizer...
Depois que passa um boi
só nos resta torcer
pra que não passe a boiada.

Não adiantaram os conselhos,
seus olhos vermelhos,
de quando ia buscá-la no fim das baladas
Pedir de joelhos que seguisse o exemplo
da linda donzela do conto de fadas

Dar-lhe educação,
a Folha, o Estadão, a Isto é e a Veja,
levá-la pra igreja
seu ¨preço¨ foi só meia-horinha de papo
e um copo de cerveja


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PASTEURIZAÇÃO
Ricardo Moreira

A situação que se vê cá nos trópicos,
num tempo em que o Wi-fi excluiu as fronteiras,
traz adolescentes que ouvem k-pop
e adultos a dar tanto ibope a asneiras.

Refrãos populares em looping,
rostinhos bonitos no casting,
lazer resumido ao shopping
e especialistas em fact-checking.

É gourmet, é crossfit,
é coach, é brainstorm,
é meet and greet…

Em tempos de likes,
Narciso destaca-se
mais que Afrodite.


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PAUSA PARA REFLEXÃO
Ricardo Moreira

Aquele que está em um trabalho
e vê num intervalo a melhor das pedidas
será que não joga a sua vida no ralo,
e é o trabalho um intervalo de vida?

Há também quem se sente enjaulado
durante o aprender, que é tão libertador,
veja que tempo desperdiçado,
olhe que paradoxo, inversão de valor.

Imagine-se um galo... E intervalo
é o período que vai desde a casca à panela.
Se a vida é um viajar ao Alasca,
curtamos a estrada, olhando a janela.


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PAUTAS MORAIS
(Fernando Cavallieri e Ricardo Moreira)

Havia ali duas meninas tomando cerveja,
na praça do coreto, na frente da igreja.
Eis que chega um rapaz e uma delas corteja,
mas fica revoltado ao ver que elas se beijam.

Saiu reclamando, batendo no peito, dizendo que isso era o fim,
Mais um entre tantos exemplos
de "macho" que desde pequeno ouve "sim"...
Que chega contando vantagem lá no butiquim.

E quando perdeu o celular, foi um tal de "Ora veja!",
Vazaram detalhes febris como em uma bandeja...
Citar teoria freudiana é o que o fato enseja:
Quem tanto abomina uma coisa, é sinal que a deseja.

Havia ali duas meninas tomando cerveja,
na praça do coreto, na frente da igreja.
Eis que chega um rapaz e uma delas corteja,
mas fica revoltado ao ver que elas se beijam.

Claro que o moço é bem Vivo
e mantém seus sigilos num chip da TIM
No escuro, o feroz e agressivo atende pelo codinome Yasmin.
Abusa no salto e no talco, na intimidade do seu camarim.
Milícia de pautas morais geralmente é assim.

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PÉ DE MEIA
Ricardo Moreira

Este que hoje dribla beques,
seus pais o queriam com diploma e beca.
Fintava sem dó toda bic.
Na escola, foi sempre um menino sapeca.

Possui quem preenche os cheques que assina.
Sua conta é fonte que não seca.
Incrementa o que ganha graças à “menina”
com comerciais de cueca.

Sabe que em pouco mais de uma década
esse glamour chega ao fim.
Não quer ver tudo ir para hipoteca
e voltar à miséria lá do pré-mirim.

Aceita convite nas férias
para abrilhantar festivais de peteca,
enfim, tem bastante urubu rodeando,
faminto, a atacar seu dindim.

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PECADO UMA COISA DESSAS
Ricardo Moreira

Qual é o preço que eles cobram?
Quanto será que eles pedem
pelo quilo das maçãs
nas feiras-livres do Jardim do Éden?

Se pechinchar,
será que rola um descontinho?
Será que eles concedem?
Sabemos que os feirantes
que não fecham a conta direitinho,
os donos das barracas os despedem.

Qual é o preço que eles cobram?
Quanto será que eles pedem
pelo quilo das maçãs
nas feiras-livres do Jardim do Éden?

Pois, se a semente vem de graça no alimento,
é invenção do homem os custos que excedem
não vejo cabimento que uns, em vez de repartir,
preferem que os produtos que sobrarem azedem.


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PEDRA NO SAPATO
Ricardo Moreira

Isso! Continua a rir de mim, aí do raso!
Sem concorrentes nessa busca ao tesouro,
não corro o risco de chegar com atraso!
Só não me peças para dividir contigo,
se eu achá-lo, por acaso!...


Não tenho culpa se o que denominas pleno;
para mim, é só pedaço!
Ah! Se quem se ocupasse com o que é terreno
esquecesse quem quer conquistar o espaço.

Preferes misturar ao teu veneno
porções enormes do próprio fracasso,
acredito que é tão pequeno
viveres a criticar tudo o que eu faço!

Isso! Continua a rir de mim, aí do raso!...

Eu tenho pressa,
mas somente a vida
é quem determina o prazo.


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PEIXÃO GRAÚDO
Ricardo Moreira

Aonde 'cê vai com tanta pressa?
É muito cedo "pra ocê" rir da minha cara.
Ainda agorinha foi que começou a pesca
E só tem peixāo graúdo rodeando a minha vara.

Não tem razão
pro samburá voltar vazio...
Vara é da boa, a isca é honesta
e a pinguinha é de barril.

Em vez de rir,
por que você não se prepara
para a festa que vou dar
quando "ir" embora desse rio

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PERGUNTA, MINHA FILHA
(Ricardo Moreira e Élder Braga)

Sigo veloz pelo anel viário,
em meio a um mar de miséria
do pus de um inferno operário
que para os jornais é matéria

Aumento o rádio e escuto da crise,
falam da violência
parece reprise
do show de nossa demência

Pergunta minha filha!
"Papai o que é uma ilha?"
Ilha, somos nós!

Me ultrapassam dois carros esporte
é o salário de anos

Correm, rumo ao norte,
Em meio a um céu de urubus

Penso que se eu parar eu apanho
são casas sem reboco
crianças sem banho, um inferno barroco
que não tem tamanho

Pergunta minha filha!...
"Papai o que é uma ilha?"
Ilha, somos nós!

Sigo veloz pelo anel viário,
vejo o "país do futuro"
os esqueletos do armário
e o tamanho do muro



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PERSONA NON GRATA
Ricardo Moreira

Eis que o honesto chegou.
Chegou, destoando do resto...
Chegou gritando “Eu presto”
e “Agora a farra acabou”.

Bastou apenas um gesto,
em sinal de protesto,
de quem sempre roubou,
e o virtuoso tornou-se indigesto,
fez-se um manifesto e o jogo virou.

Oferecendo os seus préstimos,
a emissora afiliada endossou.
Mancomunada - em ato funesto –
o honesto em vilão transformou.

Eis que o honesto chegou.
Chegou, destoando do resto...
Chegou gritando “Eu presto”
e “Agora a farra acabou”.

E deu-se sequência na “festa”,
mas com um risco que não se dimensionou...
E se, onde a educação não presta,
fugir do controle isso que se criou?!

De repente a pista é tomada por gente
com instinto extremista,
gente que, quando ergue a crista,
nem Cristo a convence de que se enganou...

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PERSONAGEM DE FLAUBERT
Ricardo Moreira

Ele me jurava amor eterno
e, assim, nas noites de inverno,
me levava ao seu chalé...
Me escrevia versos no caderno,
se "aprumava" com bons termos,
me acordava com café.

Me aquecia em frente a uma lareira,
me explicava em qual madeira
se envelhece um Carménère,
eu sorria de qualquer besteira,
até porque por vez primeira
alguém me amou como mulher.

Preservava o clima de paquera
e, assim, durante a primavera,
era o meu "chef" e o meu chofer...
E junto a gente viu de "A bela e a fera"
até "Platoon", quase que zera
os musicais de Fred Astaire.

Nesse tempo achei que era besteira,
mas me deu uma ciumeira
da invenção dos Lumière...
É que ele acompanhava a história inteira
e me esquecia na cadeira 
às vezes sem um olhar sequer.

Chega o verão, e eu confirmei
que pode, sim, existir briga 
mesmo se um dos dois não quer... 
Levantou-me a mão "só de zoeira",
sorte que uma parceira
veio e "meteu sua colher"...

Tinha o futebol da sexta-feira,
disse não querer coleira...
Um defensor do "Laissez-faire"
Começou até a dar bandeira,
(Vi cair de sua carteira
a foto de um novo affair.)

Nem vinha me ver jurando sono,
e me trocou pelo quimono
ou outra distração qualquer.
Fui me acostumando com o abandono
e repetia pelo outono
"Seja o que Deus quiser".

Firmei, com algumas cópias em carbono:
“Nunca mais eu me apaixono.
Certifico e dou fé.”
E saí daquela relação mais livre
e causando inveja 
em personagem de Flaubert.



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PERTO DEMAIS DAS CAPITAIS
Ricardo Moreira

Cruzo a cidade para comprar algum incenso
e fico muito mais propenso ao estresse.
Juro que numa outra vez eu paro e penso
em encontrar a paz somente numa prece...

E, assim, longe da confusão... falta de senso;
no escuro, e sob o cobertor que me aquece,
perceberei que, sim, o mundo é imenso
Se quer espaço no metrô, meu caro, esquece!

Ainda que muitos achem que isso é normal,
tem uma coisa que em muito me entristece
Se eu acho que a lotação já é total,
para na Sé, entra mais gente e ninguém desce

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PERTURBAÇÃO DA DESORDEM
Ricardo Moreira

Aonde ´cê pensa que vai,
levando na bolsa porções de poesia?
Pois saiba, o senhor,
que é crime traficar cultura.

Não pense que estou pra brincar,
já tem muita ocorrência
ocupando o meu dia.
É muito papinho de amor,
infestando um ambiente
propício à tortura.

É considerado usuário
somente quem traz
em sua posse um haicai.
O senhor, a meu ver,
já se enquadra em poemas
com outra estrutura.

Aí tem versos de mais,
tem rima e harmonia em fartura.
Favor, queira me acompanhar
até a viatura.


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PICUINHA
Ricardo Moreira

Ele desinstalou o Facebook
e o WhatsApp do seu celular
e viu que a vida é muito mais
do que rir com bobagens e compartilhar.

Passou a praticar esportes,
deu um novo norte à forma de pensar,
desencapou o violão esquecido num canto
e voltou a tocar.

Se ele soubesse o quanto
a ignorância estava lhe fazendo mal,
teria saído bem antes pra cuidar das plantas
que há no seu quintal.

Classificou-se em um concurso,
tem trabalho estável numa estatal.
´Tá se lixando pra discurso,
seja progressista ou neoliberal.

Notou mudança na balança,
o sedentário viu um atleta nascer,
tirou poeira de um Drummond
que estava na estante e começou a ler.

Cursou gastronomia, história
e até mitologia passou a entender...
Ganhou tempo pros seus
e às discussões inúteis disse adeus.

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PINTURA ACADÊMICA
Ricardo Moreira

Dobrando a esquina,
logo após a capelinha,
já se avista a colina,
onde eu sonhava em morar
Sonhava em construir
uma bela casinha,
para morar com a menina
que eu sonhava em namorar.
Sonhava em aquecê-la
em noite de neblina,
mas, seguindo minha sina,
limitei-me a sonhar...
Dobrando a esquina,
quem não vê nem imagina,
há um rio com água cristalina,
onde eu sonhava em me banhar...
Banhar um banho
Que, nunca, em qualquer piscina...
Um banho que só termina
sob os raios do luar
Mas vendo a vida
pela fresta da cortina,
só um desenho em cartolina,
é o que eu tenho para me orgulhar...


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PLEASURE, JOY AND FUN
(Ayrton Mugnaini Jr. e Ricardo Moreira)

I may not know ‘bout many things,
but I sure know this one:
there are no more serious things
than pleasure, joy and fun

There’s one more thing I know
and this I say with pride
there is no better time in life
than when I’m by your side.

Every piece you undress
from dress of silk to shoe of leather
seems to act like a silver thread
to bring the stars together.

The clouds too seem closer
on them I feel like walking
and what else is there to say
no need to keep talking.

But I do want to shout,
to cry, to yell, to laugh
like a king that just got crowned
and a child that has just found
the joy and life of breath.



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PLÍNIO - O GRANDE CONSULTOR
Ricardo Moreira

Sempre que um país passava
por um momento de crise
Plínio era sempre acionado
para implantar seu "take it easy".

Acompanhei bem de perto
uma consultoria de Plínio,
sobre a não aceitação de um escrutínio.

Disse Plínio:
"o povo anda revoltado, discipline-o"...
"Tem alguém aí estimulando o raciocínio" - disse Plínio.

"Quando se perderam as rédeas?
Dê mais circos!!! Mais comédias!!!!"
Plínio era mesmo um doutrinador muito exímio"

Disse Plínio:
"Mantenha sua boca
ocupada com pão, discipline-o"...
"Mas não dê fácil assim na mão!!!" -
Disse Plínio.

"Ele precisa valorizar!!!"
"E, se não 'sabe pescar', ensine-o"

Se o plano de Plínio falhar,
resta a opção de chamar
um grupo de extermínio.


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PLUMBOSO
Ricardo Moreira

Não sei se treino a exaltação aos céus de anil,
ao ver o aproximar dessas nuvens cor chumbo,
os cães raivosos espumando no canil...
Reprise dos tempos sombrios que houve no mundo.

Eu não compreendo a paz na mira de um fuzil,
coturnos a marchar junto aos graves do bumbo.
´Tá tudo aí: fósforo, pólvora e pavio;
e o ato de pensar, “coisa de vagabundo”.

Quando é gritando que se exibe o poderio,
sei que, se eu só cantar gentil, sequer confundo.
Sou só uma voz, perto da foz, que sabe onde vai dar o rio,
mas sem ideia de onde ele é oriundo.

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PÓ DE PIRLIMPIMPEACHMENT
Ricardo Moreira

Com o “pó de pirlimpimpeachment”
Tudo ganhará mais cor.
Adquira seu convite.
Aqui transbordará o amor.

Tudo em clima de sossego,
fartura e pleno emprego...
um país a todo vapor.

Com o “pó de pirlimpimpeachment”
Não se sofrerá jamais,
pobre unir-se-á à elite;
boates de luxo, ao cais.

Reinará a eficiência,
educação com excelência.
Adeus às filas em hospitais.

Com o “pó de pirlimpimpeachment”
Pelé volta a jogar,
a Alemanha, acredite,
vai tremer quando enfrentar...

Funcionários de emprenteiras,
em êxtase, com as peneiras,
vão ter prazer em trabalhar.

E, de tão barata a feira,
com o que sobra na carteira,
todos enfim vão viajar.


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PODA
Ricardo Moreira

Mais uma família destruída pelo crack,
invasão americana no Iraque,
novo ataque de uma entidade criminosa,
e uma mãe arranjou tempo
para mostrar ao filho a rosa!

Mais um ônibus incendiado,
outra morte na saída de um estádio.
A vida na metrópole
tão fútil e perigosa,
e aquela mãe arranjou tempo
para mostrar ao filho a rosa!

O menino então cresceu,
achando a vida
muito mais gostosa,
eu não diria um “alienado”,
e sim alguém que aprendeu
que, embora só exibam o feio,
a vida é sim maravilhosa
Corrupção, que já criou raiz.
Está instaurada a ineficácia
dos serviços no país.

A escola em que a “errada”
é a criança estudiosa.
Mas a mãe ainda insistia
em mostrar ao filho a rosa...

Segue à caça pelo Ibope,
a tal da imprensa marrom.
Nos falantes de automóveis,
ruim a música, alto o som...
E a tal mãe merecedora
até de uma menção honrosa,
apontando para o filho
a beleza de uma rosa!

Hoje a mãe vela o seu filho,
numa cabine ali do Vila Formosa
e, vendo as flores das coroas,
triste sim, mas orgulhosa...
O menino padeceu à luz do dia
(Quanto à autoria? Nada há de misteriosa!),
nas mãos de um outro menino;
ao qual, nunca exibiram uma rosa...



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PODE ISSO, ARNALDO?
(Sonekka e Ricardo Moreira)

Para a mãe, o filho é sempre lindo;
para o pai, o filho é sempre craque...
Para o doutor, a cura já está indo;
para quem sente dor é lento o tique-taque.

O vento é frio para quem já está tossindo;
a fila é imensa quando é urgente o saque...
O elevador desce para quem está subindo,
a distração é isca ao sorrateiro ataque

Viver, enfim, é coisa tão estranha,
não tem cartilha, receita ou almanaque.
Quando a gente espera explosão tamanha
o que se entrega é um inofensivo traque.

Viver, enfim, é coisa tão estranha,
não tem cartilha, receita ou almanaque...
Pra descobrir quem é o autor de uma façanha,
não basta analisar quem tem cartola e fraque.

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POETA QUE PARIU
Ricardo Moreira

Uma flor
e um sentimento que nem chega a ser amor
têm na canção espécie de amplificador.
Foi o poeta que pariu.

Um calor,
muito mais quente que o verão de Salvador,
nem mesmo o sol que brilha lá tem tanta cor.
Foi o poeta que pariu.

Uma saudade
gerando lágrimas que encheriam um rio,
tão dolorida quanto a dor se alguém partiu.
Só o poeta há de fingir.

Falsidade,
no texto do poeta, passa a ser verdade,
o puro ódio vira até felicidade,
e mesmo o choro faz sorrir.

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POLISSEMIA
(problemas nas linhas)

Ricardo Moreira

Um empresário convidou amigos
para um passeio em alto-mar.
Havia adquirido um iate.
Entre eles, tinha um telefonista,
o outro era maquinista e, por fim, um alfaiate.

Só que ao chegarem ao destino,
sem sinal no celular,
o capitão lhes informou
que um teria de voltar...

Previa o aviso um prejuízo,
entrecortado no trecho do vocativo,
e eram “as linhas” o motivo.

O menos preocupado era o telefonista:
“Àquela hora, outro atendente
´iria estar resolvendo´”
Já, com os trilhos, preocupou-se o maquinista:
“Deve ser queda de fios...
É sempre é assim se está chovendo”.

O alfaiate que, recente,
trocara o fornecedor,
desesperado, chorou compulsivamente...
Somente em terra,
viu-se que o destinatário da mensagem
era o empresário, que, de lá do litoral,
fez demitir o seu gerente.


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POLOS OPOSTOS
Ricardo Moreira

Há quem reze pelo torturado uma ave-maria
e há quem vibre com o carrasco...
Há quem torça para o Olaria,
numa família que é inteirinha Vasco.

É vasto o campo de opções:
há quem é Tom e há quem é Jerry...
Vide as cenas de penhasco:
um torce para o papa-léguas,
o outro quer que ele se ferre...

Há quem prefira a sobremesa,
há quem fique no antepasto...
Há quem descubra e há quem enterre
e quem, em vez de ir de avião, escolha ir pela BR.

Um caça a sua alegria com vara e arpão;
o outro, com rede de arrasto
Há quem preserve o presente no armário,
e há quem queira vê-lo imediatamente gasto...

Sou um polo oposto a você,
e isso é o que nos aproxima.
Sou de ir vasculhar o “lado B”,
a você satisfaz só conhecer a obra-prima.

Sou um polo oposto a você,
e isso é o que nos aproxima.
Às vezes discutimos sem razão ou um porquê,
mas nutro-lhe verdadeira estima.



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PONTO FORA DA CURVA
(Sonekka e Ricardo Moreira)

Sempre haverá aquele
que destoa do conjunto
e nem chamo a atenção
pra pedir vela aos maus defuntos.

Ser quem desafina o coro
é possível, e esse é o assunto.
E se não é mesmo o escudo aos desaforos?
Eu pergunto...

Tem milho que resiste
ao fogo e ao óleo
e não estoura;
tem semente que não brota
nem com adubo na lavoura...

Tem papel que não sucumbe
ao corte da melhor tesoura.
Quem somos nós pra julgar
se um é "gravata", e o outro é "vassoura"...

... Se o melhor homem do mundo
nasceu numa manjedoura?


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PONTOS DE VISTA
Ricardo Moreira

Opinião, cada um tem a sua,
eu também tenho a minha.
Há quem prefira aveia e comida crua,
já eu prefiro mesmo é torresmo e coxinha.

Opinião, cada um tem a sua,
Eu também tenho a minha.
Tem gente triste com o fim da Kombi, a velha perua,
eu lamento muito é pelo fusquinha.

Tem gente que tem pena de cachorro de rua,
resgata, mas o deixa preso a uma casinha.
Há os que pretendem que a cidade evolua;
outros, a simplicidade ribeirinha.

Há quem se influencie pelas fases da lua,
e quem ache que isso tudo é história da carochinha.
Há quem renuncie a toda atividade em que sua
e quem diariamente acorda cedo e caminha.

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PORTA GIRATÓRIA
Ricardo Moreira

Maria precisou se humilhar
pra conseguir uma hora livre
dos desmandos da patroa.
Tinha uma dívida a negociar,
foi até o banco conversar.
jamais foi pra ficar à toa.

Paulo, ali, por sua vez,
deixou seu cargo na estatal...
Mercado lhe atesta reputação boa
Empresas que quiserem privilégio em informação
têm a certeza de que encontraram a pessoa.

Tem coisa que é até difícil de contar,
mas é preciso destacar
por mais que a verdade doa...
Não pertencem ao mesmo barco
o que só esfrega o convés
e o que define pra onde é que aponta a proa.

Mesmo com desfalques a um país,
Paulo é "doutor" para o juiz
e entra impoluto para os livros de história,
já Maria, se trouxer, na bolsa,
chave e drops de anis,
será barrada pela porta giratória.


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PRA NÃO DIZER QUE ESQUECEMOS VANDRÉ
Ricardo Moreira

Sobre o que mais você queria que eu dissesse,
ante essa mega-hipnose tão cruel...
Da disseminação do ódio que floresce?
(E vinda de quem deseja um lugar no céu).

Sobre o que mais você queria que eu dissesse,
nesse momento em que a apatia é coletiva?
Em que a versão de inconsequentes prevalece
e a racionalidade aceita tão passiva?

Sobre o que mais você queria que eu dissesse?
Sei que é "uma ova" que o "poder do povo emana",
mas é que esse irritante "vamos ver o que acontece"
é exatamente com que contam os bacanas.

Eu que não quero ver meu nome
junto ali, num escaninho,
dos que lavam as mãos tais qual Pôncio Pilatos.
Ainda que cheios de espinhos,
quero trilhar os caminhos
dos que vivem
em confronto com o status (quo).

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PRA ESCANTEIO
Ricardo Moreira

Cansado das tensões nas harmonias,
mandei a dissonância pra escanteio...
Botei acordes cheios na poesia
e espalhei pro mundo por e-mail...

Canção em Dó Maior,
só teclas brancas...
Logo, nas bancas,
peça para o seu jornaleiro!

Talvez lhe sirva pra que arraste suas tamancas
ou quem sabe pra animar os seus passeios
“Se pá” ajude a romper retrancas
das moças lindas durante os seus galanteios.
...
Talvez caia no gosto das crianças
ou toque em quermesse durante os sorteios...
alguma dupla grave e, só com grama da poupança,
enfim eu possa conhecer o mundo inteiro.


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PREGAÇÃO
(Saquem suas almas)
Ricardo Moreira

Surreal submeter-me a quem quer ditar regras
Até pra montagem de um lego...
Que seria legal me largar para um lugar
Junto a um lago... Isso é claro, eu não nego.

Eu poderia passar bem ao largo
ou encarnar-me em um capacho, fingir-me de cego...
Mas minha munição é a palavra;
a canção, minha arma... Aqui eu descarrego

Contra gente que quer botar prego
em minha cruz diária, esta que eu carrego
Os versos devolvem a razão,
eu me recomponho, reflito e sossego.

Contra gente que quer botar prego
em todo brinquedo em que eu escorrego...
A lição que me ensinam os tiranos
É não imitá-los. Basta isso e eu me alegro.


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PREVISÃO DO TEMPO
Ricardo Moreira

É bom...
eu botar logo grades fortes na janela,
pois não demora, e os carros todos vão voar
...

Não sei se com hélice ou asa,
com energia elétrica, ou caldeira em brasa...
Certeza só terá você, se olhar para o céu,
serei aquele a flutuar
sobre sua casa...

É bom...

E lá em cima, sem esquinas,
ninguém mais saberá,
onde começa onde termina a rua
Então, os GPSs vão orientar:
Siga as estrelas,
vire à esquerda ao ver a Lua

É bom...

E os motoristas terão a opção, enfim,
de dar carona às gaivotas,
ou a algum anjo serafim...
A utilidade do asfalto chega ao fim,
estradas e avenidas virarão belos jardins...

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PRIMEIRO CHORO
(Cacala Carvalho e Ricardo Moreira)

Prometi pro meu amor um poema,
o que, por si só, já merece um bom tema...
Pensei de cara em algo bem pra cima,
tendo somente a rima, como algema.

Tentei fazer do argumento, um acontecimento,
E, nesse trecho, a palavra não é mero apetrecho,
senão o fermento, o cimento...
O que torna o momento de ler um prazer.

Já me preocupava o desfecho,
Quando, num flagra, meu amor pegou-me a escrever,
Que “rejuvenesceríamos juntos,
até quem sabe, um dos dois nascer”...

Daí pra frente, qualquer final soaria perfeito,
deu pra notar que em seu peito,
bateu forte o coração...
E assim meio fora de eixo,
tascou-me o melhor dos seus beijos...
E o que veio depois...
...Conto não!

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PRISMA

Cheguei a ficar vermelho,
diante do teu sorriso “amarelo”,
quando eu ainda era “verde”.
Parece até que tinha sangue “azul”.

Hoje com o preto da barba,
quebrando o predomínio prata do espelho.
Não fico “roxo” de raiva
Nem “branco” de pavor.
Só me restou o desprezo
e para o desprezo eu não achei a cor!

Nunca quis ser teu “laranja”,
mesmo porque nem tens o ouro que esbanja!
Lembro das vezes em que, de tão nervosa,
chegaste a desonrar a roupa rosa.

Hoje com o preto da barba ...!


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PROCESSO DE CRIAÇÃO
Ricardo Moreira

Havia só um toco de lápis
já com a ponta arredondada
e o verso de uma folha com anotações...
Fiquei de cócoras num canto,
ali mesmo no hall de entrada
e desandei a registrar recordações.

Eu preferi manter as luzes apagadas,
só o clarão da madrugada
iluminando minhas ações.
Enfim, assim mesmo,
de forma quase nunca planejada,
é que insistem em surgir certas canções.


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PROCRASTINAÇÃO
(QUEM SABE FAZ É HORA)
Ricardo Moreira

Ontem acordei com algo estranho,
antes mesmo de ir pro banho,
ouvi uma voz falando: “Faça!”
Foi como se eu ganhasse
muito mais tamanho.
Eu disse: “de hoje é que não passa!”

Só que antes fui curtir cerveja e sol na praça,
refletir sobre aquilo...
“Só ´faz´ quem tem uma força que satisfaça.
Eu vou pra casa para um cochilo”.

Despertei à hora do jantar, faminto...
Uma taça, um vinho tinto
e não foi pra fazer pirraça.
“Se é pra ´fazer´, eu vou ´fazer´ é em labirinto,
em linha reta, não tem graça”

Se é verdade,
“um dia chega a vez da caça”,
ontem eu ´tava “só a carcaça”
e quis mais dias de lambuja.

Faltou-me perna,
“ora, ora, voz interna”...
Ignorei a dita cuja.


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PROMESSAS DE CAMPANHA
(m’amem no pleito)
Ricardo Moreira

Arrancarei da multidão
a escória, a cárie, o corrosivo.
Já sabendo: é do veneno,
que é extraída a vacina!
Sei que não é tarefa fácil,
tal tirar bolha de ar do adesivo,
engolir ingrediente que engorda
e cheira mal na vitamina!

Farei valer o meu discurso,
sem abusar, porém, do imperativo.
Peço que em mim confiem;
como, na pureza da gasolina
e sem pose de general ou coronel
até me esquivo
de oportunista, em continência,
demonstrando disciplina!

Convocarei para limpar os muros,
com detergente e abrasivos,
o que, na cabina, fuma
e o que, no túnel, buzina.
Darei ao que de fortuitos furtos vive,
um incentivo para que vá bancar o herói
ou o “machão” na Palestina!

Para evitar maior problema,
ocuparei subversivos,
com a leitura de antigos
almanaques da “Sabrina”;
outros, como opção, serão cativos
de uma sadomasoquista
a pingar-lhes parafina!




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PROMESSAS DE RÉVEILLON
Ricardo Moreira

Eu vou praticar apneia
ou, sei lá, outra ideia...
pôr fogo em pneu,
tentar reencarnar Raul Pompeia
e dar novo desfecho
ao romance “O Ateneu”...

Lutar com leões na Nemeia,
dar “mosh” ouvindo “Esse cara sou eu”,
cessar as tensões na Crimeia,
revelar sermões de São Bartolomeu.

Pregar estoicismo em assembleia
de quem crê que um rei na barriga nasceu,
eu vou chegar fazendo greia
ante um pelotão nos braços de morfeu.

Eu vou contar com uma vara a colmeia,
explicar salvação a um ateu,
inventar a real panaceia,
opção quando só o que nos resta é um “fodeu!”


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PROVÉRBIOS
Ricardo Moreira

Enquanto uma criança canta,
cresce em mim a crença
de que um dia... Quiçá um dia,
a honestidade vença...
E o travesseiro tire o sono
dos que tanto pesa, a consciência...
Sei que é utopia, é esmurrar ponta de faca...
Pagar um mico, entrar numa fria,
fazer papel de babaca...
Mas eu também tenho pedras na mão
e toda essa safadeza em minha frente
é uma grande vidraça.
Por que não ser hoje, então,
o grande dia da caça?
Vocês não podem me ver de onde estão,
minha voz é única e, uma andorinha só não faz verão...
Mas daqui eu vejo o sorriso sacana dos senhores,
não só em preto e branco,
como também em cores
Vistam o que lhes cabe: uma enorme carapuça!
Torçam para que eu esqueça,
ou então, que a vaca tussa...
E, da próxima vez, se é que o recado valeu,
O que lhes convém e me era viável: o voto.
O GATO COMEU!!!

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QUARTO ESCURO

No canto escuro de um quarto,
enrolado num manto,
aqueço meu corpo
e o frio eu espanto!

Enquanto sentado
no canto do quarto...
Eu canto,
esqueço as mágoas,
enxugo meu pranto!!!

Levanto do canto escuro do quarto
e acendo a luz
para escrever esse blues!!!

No entanto esse blues
que eu canto
não deriva
de alguma magia ou encanto!!!


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QUATRO ESTAÇÕES E MEIA
Ricardo Moreira

Deixei meu carro ali na Ana Rosa
e fui pra Vila Madalena de metrô.
Assobiava um Adoniran Barbosa,
que ouvia quando eu visitava meu avô.
Sentei-me com uma dona graciosa,
que ria do meu assobio,
por trás um “Ray-ban” de camelô...
Não vacilei, passei a puxar prosa.
Assim, foi que começou o nosso amor.
Me disse que vinha da Luz,
e eu, mariposa com frio,
passei a exaltar suas belezas,

como se eu fosse o Tom Jobim;
e ela, o Rio...
Preciosa! Perfeita!
Já foi “capa de revista”,
mas, “moça direita”,
só foi me beijar no final da Paulista
Descemos a pé pelo Sumaré,
eu me esqueci da Vila,
entreguei-me à conquista
e hoje sou cronista
de mais um “amor à primeira vista”.
(por sob a Paulista)



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QUE OS ANJOS DIGAM AMÉM
Ricardo Moreira

Folgo muito em lhe informar,
mas os meus dias de penúria estão contados
Se eu passei por maus bocados,
agora esse jogo vai virar.

Deixo pra trás a vida de contar trocados
para comer um pão na chapa
com um pingado ali no bar...

Passo a andar somente de carro importado,
sempre bem acompanhado.
Enfim, viver... vou viajar

Nem mais saber
se o metrô está apinhado,
se o boleto está atrasado...
Eu vou morar é em frente ao mar.

Prosperidade e sucesso misturados
Deus manteve bem guardados.
Só faltava eu acreditar.

Nem mais saber
se o metrô está apinhado,
se o boleto está atrasado...
Eu vou morar é em frente ao mar.

Prosperidade e sucesso,
tudo junto e misturado...
Só faltava eu acreditar.


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QUE TAL DISCUTIR A RELAÇÃO, HUMOR?
Ricardo Moreira

Meu humor,
vamos botar nossa conversa em dia...
Sua inconstância tem me incomodado
´cê tem sorrido para melancolia,
e isso me deixa um tanto irritado.

Meu humor,
acho até... você nem desconfia,
mas muito amigo meu tem reparado,
tem dia em que você nem dá bom dia,
parece sempre estar contrariado.

´Tô preocupado,
que ´cê queime o filme,
´tô dando um toque,
eu ´tô vendo o seu lado.

Não veja nisso crise de ciúme,
pois quanto a isso já ´tô vacinado...

Eu só não quero que isso estrague a fama
que você traz do passado.

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QUEM ALEGRA O BOBO
Ricardo Moreira

Quem alegra o bobo da corte,
quando a vida já não lhe sorri?
E se, por isso, ele se joga de uma ponte
ou cruza o campo minado no ombro do saci?!...

Se ele acaba o seu salário,
atirando moedas lá na fonte?!
Se ele se afoga em vermouth?!
Discute com algum brutamontes?!...

Será que sairá algum juiz fazendo graça,
detrás de um calhamaço de processos, em socorro ao palhaço?!...
Ou será mais fácil, começar a torcer pelo sucesso,
de quem há muito tempo já cobiça o seu espaço?!

Será que é bom contar
com o cara que limpa as vidraças?!
Será que engenheiros e arquitetos,
interromperão seus traços
e enviarão frases de auto-ajuda...
emails com anexo?! Ou uma criança, enfim,
é quem vai reservar-lhe um abraço


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QUEM JÁ SAIU FERIDO
Ricardo Moreira

Quem já saiu ferido
não mergulha de cabeça...
Tem sempre um dos pés atrás
e as mãos nas alças da razão.
E indeciso se alimenta em prato sujo
com medo que fique liso,
com a união louça e sabão.

O indivíduo atira pedras no cupido
e no culpado por tal trauma
e se entrega à solidão...
É precavido às armadilhas da libido
e só enxerga os perigos embutidos na paixão.

Quem já saiu ferido
olha até desconfiado
e muda o lado da calçada,
se alguém vem na contramão
e se assusta com os critérios adotados;
faz mistério com o que é justo, na sua opinião.

E teme até quem esculpe o corpo para o pecado
e ocupa-se aos copos sem culpa,
mesmo, às vezes, sem razão!
Crê taxativo que ninguém está ao seu lado
E se acha ativo demais
para preocupar-se com a emoção!


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QUEM PARIU MATHEUS QUE BALANCE
(Kláber Albuquerque e Ricardo Moreira)

Senhor Rubens era culto,
um fã das divas do cinema,
jamais se ouviu fazendo um insulto
ou reclamando de um problema.

Sua primogênita, Ava Gardner,
até tentou ler uns romances,
mas não tem quem pôr pra cuidar
em sua lanchonete, a Ava Lanches.

Rita Hayworth, a do meio,
chegou a provar uns lances...
Quando saía pros passeios,
ouvia Siouxsie and the Banshees.

Lollobrigida, a caçula,
quer ser atriz, mas não vê chances...
É ansiosa e entregue à gula
e sobrevive de uns freelances.

Quem pariu Matheus que balance.
Quem pariu Matheus que balance.


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RAIZ
Ricardo Moreira

Olha,
vai ser boa, a colheita.
Se aquieta e aceita
o vento tomar conta
e o verde, ponta a ponta,
chove um pouco,
molha...
Aproveita o teu momento, o teu sustento...
e a vida, a cem por hora,
a cem por cento,
é sempre o que se quis!
Colhe...
Apanha os frutos, preserva a raiz,
E, feliz: brinda, brinca, berra, abraça
...agradece a terra!!!
Acolhe...
contente, os louros da tua vitória,
Acrescente à paz nunca perder os sonhos,
pois sem sonhos,
vive-se só de memória...

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REALIDADE NO VITRAL
Ricardo Moreira

Estranha e ao mesmo tempo tão comum criatura,
porta-se de forma ingênua e pura
perante os apuros;
exibe, orgulhoso, a camisa do time surrada
e seus furos!
Sorri com os poucos dentes
que resistem em sua boca,
arrastando seu velho carrinho,
com os restos do mercado municipal...
Em sua visão de mundo quase louca,
encontra forças, sabe-se lá de onde,
para brincar seu carnaval;
já que, há muito, não sabe o que é um prato,
no máximo, uma dose do velho “veneno”
e um espeto, como ele mesmo diz: “de gato”!
Não faz idéia de quem seja o presidente
E me pergunta: “Não seria essa gente
que passa de um lado para o outro de jato?”
Concordo e devo admitir que não mente!
E, por maior que seja o alcance da lente,
lá de cima não interessa o retrato!!!

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REALIDADE PARALELA
Ricardo Moreira

Pra “viralizar” fez o que pôde,
tinha até um QR Code estampado em sua camisa
que direcionava a um link
de uma foto junto a uns drinks
numa praia de Ibiza.

Diz que tem canções para download,
uma banda com três roadies...
Isso não passa de “brisa”.
Produz do seu quarto lá em Mairinque
um Chroma key num fundo pink,
(um E.V.A. que ele improvisa).

Na vida real, é muito tímido o menino,
o que preocupa sua mãe, dona Adalgisa.
Muito mais profundo ao fato de que ele não brinque
é que, em verdade, ele nem se socializa.

Diz que tem canções para download,
uma banda com três roadies...
Isso não passa de “brisa”.
Produz do seu quarto lá em Mairinque
um Chroma key num fundo pink,
e a imagem, assim, sai imprecisa.

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RECHAÇO
Ricardo Moreira

Tudo se resolve
se a tevê talvez der traço,
ou quando o ódio entre iguais
talvez perder para o abraço
ou achacadores se acometam por cansaço...
Não nos façam de palhaços.

Ou caso a razão resolva
retornar lá do espaço,
ou quem vê mundo aqui do chão
não tome as “dores” do terraço.
ou que os cruéis que usam anéis sofram revés,
como os da pólvora e do aço.


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rEFEITO
Ricardo Moreira

Desde de que você partiu,
- repare bem, não é que eu choro!-
ocorre, que coincidiu
de, junto aos olhos,
cair água dos poros...

Já estou sólido, aceitando a solidão,
com densos pensamentos,
evaporo rumo a outra dimensão
(numa outra missão Apolo?!...)

Nem sei o porquê da confissão,
se nada mais é do seu foro.
Desabafar tem sido minha distração
e, conversar, sabe você, que adoro.

Até passei a achar normal,
ninguém me oferecendo colo!...
No mais, só restam alguns degraus,
para que, ao subir, eu alcance solo...


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REGER LEÕES
Ricardo Moreira

Existe um que acha
que os santos agem
através de chantagem
e uma que ao sair da saia
que a protege
e se entrega ao herege.
O outro espera o espírito enviar mensagem
e há os que veneram imagens...
a outra nem religião elege,
diz que o mundo é isso aí
e que ninguém o rege!?

Todos dizem ter razão,
cada um argumenta sobre sua tese.
Cabe até mesmo a um cristão em demasia,
à mesa, o ato de lavar as mãos,
tal como fez Pilatos...
...Desde que logo em seguida reze!!!


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REGISTRO
Ricardo Moreira

Pense no que se perdeu da história,
porque lápis estavam sem ponta,
Ideias que se jogaram fora,
pois o que ninguém leu, ninguém conta...

E o “não-texto”, a caneta sem tinta,
sinta o desespero que dá no escritor
Quem só conta a versão, talvez minta;
e não há documento pra se contrapor

Quanta coisa morreu na gaveta,
exigia-se “apresentação”,
mas a máquina estava sem fita,
e o computador foi pra manutenção.


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REI MORTO, REI POSTO
Ricardo Moreira

Bem das pernas,
ele era o cabeça
de um tentáculo forte
da organização.

Com um escritório ali,
no coração da cidade,
a menina dos olhos,
sonho de qualquer patrão...

Arriscava até o próprio pescoço,
para salvar a pele,
de gente desprovida
de qualquer visão.

Roeu o osso,
e hoje, no fundo do poço,
e nem seu braço direito
lhe mostra gratidão.


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REINTEGRAÇÃO DE POSSE
Ricardo Moreira

A justiça determinou,
e a data da ação já está na agenda.
O chefe da polícia ordenou:
“Se houver resistência, bata até que aprenda”.

Há de se devolver o que se tomou,
e tanta gente nessa e que nunca “se emenda”,
Fim da linha pra quem sempre tentou
viver num conforto incompatível com a renda.

Eis chegada a hora, o jogo virou,
surpreendendo aos que achavam utopia ou lenda.
Dinheiro que se desviou,
reintegrado ao tesouro. Portanto, corrupto, entenda.

A partir de agora, sua roupa de grife
não faz mais xerife evitar a contenda.
É uma na ferradura e outra no cravo...
Não faça mais nada do que se arrependa...

Sinhô e escravo sob a mesma lei...
Mesma cela e merenda.
Milhão e centavo sob a mesma lei...
Mesma cela e merenda.

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REMINISCÊNCIA
Ricardo Moreira

Às vezes me ponho à janela
a olhar um pôr de sol na cor da laranja.
Chego a ter reminiscências
com sons de riacho e até cheiro de granja.

Despreocupado, alheio a esse meio de vida
em que um sofre, o outro esbanja,
em que um trata o outro no arreio,
e este que sobrevive com aquilo que arranja.

Lembro o exato momento em que o mundo
passou a se demonstrar feio.
Graças a Deus, vez ou outra,
a lembrança permite algum devaneio.

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REMOS E MEGAFONES
Ricardo Moreira

Deu a louca no dono da empresa,
fez surpresa ao fim de um serão;
falou que, na manhã seguinte,
cada um teria uma nova função.

Em verdade, ele bagunçou tudo.
Deu vassoura aos com pós-graduação.
Deu o telefone ao mudo;
e, à impaciente, a recepção.

Deu a louca no dono da empresa.
Todos se ajeitavam num fim de expediente.
Mais desespero que certeza.
Entregou alicates nas mãos dos gerentes.

Mandou para a produção
quem flagrou com o bordão “satisfaça o cliente”.
Com bem menos gente só dando opinião,
as coisas andaram pra frente.


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REPUGNÂNCIA
Ricardo Moreira

Herculano, desde a tenra infância,
mantinha um sonho de fazer a escolta
de pessoas que ostentam importância,
ora vejam, como o nosso mundo da voltas.

Em contato com uns tais tendo tanto
(em total discrepância), bateu-lhe a revolta,
tendo irmãos enjaulados, sem nem pra fiança
e, com os ricos, nesse “prende e solta”.

Não esqueçam, ele tinha um revólver,
o que é um agravante à sua repugnância,
e também o acesso a esse mundo complexo
que é o das questões de segurança.

Ao lembrar-se da imagem dos filhos,
pensou “se morresse, qual seria a herança?”,
pôs-se a perceber que ele protegia
o empecilho pra sua bonança.

Viu a vida apagar todo o brilho
do sonho de super-herói de criança,
e, num relance, apertou o gatilho
tão certo de que o que ele fez foi vingança.


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RESILIÊNCIA
Ricardo Moreira

Há quem, com um trisco na unha
ou uma simples alcunha
(uma ou outra ocorrência),
põe-se a queixar-se aos céus,
feito em um banco de réus...
implorando clemência.

Outros tantos, no entanto,
diante de um desencanto,
de uma perda, ou ferida, ou de uma violência,
sorrindo, encaram a vida,
ocultando o pranto,
agindo com resiliência.

E, nessa coisa de alma, de superar os traumas...
Não queira exigir coerência.
Credite às digitais ou às linhas da palma.
A ciência não exerce influência!

... Está aquém

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RETRATOS URBANOS
Ricardo Moreira

Só de pensar,
oh, meu Deus do céu,
que eu bem poderia
ser a moça que exibe maquiagem perfeita
e o rosto sem avaria...
Saindo de uma padaria
levando um iogurte,
apreensiva, se exclui quem não curte
as fotos que ela postou da Bahia.

Só de pensar,
oh, meu Deus do céu,
que eu também poderia
ser o cara em qual quase ela pisa,
com a camisa encardida,
sem rumo na vida e curtindo sua brisa,
mas o destino elegeu-me um cronista
- ele não suaviza –
quem dera o cronista tivesse cacife ou divisa...
a bem da verdade,
o cronista só avisa.


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REVISIONISMO
Ricardo Moreira

Os dados hoje passam longe dos exatos
e há os infográficos, a febre do momento.
Os que defendem o que é real passam por chatos,
por mais que sejam aprofundados os argumentos.

É a ficção que insiste em pôr de canto os fatos
e pouco importam os roteiristas sem talento...
É que o profundo cede a vez ao imediato
e o "achismo" prevalece ao documento.

Acrescentou-se ao pão e ao circo outro estrato:
O oportunismo ao decifrar os Testamentos,
no qual quem julga é quem comete o estelionato
e o que abençoa não pratica os Mandamentos.


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RI MELHOR QUEM RI POR ÓTIMOS
Ricardo Moreira

Enquanto tocava o hino,
eu me revi um menino,
entrando no campo,
um simples mascote.

Depois, eu lembro,
Corri para o meu pai, na geral,
e montei em seu cangote...

Hoje, engraçado,
ele vê seu "filhote"
dar botes, pular nos rebotes...
é lá do camarote...

Refrão: E é pra lá que eu vou,
quando marco um gol...

Driblando zagueiros
"pernas de serrote"
"Marias-chuteiras"
mostrando o decote...

Refrão: E é pra lá que eu vou
quando marco um gol...

O esporte é o pote de ouro
no meu arco-íris...
Eu posto umas coisas legais no Twitter,
só resta a ti me seguires...


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RISCA FACA
Ricardo Moreira

O cabra fez um risco em mim com sua peixeira
lá no forró do seu Serapião.
Madrugada de uma sexta-feira.
Tocava “Feiticeira”, eu me lembro do refrão.

Não sei por que ficar assim nervoso por besteira.
É muita catuaba e espremidinha de limão.
Eu ´tava ali num canto observando, de bobeira,
e a companheira dele esfregou em minha mão.

Sua saia se enroscou
num anel que eu tinha de caveira,
e ela seguiu pelada até o centro do salão.
A moça, na cidade, não tinha fama de freira.
Ninguém, pra bem dizer, se surpreendeu com a visão.

Só que o fulano não estava para brincadeira
e veio espumando ódio em minha direção.
Tentei até me proteger com uma cadeira
já que não adiantaria dar qualquer explicação.

Só sei que o vi pegando uma faca na algibeira,
depois só acordei quando passou a sedação.
Pedi uma caneta e um caderno para a enfermeira
e, enfim, eu pude escrever esta canção.


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RISÍVEL
(Sonekka e Ricardo Moreira)

Ninguém quer saber de me ver,
pois eu não fico invisível,
meus braços não esticam,
eu não solto raios... Coisa e tal.

Vocês estão bem diante,
de um homem irritantemente normal...

Tomei tantos fortificantes,
que, se funcionassem,
seria um gigante, um herói mundial,
eu sei, mas...

Eu nem faço nada que espante,
e o mais emocionante,
é viver só fugindo do cheque especial...

(Logo preciso de um implante,
e nem vou expandir,
sobre o estrago que o tempo
fará em um outro local...)

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ROCK PARA PRINCIPIANTES
Ricardo Moreira

Nos contrataram para uma festa,
dessas de se entregar body and soul,
mas se esqueceram de avisar que o pessoal
só se interessava mesmo em rock and roll...

Chegamos de samba, de merengue e salsa...
Pensando na debutante, ensaiamos até uma valsa.
Sob as calças, as pernas tremiam
de um jeito bem diferente do normal.
(Percebiam, talvez, que o clima estava quente ia “quebrar o pau”)

Porém entramos na farra, distorções na guitarra...
Um troço doido, algo que não se mede.
Pedi para a banda tocar bem baixinho,
só para saber o que a plateia pede...
Então, pergunto e eles respondem no três:
“Toquem uma coisa do Led!!!!!”

Tomamos a rédea com uns riffs lá da “Idade Média”,
reviramos um imenso baú.
E, como era previsível, sempre tem um “comédia”,
embriagado, insistindo pra tocar Raul.


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ROTEIRO PARA ZEFFIRELLI
Ricardo Moreira

Mais que um lance de pele,
era um entrosamento Grappelli e Reinhardt;
algo como Albert Collins e a Tele(caster);
tal John Pizzarelli e o dom de improvisar.

Mais que um lance de pele,
era a Cyd Charisse com Gene Kelly;
era Little Richard em Long Tall Sally;
Miele com Bôscoli fazendo par.

Mais que um lance de pele...
Falcão e Carpegiani em time de Minelli;
união impossível que alguém não chancele;
um amor pra Sandro Botticelli pintar.


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SACO CHEIO
Ricardo Moreira

Tente tirar leite de pedras,
frequentando algum meio
em que o ambiente oferecido
é propício ao “saco cheio”.

Não espere que um centroavante,
criticado e sem salário,
sem se sentir importante,
suba bem para o cabeceio.

Muito menos que um mecânico,
com um chefe salafrário
e, há anos, sem um hidratante,
capriche ao ver um freio...

Tente tirar leite de pedras,
frequentando algum meio
em que o ambiente oferecido
é propício ao “saco cheio”.

Não será nada empolgante
um locutor feito de otário
pelo próprio contratante
em uma festa de rodeio.

E então, se, ao fechar o caixa,
após “pilantra” entrar na faixa
é pedir demais
que o bilheteiro acerte o rateio.

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SALA ESPECIAL
Ricardo Moreira

Eu juro que só zapeava o canal
e me surge uma cena
de amor sem efeitos,
expondo os defeitos que tinha o casal.

De um tempo em que era tão chique
ter um Maverick, um Opala ou um Del Rey...
E, em antagonismo ao herói,
tinha o José Lewgoy junto do Wilson Grey.

Quer ter uma ideia?
Tinha a Sandra Brea ainda novinha,
a Nicolle Puzzi, a Aldine Muller...
Monique Lafond e até o Costinha.

O José Mojica sai de um ataúde
com uma calça com boca de sino
Sutiãs e calcinhas gigantes, cor nude,
algum nu frontal feminino...

Rascante com sua voz de furacão
Pereio ilustra, faz a narração
do primeiro contato do adolescente
com a "musculação".


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SALVA-VIDAS
(Élio Camalle, Léo Nogueira, Marcos Oliva,
Ricardo Moreira, Sonekka, Zé Edu Camargo)

Ah! Eu vou abrir a minha casa...
Eu vou receber o meu igual.
Eu vou abrir as asas,
de cima, o mundo é sem fronteiras...
A vida é muito mais que o chão!
Ah! Eu vou fazer a minha parte
Eu vou gritar sim e querer não
Eu vou fazer minh´arte, viver calado é coleira.
Quero chegar além da canção.

Girar meu planetário eu vou.
Sou só e sou o mundo inteiro.
Vou escrever no dicionário, eu vou...
Antes de violeta, violeiro.

Ah! Eu vou deitar na avenida,
estendido à frente de um canhão.
Salvar as minhas vidas.
Salvar a vida de quem queira,
armado só de um violão.
Ah! Se os aviões, soltassem bombas
só de chocolate e marzipan.
Se tanques alvejassem o sujo tom dessa bandeira.
a paz seria a cor do amanhã.

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SAMBINHA ANTIGO
(Ari Reis e Ricardo Moreira)

Você falou que é do samba,
e não conhece um cavaquinho,
muito menos o Nelson...
Ganha até a vida com isso,
mas se apavora em frente a uma clave de sol.
Agora, sou eu que o convido a ver meu sustenido,
confrontando com um bemol...
Pode achar “divertido”,
dizer que não faz sentido
e preferir algo “atual”...
(Talvez, nem dê bola)

Hoje com "tudo moderno",
até mandou para o inferno
sua antiga vitrola,
mas, com chiado e tudo,
com o intuito do estudo,
ainda prefiro Cartola...
Não quero ser saudosista,
mas só cito em minha lista o que me dá prazer...
E vou seguindo minha pista,
crente que o que é bom resiste
e nunca há de morrer...

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SANSÃO E DALILA
(o motoboy e a cabeleireira)
Ricardo Moreira

Naquele dia, queria Sansão
que o Mundo acabasse em barranco,
sem carga em sua bateria,
o rapaz não pegava, nem mesmo no tranco...
Quem diria, Dalila, a paixão de sua vida,
estaria ali ao seu lado na fila do banco.

De olho em suas belas formas, sobre um plataforma,
ele nota, a menina torce o tornozelo,
Sansão não vacila e combina de levar Dalila
ao salão onde ela cortava cabelos.

Mesmo quietos, durante o trajeto,
ela chega ao CEP correto, sem gastar com o selo.
Grata, a gata dá um beijo na boca do moço,
antes até de dizer ¨prazer em conhecê-lo!¨

Só então, trocaram telefones,
E em lugar de ¨Adeus¨, um ¨Até logo mais¨...
Dali em diante,
foram tantos os meses de amor e de paz.

Sansão não olhava nem para as garotas,
vestindo biquíni, vendendo cerveja em cartaz...
Mas o anúncio de um filho abala o casal,
calmaria sofre um terremoto.
Sem grana, Sansão vende a moto
e Dalila implica até com o santo, ao qual ele é devoto.

De repente, Dalila percebe
que Sansão não pára mais em casa,
E sem ter costume, ela bebe,
sai pra surpreendê-lo... ¨cortar sua asa¨.

Ao pegá-lo na cama, ao lado de uma loura,
se vê num bolero "dor de cotovelo",
põe em ação sua hábil tesoura,
e o que vai ao chão, não é asa, muito menos cabelo...

Ainda bem que a parte amputada,
resfriada no gelo, foi reimplantada,
e Sansão, hoje é um homem quase normal
é o que diz, do Hospital, o doutor que tratou de atendê-lo.



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SANTO ESPETITO
Ricardo Moreira

Eis que a vontade de atirar tudo para o alto
invadiu a sua alma como se desse um grito.
Subverter o tal destino é o que lhe tomou de assalto.
“Esse destino? Onde é que está escrito?”

Teve o insight andando no fervente asfalto,
em pleno Itaim Paulista, avenida Marechal Tito.
Mandou para as cucuias o Know-how,
diploma, status social e as manias de erudito.

Tudo que ele necessita hoje em dia
é de carne, de tempero, de carvão e de palito.
Parou (com dente) em sua frente é cliente,
tanto faz se este é feio ou bonito.

Ele é quem cuida da própria divulgação
feita com a arte do Word, dispensando o fotolito
e, à proporção que vai ao banco rechear o seu extrato,
elimina em casa a chance de atritos.

Com o seu jeito bonachão, sua carequinha,
a barriga saliente e o humor a la Danny DeVito,
só tem a agradecer sua graça às calçadas
e o sucesso de sua marca de churrasco,
que é a "Santo EspeTito".

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SAUDADE DO MIRANTE
(a história de um migrante)
Ricardo Moreira

Encaixou-se no último espaço possível,
da sua terceira condução,
Como a camisa dez
encaixava-se em Pelé!!!
Safou-se, sutilmente,
ao perceber o semblante sarcástico
de um passageiro sentado,
pelo simples fato de ter ficado em pé.
Saturado, sonha em saciar o sono
de só meia madrugada
e algumas cervejas...
Fumando um bule inteiro de café!
Na saudade,
o silêncio do sol sobre os montes,
o sossego e o sorriso dos seus,
olhando as pedras de sua São Tomé!!!
Encaixou-se como nessa canção
... o do, o si, o la, o sol, o fa, o mi e o re!!!

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SE AS ROSAS FALASSEM
Ricardo Moreira

Rosas não falam como bem disse o Cartola,
eu imagino se elas fossem tagarelas,
teriam mais a ensinar do que uma escola...
Qual falatório não seria a primavera.

Retratariam cada caso, ali do vaso;
criticariam o que é ruim, desde o jardim;
comentariam que a colega "estava um arraso";
paquerariam, a distância, algum jasmim, mas...

Elas não falam como bem disse o Cartola,
nem sentem inveja, se outra vira uma aquarela,
a elas tanto faz quanto é o preço do dólar,
nem se o Cartola, em segredo, era Portela...

Sequer se queixam se lhes tratam com descaso,
nem se a água do planeta está no fim,
se o boleto, findo o mês, está em atraso,
nem se o tempero escolheu o alecrim.

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SE MINHA BUSCA FALASSE
Ricardo Moreira

Será que encontro a paz,
sendo vendida em lata?!
Será que a paz está atrás
do tronco da palmeira?!

Sem limite imposto por placas,
sem lembretes, presos à pulseira?!
Será que, pra chegar à paz, há uma catraca?!
Será que paz, tem só no coração das freiras?!

Será que a alcança só quem traz nos dentes uma faca?!
Será que a paz está entre o ócio e a brincadeira?!
Está mais perto do que embriaga ou do que hidrata?!
Está no próprio umbigo ou no amor da companheira?!

Será que paz é se embrenhar dentro da mata?!...
e se esquecer que um dia usou carteira...
Que já marcou na agenda: horas, locais, datas...
Paz é esquecer o quanto a vida é passageira!

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SECOND LIFE
Ricardo Moreira

Quem o vê de uma certa distância
pode até pensar que o glamour prevalece...
Que, quando entra, dá vez ao que sai;
e que, mesmo subindo, dá vez ao que desce.

Quem o vê de uma certa distância
crê, se alguém precisa, ele logo oferece...
Que, como filho, é obediente a seus pais
e faz jus ao sucesso, “que é de quem merece”.

Quem o vê de uma certa distância
acha que é um vitorioso - e é só fruto da prece –
no Instagram, é “champagne” e “black-tie”,
mas, na vida real, carne louca e quermesse.



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SÉCULO XXII
Ricardo Moreira

Era um navio,
singrando o mar.
Era bonito olhar,
mas no navio
tinha um barril
que se fez derramar...

Era um rio,
era um pomar...
Era bonito olhar.
Pomar sumiu,
sujou-se o rio
nem dá pra acreditar.

Muita gente só assistiu
a vida se acabar...
Teve quem até sorriu
de gente que tentou salvar

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SEGUNDA VIA
(Fernando Cavallieri e Ricardo Moreira)

Faça a sua boa ação do dia.
Por favor, me ajude!
Quero tirar a 2ª. Via,
perdi minha juventude...

Aviso, que o meu juízo anda perfeito,
não sou do tipo que se ilude,
que tudo deva ser sempre do mesmo jeito,
aceito sim, que o mundo mude...

Jogo até bola de gude virtual,
e, se preciso, me vicio em fast food.
Juro por Deus! Vou ser bem mais legal,
não ganhei nada sendo rude.

Faça a sua boa ação do dia.
Por favor, me ajude!...
Rezo-te um terço, à Virgem Mãe Maria...
E, se espirrar: - Saúde!

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SEMPRE RESTA UM CONSOLO
Ricardo Moreira

A vizinha gemia bem alto fazendo amor,
e, pelas narrações, dava pra construir a imagem.
Mudava o roteiro, o cenário e também o ator,
sempre que o marido, a trabalho, partia em viagem.

Todos disfarçavam ao vê-la no elevador,
mas o impossível era não pensar em sacanagem.
Senhoras puxavam assunto falando em pudor,
os homens buscavam um jeitinho de contar vantagem.

Antes do previsto, um dia, adentra a garagem
um carro que tinha, ao soltar a embreagem,
um barulho bem peculiar no motor.
Sai dele um homem com um misto de raiva e coragem,
fazendo uns grunhidos tal qual um selvagem,
levando a prever-se um desfecho de horror.

Vizinhos xeretas ficaram em estado de alerta,
mas só se encontrou, após a porta aberta,
uma mulher carente com seu vibrador.

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SENSO COMUM
Ricardo Moreira

Refrão: O poder atrai canalhas
e está nas mãos dos sem-vergonhas

Isso é o que eu ouço, desde o tempo
em que eu acreditava em historinhas de cegonhas...

Refrão: O poder atrai canalhas
e está nas mãos dos sem-vergonhas

Isso é do tempo em que o programa de domingo
era ver avião pousando no Aeroporto de Congonhas

Refrão: O poder atrai canalhas
e está nas mãos dos sem-vergonhas

Isso vem de antes de inventarem as “variants”,
que hoje usam pra vender pamonhas...

Refrão: O poder atrai canalhas
e está nas mãos dos sem-vergonhas

Isso é do tempo em que o travesseiro de palha
era só o que recheava as fronhas.

Refrão: O poder atrai canalhas
e está nas mãos dos sem-vergonhas

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SENTINDO NA PELE
(Sonekka e Ricardo Moreira)

Algo acontecia,
toda vez que eu ouvia
canções que falavam de amor,
eu não compreendia,
achava hipocrisia
ou que havia, por trás,
algum impostor.

Disseram que um dia
algo em mim mudaria
esperava e do céu nada caía.
Então, completava a poesia
com rimas que achava
ter o mesmo valor.

Olha! Vejam que coincidência,
aprendi sobre o amor,
junto da sua ausência
e o "vazio" foi o meu professor.

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SEQUELAS
Ricardo Moreira

Vivia em paz num barraquinho em meio à favela,
curtia meu mengão, curtia minha Portela...
Recordo, a minha única preocupação
era saber em quanto tempo uma cerveja gela.

Um dia, eu aguardava minha condução,
passou uma multidão, eu me juntei a ela,
Não sei, todos gritavam por educação,
e o que eu sabia era o bastante para entender novela.

Vivia em paz num barraquinho em meio à favela,
Curtia meu mengão, curtia minha Portela...
acompanhava as “verdades”, na televisão...
de um vozeirão em um microfone preso à lapela.

Um dia, eu aguardava a minha condução,
passou uma multidão, eu me juntei a ela,
pensei ser uma espécie de um novo cordão,
tudo isso antes da explosão que me deixou sequelas.

Vivia em paz num barraquinho em meio à favela,
Curtia meu mengão, curtia minha Portela...
Eu, que era acostumado a pão amanhecido,
graças ao fato de achar que o novo esfarela.

Um dia, eu aguardava a minha condução,
passou uma multidão, eu me juntei a ela,
Em oração, fui sempre muito agradecido
aos senhores que viveram me botando a sela.

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SESSÕES DE DESCARREGO
Ricardo Moreira

É fim de tarde e eu na beira do
pescando paz com iscas de sossego,
conectado a uma mansidão sem fio
e é sempre assim quando aqui eu chego

Não há modo melhor de prolongar o pavio
da bomba que é esse stress que adquiri no emprego,
no trânsito infernal e nessa vida a 1.000 Km/h...
Aqui é que eu venho em busca de aconchego

É fim de tarde e eu na beira do rio,
pescando paz com iscas de sossego,
conectado a uma mansidão sem fio
E é sempre assim quando aqui eu chego...

Sempre achei explicações para o que me confundiu.
É mais eficaz do que sessões de descarrego!
Se a vida me derruba, eu me aprumo no rio...
Viver de ponta-cabeça é coisa de morcego.


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SÉTIMA VIDA DE UM GATO
Ricardo Moreira

Anunciam os clarins,
é o início do último ato!
Mais um caso de amor chega ao fim,
sétima vida de um gato.
Vive as voltas com as taças de gim,
fecha os olhos para não ver o fato,
perde a calma acende o estopim,
vai embora ao primeiro boato.

Último ato...
Mostra agora a sua face ruim
anos lambendo os seus sapatos
para terminar na estória assim:
jogado no meio do mato,
camisa surrada e calça jeans,

nesse jogo sou malandro nato,
voltarei para o lugar de onde vim!
Dizer adeus foi chato,
juro não estava a fim.
Desrespeitou o contrato,
atirou e não foi com festim.
Mas creio o momento é exato,
e ainda digo que sou grato.
e que outras, no entanto,
gostem de mim

Guardo mágoas sim,
mas desculpo sua falta de tato
desconfiar do que eu digo é enfim
cuspir no próprio prato!




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SHOPPING TREM
Ricardo Moreira

Refrão:
Vai? Mais alguém? Alguém mais?
Na minha mão, isso é só um real
Já, na cabeça, isso é surreal.

Pulando de vagão
a cada estação
brincando de gato e rato
co´os hómi da segurança.

Dividindo opinião:
“É só um gaiato...”
“Não! É um pai que batalha
pelo leite das ´criança´”.

Refrão: Vai? Mais alguém? Alguém mais?...

Já batalhei,
tentei o mercado formal,
mas puxam minha “capivara”.
E aí, adeus às esperanças.

Além dessa mercadoria
que eu carrego,
eu levo um 155
e sem dinheiro pra fiança.

Refrão: Vai? Mais alguém? Alguém mais?...

Juro que tentei
voltar a ter vida normal,
mas prevalece sempre
a sede de vingança.

Errei, confesso,
era um pós-adolescente
e de repente enterrei
o bem que recebi de herança.

Refrão:
Vai? Mais alguém? Alguém mais?...

Só hoje eu sei
que sóbrio ou sob o uso de droga
a vida é uma e é o que se joga...
É... hoje, eu boto balança.

Eu puxei cana,
tentando bancar o bacana
tatuei o corpo e a alma
e é muito tarde pra mudanças.

Refrão:
Vai? Mais alguém? Alguém mais?...

Por onde ando,
Não importa qual o lado
Todo olhar é carregado
De certa desconfiança.

Todo peixe,
uma vez que é fisgado,
tem marcado, para a vida, o machucado
feito de anzol ou lança.

Refrão: Vai? Mais alguém? Alguém mais?...

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SIGA O SEU CORAÇÃO
(Fernando Cavallieri, Sonekka e Ricardo Moreira)

Não me siga, siga o seu coração.
Eu não sou estrela guia
ou Farol de Alexandria.
Eu não sou procissão.

Não me siga, siga o seu coração.
Não sou seita nem sou seta,
não sou plano nem dieta,
Não sou religião.
Não sou rastro gravado na areia,
Sedução do canto da Sereia,
Não sou risco da estrela cadente... Mas venha...

Não me siga, siga o seu coração.
Não sou trama de novela, Caminho de Compostela,
Bíblia ou Alcorão.
Não me siga, siga o seu coração.
Não sou regra, calendário, fila ou noticiário.
Siga o seu coração.

Não sou rastro gravado na areia,
Sedução do canto da Sereia,
Não sou risco da estrela cadente...
Mas venha... Venha!
Siga, que o seu coração sabe a senha...




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SIGNIFICARDS
Ricardo Moreira

Chão para o mendigo é colchão;
para o judoca é a derrota...
é nuvem para quem vivencia a paixão;
para o reprovado, é sua nota...

Chão para o joelho é abrasão;
é o destino pior para a compota;
é a tela que se usou durante a criação;
prato para o alimento que brota...

É o porto seguro a quem tem teme o avião;
já, para quem leva um tombo enquanto pilota,
pode ser o passaporte para o caixão...
O chão pode ser teto para quem capota.

Quem tem só o chão seco e cruel do sertão
jamais vai diferir o albatroz da gaivota.

Chão é o prestígio que resta à nossa seleção
depois que o Rivaldo aposentou a canhota


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SILVA E SOUSA
Ricardo Moreira

Ele não era um Montecchio,
nem ela era uma Capuletto,
o cenário não eram castelos,
pois ambos vieram do gueto...

E aí, você diz: - Como ousas?
- A tragédia é igual, é o que eu prometo.
Falo de um Silva e uma Sousa,
fugidos precoces das lousas,
se viram entregando panfletos.

O Amor deu-se à primeira vista,
Até aí nada de original,
Um ¨roteiro em branco e preto¨,
obsoleto, num tempo todo digital.

O problema nem eram as famílias,
nem tinham quem ver no Natal...

Eram, agora, somente um do outro,
mudaram para o mesmo quintal.

Mas num dia comum de trabalho,
fechou o maldito sinal
E o nosso Romeu flagrou sua Julieta,
mexendo o esqueleto para um outro mortal.

Arrancou o intruso do carro,
armou o maior quebra-pau...
Levou cinco tiros no peito
e o casal perfeito chegou ao seu final.

A moça deu um beijo de adeus num amuleto,
espécie de pacto mortal...
pulou na frente de uma moto
e partiu com o amado...
...nem deu no jornal




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SÍNDROME
(Alexandre Lemos e Ricardo Moreira)

Será devido a enxergar em tudo
a existência de um cartel,
que amarro com firmeza,
no final do carretel, a linha?!
Que faço assinar, reconhecendo firma,
todas as vias do papel?!
Que arranco do quintal
toda erva daninha?!

Que não coloco meu sapato na janela
pra esperar Papai Noel...
Que só me alegro
quando chego à quinta caipirinha?!
Que sempre cruzo o cheque
ao pagar o aluguel?!
Que só me entrego às ondas,
só com o visto da marinha?!

Que atravesso a rua
a qualquer alarido ou escarcéu?!
Que sou avesso às facas,
mesmo dentro da bainha.
Que troco o carro importado, chamariz,
por um Corcel 73,
igual ao que Raul Seixas tinha!

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SÍNDROME DE ESTOCOLMO
Ricardo Moreira

Não compreendo
como existe gente com a capacidade
de exaltar quem somente lhe faz crueldade.
Vejo que se prolifera quem tem tal perfil.
Creio que fidelidade assim nem num canil.

Eu queria saber de onde surge a submissão
a esses com sobras mediante extorsão
e o fetiche de sobreviver com migalhas.

Quer me ver ficar muito colérico?
Exponha-me a alguém nulo e periférico
a bajular quem há de enxergá-lo
uma eterna “gentalha”.

Questão de postura,
eu não financiarei sua fartura
calado e aplaudindo descaso e tortura.
Ora, vá para o diabo ou coisa que o valha!


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SINGELA HOMENAGEM
Ricardo Moreira

Rio Tietê,
Confirmo, quando o vejo
em límpidas águas no oeste paulista,
a tal da impermanência
em que crê o budista...
E foi pensando assim
que eu voltei para o ABC.

Rio Tietê,
Venho agradecer-lhe
por me devolver a infância,
por tudo aquilo que hoje
passo a dar importância,
mirando nesse seu exemplo,
eu quero renascer (também).

Rio Tietê,
Quero lhe dizer,
meu novo amigo e confidente,
volto tão vitorioso
e a chorar de contente
com tantos talentos
reunidos que eu fiz conhecer.

Rio Tietê,
Por fim, me desculpo
em nome da espécie humana,
pela maneira de viver
totalmente insana
e toda a crueldade
que fazemos com você.

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SINGELEZA
Ricardo Moreira

Não está no anel de diamantes,
na chave do apartamento,
nem nas imagens do Instagram,
nem no sobrenome em documento...

Num requintado restaurante,
nem no mais caro instrumento,
num tal paraíso distante...
Algo que arrase o orçamento.

O episódio mais marcante,
o campeão entre os momentos,
o auge da emoção gritante
- o que não sai do pensamento -

Ocorre num singelo instante
que nem contou com agendamento:
um beijo na roda-gigante...
Sorriso atrás de um cata-vento.



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SINTAM-SE EM CASA
Ricardo Moreira

Quero lhes dizer
"Sejam bem-vindos",
que tenham momentos lindos,
não lhes falte o bom humor.

Que se multipliquem os sorrisos,
prevaleça o "Com licença",
o "Obrigado" e o "Por favor".

Que se extraiam histórias para a vida,
e o prazer se imponha à lida...
Todos sintam ter valor.

E, ao ser desafiado o juízo,
esteja o que for preciso
ali todinho a seu dispor

Que nosso convívio valha a pena,
a amizade roube a cena,
predomine a união.

Surjam soluções mais que problemas,
e as maneiras mais serenas
sejam sempre a opção.

Que, mais que engrenagens de um sistema,
a gente tenha em mente o lema
o "Venha aqui! Me dê sua mão!"

E, ao chegarmos lá na última cena,
esse cinema da vida real
estoure em emoção.


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SÓ UM CARIMBO NO DESPACHO
Ricardo Moreira

Ter sonho até que a gente tem, só que eu acho
que é um sonho que só se mantém por aparelhos...
A gente passa a vida inteira qual um capacho,
sonhando ser, um dia, um tapete vermelho.

A gente quer chegar ao topo e olha pra baixo.
Quer se fazer ouvir, mas vive de joelhos.
... Sem reação diante de todo escracho,
não sabe uma resposta e vive a dar conselhos.

Fosse possível ver camadas no espelho,
Só se acharia uma outra "vida severina"...
E o que, hoje, é um cabelo grisalho e um rosto velho,
já foi menino a pedir doces na cantina.

E amanhã, só um carimbo num despacho;
só um pedestre a menos a cruzar a esquina;
Dust in the Wind... Só uma gota no riacho...
Um entre tantos a cumprir a sua sina.


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SÓ UM PEQUENO TOQUE
Ricardo Moreira

Vendo uma criança tocar numa flauta
a “Aquarela” de Toquinho,
até me esqueci do que li de um internauta -
que “a nossa infância já se perdeu no caminho”

Ali eu me senti numa nuvem bem alta
com o assovio doce igual ao de um passarinho...
Foi fácil perceber que esperança não falta,
é só tratar a nossa meninada com carinho,

e perceber que criança é peralta,
e corre de um lado para o outro, e dá risada alta,
e se esborracha quando salta,
e levanta, e esquece a dor após uns segundinhos.

... Criança é peralta,
e corre de um lado para o outro, dá risada alta,
e se esborracha quando salta,
e nos faz querer voltar no tempo alguns aninhos.

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SOBRAS DO SAGU DA SOGRA
Ricardo Moreira

Quando foi servir a sobremesa,
a sogra deu um pote de sagu pra nora,
mas vejam que estranho,
que espanto, que surpresa,
esta jogou a guloseima toda fora...

Mesmo destino teve a diplomacia,
sem sequer se despedir a razão foi embora,
saíram as duas juntas grudadinhas pra delegacia...
e separá-las durou bem mais que uma hora.

Porém a intriga resumiu-se a esse dia,
Hoje, a paz reina, e a harmonia comemora...
o “mal-entendido” deu-se pois gastronomia
é só um dos assuntos que a moça ignora...

Também não sabe calcular e é ruim de geografia,
(se) bobear, não sabe nem o endereço de onde mora,
e, simplesmente, ao receber, achou que a dita iguaria
era uma gelatina “assim, com catapora”...

Alguém um pouco mais atento haverá de perguntar
a opinião que até então ficou de fora...
Qual dos dois lados mais cedeu,
o do “marido” ou do “filho”,
Personagem que aparece só agora...

Mas isso, nem sob a mira de um gatilho.
Forçado a optar, ele resmunga e chora,
pois, se preza em uma, a cinta-liga e o espartilho;
não abre mão dos mimos da velha senhora...



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obre Pescas e Peixes


Você não vê aí da torre,
cá embaixo, a vida não é doce,
meu caro, antes fosse...
Muita gente se desdobra
para fugir da sua sombra e sua sobra...
Há quem só esteja aqui,
porque aqui foi que a cegonha o trouxe.

Desculpe, se estrago a paisagem,
vista aí da cobertura,
meu “lar” não tem cimento ou arquitetura,
fui eu mesmo o “engenheiro”
(nunca tive o seu dinheiro)

E, pense bem, junto ao seu estacionamento,
evito o deslocamento.
Basta subir o elevador de serviço
para “higienizar” o seu banheiro.

Não me olhe com esse medo, fique frio,
porque eu presto, sou limpinho e honesto...
Não tomo nada do que não é meu,
eu não assalto, não sequestro...
Não pago na mesma moeda
nem com quem insiste em me deixar apenas com o resto

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SOLDADOS DE MEFISTO
Ricardo Moreira

Deus me proteja de "estourar" com esta canção.
Que permaneçam sem saber que eu existo,
já que hoje em dia o ódio é quase obrigação
e qualquer um que brilhe é pego para Cristo...

Quero manter-me livre do raio de ação
da legião desses soldados de mefisto,
e o anonimato me sirva de proteção
e, em minha bolha, então, eu me sinta benquisto.

Não compartilhe isso, nem preste atenção!
Que seja só mais um fracasso que eu conquisto!!!!
Querer ser aclamado pela multidão
não vale a pena pelo que eu tenho visto.

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SOLENE
(Tato Fischer e Ricardo Moreira)

O que importa se bem poucos partiram em viagem?
Se, entre esses poucos que partiram, há um dos meus?...
O que importa a estatítica para quem está triste
quando das palavras que existem
a que mais se encaixa é "adeus"
Antes faltasse, na minha sanfona, o fole
antes altasse uma tecla no piano
é incrível, mas por mais que se rebole
menos dá pra entender o que é ser humano

São tantos os meses
para anunciar a vinda
...Às partidas repentinas,
não me adaptei ainda

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SOLIDÁRIA
Ricardo Moreira

Já de menina, atraía para si os olhares!
No auge, em mais de um calendário lendário,
enfeitava oficinas e bares!...

Com os seus trajes sumários, seus modos vulgares,
ressaltava em esposas, as culpas, as crises, as cáries...
Servia não só aos civis, mas também militares!
De sólidas uniões, fazia tremer os pilares!

Esbanjava, fazia cruzeiros por todos os mares;
acompanhava “expoentes” em muitos jantares.
Para tê-la nos braços, era só agendar os horários, os lugares!
Seu preço: “o suficiente para alguns colares!”.

Ancorou-se à beleza, fugiu dos bancos escolares!
De olho num inventário, escolheu o pior dos altares...
do glamour, só restaram os domingos com os familiares,
o marido imperecível, ah... e amantes aos milhares...
... Crianças de toda etnia e dores lombares.


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SUINDARA (O canto da coruja)
Ricardo Moreira

Eu bati no portão,
toquei a campainha,
Invadi o quintal,
com o aval da vizinha,
não estava mais lá,
a mulher que foi minha...

Deu “linha na pipa”, “vazou”...
Seguiu a sua vida, a bandida,
deixando um rastro de bebida,
uma conta vencida em meu nome
e, na gaiola suja, um pássaro com fome.

Nem os lençóis da cama,
a dita cuja arrumou.
Bem que uma coruja agourenta avisou
que era questão de tempo o fim do nosso amor.


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SUJO DE GRAÇA
(Sonekka e Ricardo Moreira)

O palhaço não borrou a maquiagem,
mas manchou sua imagem,
contando piada suja...

Já vi, tem gente iniciando a contagem
pra fazer mal ao palhaço,
por favor, palhaço, fuja!

Já vi tem gente,
praticando a pontaria,
atirando porcarias
lá no ninho da coruja.

Palhaço, é urgente, tome sua montaria.
Cuide-se de ir ao sol,
tire o cavalo lá da chuva.
Se o cavalo anda na chuva,
sua ferradura encharca
e, encharcada, a ferradura enferruja.

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TABULEIRO DE XADREZ
Ricardo Moreira

Estava analisando umas notícias dia desses,
para ser bem mais exato
tudo o que eu li neste mês.
Cheguei à conclusão de que o melhor resumo
desse nosso mundo é um tabuleiro de xadrez...

Peões, por mais que sejam maioria,
só protegem a fidalguia...
Olhem só, vejam vocês...
Sei que alguns chamam de utopia,
mas, por mim, ocorreria
o que até hoje ninguém fez...

E os que se limitam a ser escudo
passem a ter visão de tudo,
por que não sonhar talvez
que estes, encharcados de revolta,
com uma simples meia-volta,
acabem com bispos e reis?

Que o povo tome as rédeas dos cavalos,
tenha a torre que melhor lhe aprouver o camponês,
e que as rainhas não tratem ninguém como vassalo,
e todos sejam iguais, enfim, perante as leis.


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TERRENO FÉRTIL
Ricardo Moreira

Ando de longe observando o seu sucesso.
Fico feliz ao ver sua prosperidade...
Bate uma invejinha, claro, eu confesso,
tenho passado uns tempos de dificuldade.

Enriqueceu tão rápido, e eu não achei nexo.
Conte pra mim, bateu uma curiosidade.
É um ramo novo? Ensine o truque, e eu me apresso...
Se for preciso, faço até uma faculdade.

Meu caro, é óbvio o caminho do progresso,
desnecessário cavar em profundidade,
ir pra garimpos ou comercializar sexo...
Vejo é na ignorância as oportunidades.

O ignorante entrega tudo o que eu peço,
qualquer que seja o ramo de atividade,
há o risco zero de entrar com algum processo,
e tem no interior e nas grandes cidades.

Há o “kit” estética e o “pacote” mão de obra,
só isso aí já dá e sobra e, aí, depende da ambição...
Há o “combo” empréstimo e o “crowdfunding” de protesto...
Eu sou modesto, atuo só no ramo "falsa religião".


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TIRO PELA CULATRA
Ricardo Moreira

Tinha um talento incomum com instrumentos,
porém, seu pai só insistia em lhe dar bolas
A ideia fixa em ser craque era um tormento,
por isso, ele jamais se dedicou à escola.

Mas, com a bola, ele era só mais um
e, em nenhum momento,
atrairia a atenção de algum cartola...

Hoje, sem pai para garantir o seu sustento,
e com o talento desprezado na viola,
praticamente tem vivido ao relento
e com as migalhas que alguém lhe dá de esmola

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TODO DIA É O GRANDE DIA
(Iso Fischer e Ricardo Moreira)

O camarada, cansado esperar “o grande dia”...
O camarada se encheu de ousadia.
Ele disse "Hei de fazê-lo!", e assim o fez!

Logo em seguida, como viu que não doía,
resolveu que então faria trinta dias, todo mês
e reparou que agora o espelho lhe sorria
e a frente fria que o seguia procurou outro ¨freguês¨

Passou a limpo o plano feito em guardanapo,
que no momento era só o que tinha à mão...
Falou: “É hoje, enfim, que eu deixo de ser sapo!"
Logo após ganhar um beijo encantado da canção

Parou de só chorar, como faz o coitadinho,
pôs talento e simpatia onde prega-se escassez.
Parou de pôr a culpa dos seus erros no vizinho,
fez tudo bem direitinho, e ao fracasso não deu vez.

Passou a limpo o plano feito em guardanapo
Que no momento era só o que tinha à mão
Falou: “É hoje, enfim, que eu deixo de ser sapo!”
Logo após ganhar um beijo encantado da canção

¨Vi que tem gente que se importa com meu papo,
e eu que achava que dizia versos para a escuridão...¨



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TOLDO DE ARMAZÉM
(Kléber Albuquerque e Ricardo Moreira

Todos deveriam ter um teto.
Infelizmente, Valentina nasceu sem.
Surgiu sem qualquer orçamento ou projeto,
numa calçada sob o toldo de armazém.

Nasceu no dia em que sua mãe ganhou um neto.
Sua irmã de doze anos deu à luz também
e, desse jeito, o mesmo espaço de concreto
receberia mais de um lindo neném.

Em vez de três reais magos, um ou outro inseto
e sem dar ouro, incenso, mirra ou parabéns...
Que Deus permita terem acesso ao alfabeto,
a sociedade odeia pedintes nos trens.


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TOTEM
Ricardo Moreira

Quem me flagra em meus rabiscos
fantasia até a fonte na qual me embriago...
A palavra é minha musa!
E só ela é quem eu afago

A palavra é para o escritor
o que a poção é para o mago
Para o paraquedista são os riscos;
Ou a névoa é, de manhã, ao lago...

A liberdade, para uma palavra, é enfeitar livros e discos!
Restringi-la ao dicionário é imensurável estrago!
A palavra há de brilhar sobre obeliscos...
É o totem exclusivo, o qual eu consagro.


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TOUCH SCREEN
Ricardo Moreira

É lógico que Ana deixaria as digitais...
Se bem que nada que envolva Ana é lógico.
Ela vem de antes dessa febre de portais,
sempre brincou no barro e ia ao zoológico.

Hoje ela espalha que se expor a um vírus "é demais"
"É bom! Reforça o sistema imunológico".
Quero deixar claro, tranquilizo os radicais:
Não se resume o assunto ao item cronológico.

É que ela nunca leu quadrinhos, livros ou jornais
(Dessas que riem do que é escatológico)
Deixou-se seduzir por essa oferta de canais
que juram ser verdade o que é ideológico...
Se sente preparada e, em touch screen, se acha formada
e explica tudo com semblante pedagógico.


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TOUR
Ricardo Moreira

Silhuetas mostram-se mais fortes.
É ali que nasce o Sol, meu bem, às quase seis...
Se enganou quem apostou que fosse o Norte.
Desejo mais sorte, da próxima vez.

E a gente sobre a estrada,
e essa tralha toda,
sob um cenário lindo.
Sobram estrelas na madrugada,
falta luz nas casas dormindo.

No sul, bem distante,
lanternas iluminam meu futuro,
contrastando com um céu de um azul
ainda bastante escuro

A aurora veste-se em vértices,
e o horizonte, eu juro,
quando chega ao oeste,
completa-se numa espécie de muro.

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TRAUMA DE INFÂNCIA
Ricardo Moreira

Nada na vida o anima,
ele é um poço de trauma e de drama...
Não importa qual seja o clima,
meio-dia, e´inda está de pijama...

Não há o que levante sua autoestima.
Parece ter um ímã na cama
Jamais deu a volta por cima...
Desde que seu pai não lhe deu um autorama!

Refrão:
Nunca teve um autorama,
e hoje quem abre suas gavetas
Só encontra alguns quilogramas
de comprimidos “tarja preta”.


Nada na vida o anima,
Seu pé não desgruda da lama...
Com a força da pilha alcalina, repete:
“Ninguém me quer! Ninguém me ama!”

Só enxerga ao seu lado a ruína,
se entrega nos braços das brahmas.
Nem toma mais banho, imagina...
Sua pele já criou escamas.

Refrão:
Nunca teve um autorama,
E hoje quem abre suas gavetas
Só encontra alguns quilogramas
de comprimidos “tarja preta”.



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TRAVO
Ricardo Moreira

De uma briga após outra,
pode ser que eu sobre
com a desilusão, a solidão e a tristeza,
mas quando o lençol é curto,
e os dois egos gigantes,
não tem jeito, um lado se descobre.
Foi previsível sim, o fim,
não adianta essa cara de surpresa.

O choro sobrepõe-se à razão,
e vai borrando o papel à medida que escrevo;
mas dessa vez não pedirei perdão,
isso não faço, não devo...
Submergir de novo à escuridão,
às trevas, ao turvo, ao estorvo...
Bateu na trave não adiantou toda superstição:
as minhas figas, meus pés de coelho... meus trevos.

Poderia tentar o trivial, não me contive, evitei;
me atrevi a inventar, para ver no que dava.
E, novamente (e não por falta de aviso) sozinho,
hoje sigo vendo o vento levar
nosso amor, talvez, para o mar...


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TRILHA DE NOITE QUE ACABA EM PIZZA
NA CASA DA MÃE JOANA

(Márcio Policastro e Ricardo Moreira)

Exatas ou humanas;
Lolitas, Balzaquianas;
Casarões, flats, cabanas...
Pechincha, olhos da cara,
negócios da China, preços de banana.

Prosperidade na fé, Teologia Franciscana...
A defesa da Ciência e a crença de que a Terra é plana.
Dias úteis, emendas de feriado,
folgas de fim de semana...

É ressurreição, é umbral,
é paraíso, inferno de Dante, é Nirvana...
É careta, é “vida loka”, é “treze”, é “noia”,
é abstêmio, é pé de cana...

Tudo pode ser assunto
quando não se faz canções pensando em grana,
mas em trilha de noite que acaba em pizza
na casa da mãe Joana.


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TRILHA SONORA
(Henry Lentino, Marfiza de França e Ricardo Moreira)

Chora na hora da valsa, a avó da debutante.
Chora a noiva, no instante de entrar na igreja.
Chora, no momento do adeus, o retirante.
Chora o solitário, ao som da canção sertaneja.

Chora o campeão, chora o derrotado,
Existe alguém chorando o leite derramado...
Chora a menina, ao brigar com o namorado
Choro eu, aqui, sem você do meu lado...

Quem um dia já chorou
alguma despedida,
mal sabe que compôs um trecho
da linda trilha sonora de sua vida

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TRINCHEIRA
Ricardo Moreira

A gente nunca pode desistir da arte,
apesar desses que buscam implementar o medo.
A história é recheada desses bonapartes
que não valem mera estrofe de um samba-enredo.

E é melhor que o passo a passo para o seu descarte
ganhe versos e holofotes, não fique em segredo,
para quando algum cientista ousar unir as partes,
chegue fácil às conclusões e vá para o bar mais cedo.

A gente nunca pode desistir da arte...
Embalada pra viagem, self service e à la carte...
Contra o dedo em riste, a arte resiste,
feito um porta-voz de um povo desolado e triste.


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TROCA DE ALIANÇAS
Ricardo Moreira

Com amor,
surge vida onde vida é escassa...
Ar pra respirar na fumaça
Perto é longe, o ideal é estar ao lado.

Com amor,
não existe piada sem graça,
notam-se os passarinhos na praça.
Vê-se o azul até mesmo num céu nublado
Com amor, com amor...

Com amor,
tentativa de guerra fracassa,
os dois times levantam a taça,
o aprendiz sente-se professor.

Com amor, os covardes
se enchem de audácia,
caçadores dão trégua para a caça.
É capaz de milagres o amor.

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TROCA DE FRAUDES
(Atenção todos os carros)
Ricardo Moreira

Atenção todos os carros,
Há tensão em todos os cargos!


Acionando as viaturas,
o infrator há de estar nas redondezas,
Quero uma equipe agora em sua captura,
e outra vasculhando suas empresas.

Terno e gravata, 1m 80 de altura,
e a mala preta carregada com surpresas.
Quase não usa a arma em sua cintura,
provoca muito mais estrago, é com a esperteza...

Muito cuidado na abordagem do sujeito!
Ainda é só um suspeito!
E é esse o jeito que ele tira suas contas do atraso...

Se candidata e ainda acaba sendo reeleito,
com os holofotes e toda mídia
que conquista com o caso.

Difícil é enquadrar alguém lá em Brasília,
mesmo quadrilhas que usam a grana do povo, em bacanais.
No fim, convencem que é tudo festa em família,
com as prostitutas, seus filhos e ninguém mais

¨OK Base!
Veja o que encontramos na secretária do elemento:¨
"Vossa excelência será muito bem-vinda em nosso partido,
pois tem muita chance na próxima eleição.
Metade do povo gosta bastante de quem furta
e a outra metade tem memória curta... Ah!Ah!Ah!¨



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'TRUMP'NIQUIM
Ricardo Moreira

Queime os livros,
eles mentem, vai por mim...
Queime os livros,
como foi feito em Berlim.

Ademais, a leitura é muito longa e cansa.
De que importa a queda da Bastilha lá na França,
ou o que o cartum de Henfil
dizia no Pasquim?

Queime os livros,
eles mentem, vai por mim...
Queime os livros,
como foi feito em Berlim.

Pensem no estrago
que eles fazem a uma criança,
Faça um esforço, busque na própria lembrança...
Só veem o mal em Mussolini e em Idi Amin...
Nos fazem até pensar que Hitler foi ruim.

Queime os livros,
eles mentem, vai por mim...
Queime os livros,
como foi feito em Berlim.


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UM
Ricardo Moreira

Já estive no calor de dentro da barriga,
certa feita, em fria, envolvi-me em briga!!!
Cético/descrente, duvidei de tudo...
Na hora mais crítica, acatei as figas!!!

Revidei ataques, sobre um muro branco;
revirei carpetes, por um mero brinco;
resisti aos tanques, na mira dos broncos;
revesti os cantos do barraco, zinco!!!

Estanquei os cortes, extorqui as cortes;
Estiquei o curto, escrevi as cartas!
“entreguei” a fonte, engasguei-me com os frutos
Engajei-me aos fortes, esbanjei às fartas.

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UM TIMINHO MAIS OU MENOS
Ricardo Moreira

Aí eu resolvi compor uma canção
e o fiz pensando já na apresentação.
Lá nas guitarras, eu visualizei o Page, o Tony Iommi
e o Ritchie Blackmore servindo de opção.

Olhei para o lado escuro, onde fica o baixo,
pra saber o tipo de groove que eu encaixo.
Vi Roger Glover, Geezer Butler, John Paul Jones
e não é que, sob um holofote, o Geddy Lee estava embaixo.

John Bonham desfalcou-me o time das baquetas,
mas vi Neil Peart se aquecendo com Red Barchetta.
Achei que só havia ele e o Bill Ward,
e o Ian Paice me sorri se contorcendo na banqueta.

Com um time desses, impossível dar errado.
Dei-me ao luxo de abrir mão de um teclado
Nada contra esse instrumento, só escolha do momento.
Olha... um John Lord até seria escalado.

Temendo que a minha garganta se arrebente,
um tom mais grave é algo sempre mais prudente.
Eis que mãos tocam meus ombros:
“Ora, deixe isso com a gente!”
Era o Gillan, o Ozzy, o Coverdale e o Plant.


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VALE DAS CORES
Ricardo Moreira

O canto das aves, e o cheiro das manhãs
misturados num coquetel.
Águas, servindo de espelho,
natureza em lua de mel.

O sol no horizonte, um vermelho
cachoeiras... o branco do véu
um tapete de verde rasteiro
e o azul colorindo o céu.

Era assim...
Outras eras, tudo era, sim.
Hoje é cinza, mas será o fim?!
O cinza é o fim...

Cinza, o início do fim.

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VAZAMENTO SELETIVO
Ricardo Moreira

Eis que a versão que se contou em horário nobre
entrou para os anais como a definitiva.
E isso, onde a hermenêutica é tão pobre,
acaba excitando o ódio, que saliva.

Mas basta revirar o lodo e se descobre
que a narrativa é parcial, é seletiva...
Não há isenção entre quem compartilha o cobre
e, no que tange à ignorância, só um Deus Xiva.

Cenário hostil, beligerante e insalubre,
em que a mentira é componente das ogivas.
Destarte, não há timoneiro que manobre
embarcação com vocação para a deriva.

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VERDADES INCONVENIENTES
Ricardo Moreira

Você pode fazer o esforço que for,
que codorna não vira condor;
pode ainda ousar na estratégia.
mas vitória-régia não vira outra flor.

Pra você se limpar lhe dão graxa,
dão poncho e bombacha em região de calor...
Fazem até com que sonhe com a faixa,
mas faixa não encaixa em peito perdedor.

Eles querem que você encare a Ferrari
na pista lá de Maranello,
jogam a culpa caso você pare
por soltar as tiras do velho chinelo.


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VEREDITO
Ricardo Moreira

É de praxe revistar mochilas.
A questão é que as fraudes 
passam ilesas nas maletas.
Há quem cruze a blitz
com a paz de quem desfila.
O foco é só o pobre ou as peles pretas

E se noticia a apreensão de espoletas,
já as falcatruas se dão com canetas
  Quando algo difere disso tudo,
e a "rede" pega algum graúdo,
se resolve com "gorjetas".

Se formos parar para pensar,
é bem provável constatar 
que temos todos etiquetas.
"Durante a abordagem,
verifique a 'linhagem'"...
"É operação contra o doutor?
Põe na gaveta!" 

Há quem traga da maternidade
um passe livre à impunidade.
A grife vem desde a chupeta.
É melhor deixar fugir 
Quem, pelo modo de agir, 
Transmite o recado "não se meta"


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VERGONHA ALHEIA
Ricardo Moreira

Fala alto ao celular
Num trem cheio às 6h30...
Marmanjo e ainda pede para a mãe
mingauzinho com aveia

Tem coisa que até dá vergonha alheia (4X)

E a bola chega rasteira,
e ele ajoelha e cabeceia...
Diz que é expert no samba
e ignora Nei Lopes, Zé Ketti e Candeia

Tem coisa que até dá vergonha alheia (4X)

Pede emprestado a um amigo
o seu apartamento próximo ao mar...
E não é que o cara de pau
devolve sujo de areia

Na balada enche a cara,
não sabe se é réveillon ou é carnaval
chama Jesus de meu Genésio;
dragão, de sereia.

Compra pro filho pequeno
o uniforme do time, até chuteira e meia...
e o leva ao estádio num jogo,
achando ser fácil, e o adversário goleia.

Tem coisa que até dá vergonha alheia (4X)


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VERSOS ALEXANDRINOS
Ricardo Moreira

É necessário que se dê tempo a um templo;
e a angústia, do mesmo modo que surge, some.
A oração desperta os anjos desatentos
e nos faz repensar na imperfeição dos homens.

Falhada a ação anterior, troque o exemplo,
porém sem macular seu bem maior: seu nome.
E, se a você cabe dosar os condimentos,
não venha reclamar do ardor do que consome.

Espalhe o amor como quem, desde um apartamento,
atira flores na cidade que ainda dorme...
Receba só o que distribui em sentimentos,
desfrute do prazer da vida, que é enorme.


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VEZ DERRADEIRA
Ricardo Moreira

Vou convidá-la pra sair,
vez derradeira.
Vixe, se eu não dou vexame, eu me vingo,
caso não queira!

Vou cartear com o computador a noite inteira,
vou convir que o sereno apague a fogueira,
vou conferir o exato instante em que o domingo
vai virar Segunda-feira!

Vou ficar contando estrelas em bandeiras,
concordar que me empurrem embriagado na ladeira.
Junto velhas cartelas e vou jogar bingo
com a solidão eterna companheira!

Vou cortar as fotos que eu trago na carteira,
acompanhar o rodapé sumindo na poeira.
Vou consumir até o último pingo
de uma garrafa que eu tenho de bagaceira!

Vou conversar com o pinguim da geladeira,
confessar que a minha vida é uma pasmaceira.
Convoco coletiva em vão e, às vaias, xingo
a única ouvinte: uma varejeira!!!


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VICE-VERSA
(Ari Reis e Ricardo Moreira)

Um dia, ele era o desvio providencial
à vicinal salvadora
ela, ao invés, as varizes, o vício,
o vírus de peste vindoura.

Outro dia, ela era o souvenir,
o alvará, o ir e vir, a chuva na lavoura;
em revide, ele era o polvilho por vir na pupila,
o corvo que agoura.

Se ele queria preservar o vínculo,
ela vinha com quilos de pedras na mão...
Outras vezes, se via era o inverso:
ela era a primavera; e ele, o vilão!

Em verdade, ela já não era
a curvilínea capa de revista;
tampouco, era um desvario o varão


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VIDA DE BACANA
Ricardo Moreira

Bem lá no íntimo,
em encontros reservados,
no que pensam os desalmados?
Devem rir tanto da gente...
Todos com os rabos amarrados,
com dinheiros desviados
e aclamados mais que os muitos inocentes.

Bem lá no íntimo,
em suas reuniões secretas
para análise de metas,
regadas ao melhor vinho,
há o plano de manter-se a massa analfabeta
e a voz que destoa, quieta,
esperneando em seu cantinho.

Bem lá no íntimo,
imerso em banho de espuma
ou baforando enquanto fuma
um legítimo havana...
Qual importância que haverá
caso a tragédia se consuma?
Em nada afetará a sua vida de bacana.


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VIDAS
Ricardo Moreira

Neste instante, tem gente,
frente a frente, em juízo,
em assunto: questões de tutela!

Tem gente, e isso é bem mais freqüente,
percebendo que há muito mais que a serpente
e seu guizo, entre Adão e a costela.

Tem gente, ao pente
ou se auto retrata, Narciso,
molduras, misturas de tinta, aquarela!

Tem gente que, perante o poente,
é tão indiferente e crente
que o mundo é um paraíso e a vida é tão bela!!!

Tem gente com dente, tem gente banguela;
tem gente do oriente, tem pele amarela
tem gente paciente, tem gente que apela...

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VIDINHA REQUENGUELA
Ricardo Moreira

Não ultrapasse a cancela,
não deixe suas contas ficarem em atraso,
atravesse pela passarela,
regue todo dia as plantinhas do vaso.

Vá pela sombra,
use o cinto, ponha a blusa,
não se esqueça de pedir licença
quando for entrar,
não fume dentro do recinto,
bote sempre a camisinha no “distinto”
no momento de trepar.

Adquira uma dessas cartelas com jogos de azar,
pois quem sabe é o acaso
que vai transformar sua vida requenguela
e fazer de você um arraso.

Faça o sinal da cruz
diante da capela,
satisfaça a clientela,
entregue os serviços no prazo,
e aproveite para aplaudir todo sucesso
dos que veem convenções e leis
e fazem pouco caso.


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VIL ALENTO
(Marcelo Mazzucatto e Ricardo Moreira)

Não basta somente a conversa,
o caos já está um passo à frente da afronta,
mas a cura não está totalmente submersa...
é possível enxergar uma ponta!

Cura esta, que está no apego
a uma crença qualquer...
ou no apego à família!...
O que não pode é bandido fazer o que quer,
Só tendo a temer outra quadrilha.

“...Quem não tem a quem prestar conta,
na primeira oportunidade, apronta!”
É muita oferta...
A porta para o crime ‘tá aberta!

Corre! Vai recuperar teu filho,
antes que ele se fascine
com o poder de um gatilho...

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VINHA CANTANDO ALEGREMENTE: QUÉM, QUÉM
Ricardo Moreira

Mané botou sua camisa amarela
e rumou pra Paulista,
mas dessa vez foi sem o apoio, o aboio,
de famosa revista.

Mané tentou debater com a Fiesp
suas perdas trabalhistas,
porém ali o segurança o barrou
antes da recepcionista.

Não teve o "ao vivo" com o canal de notícia,
nem teve selfies com membros da polícia.
Esta, inclusive, fez a sua "inscrição"
num “intensivão” de sevícia.

Não adiantou citar amigos do Choque,
cantar aquela de um ex-astro do rock,
dizer que o avô libertou nosso país
de uma "invasão comunista".

Mané possui fetiche pelo contrário,
serve café, porém se sente empresário.
Tem preferências por contos de vigário
a "doutrinas Marxistas".

E tanto faz que lhe aumentem o trabalho,
tirem suas férias, reduzam seu salário.
Diz que é só fase, lá para o século XX,
o povo reconquista...


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VINIL
(Alexandre Lemos e Ricardo Moreira)

Não, eu nem quis comentar
quando você me sorriu,
ao ver pular a agulha
do meu tocador de vinil

Não sei qual foi o seu intuito...
Triste será, se em sua vez,
um risco estragar o circuito
do seu moderno mp3...

Se alguém mexer o esqueleto,
ao som do pickup dos DJs,
Talvez, seu brinquedinho fique obsoleto
em menos de um mês...

Meus LPs eu herdei da família...
Trilha Sonora de um tempo tão bom
Esse chiado é só um charme a mais
nesse som...


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VIRADA
Ricardo Moreira

Hoje acordei cedo e contente,
e isso é raro.
Que ninguém tente estragar meu bom humor.
Nem um escândalo novo, e nem o zodíaco.
(É claro! Só lhe darei valor,
se o que disser for a meu favor!)

Daqui por diante,
só estarei onde estiver brilhando o sol,
eu me entregarei ao ócio.
Nem mais estresse, nem mais negócios.
Viver apenas enquanto posso...

Seguir a receita de Caymmi,
curtir a brisa e o mar.
Fugir da neurose de tantos regimes,
das mais variadas formas de crime
e, de um jeito sublime, te amar!!!

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VIRTUAL (NÃO ME COMPARTILHE POR AÍ)
(Ricardo Moreira - Gilvandro Filho)

Não me canse.
Não descanse enquanto eu trabalho.
Não me olhe.
Não me tolhe que eu me atrapalho

Cada vez que você diz
que não me diz mais nada.
Cada passo que não ando
nessa madrugada

Cada giro, cada tiro de misericórdia
que você me dá com a ânsia de fazer esbórnia
Cada vez que você omite a sua verdade
e me impõe impunemente essa felicidade

Não me peça...
Não me impeça, tchau e good luck
E não mais
me adicione no seu facebook

Não me isole
E, nesse mar, peço que não me ilhe
Amizade, nem pensar
Só não me compartilhe
Por aí...


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VISITA AO INFERNO
Ricardo Moreira

Dona Angelita entra na condução
que a transportaria à visita
ao filho caçula que está na prisão,
o que sempre a deixa aflita.

Por mais triste que seja a sua condição,
se esforça pra estar bem bonita.
É do tipo que narra, em voz alta, a versão
na qual cegamente acredita.

Relata que o moço tinha profissão,
e envolveram seu nome em uma “fita”.
detalha a predileção do rapaz
por feijão, bife e batata frita.

Interrompe a conversa, algo chama a atenção
“Por que tanta sirene apita?”
Então, surge um som de explosão,
gente desesperada que chora e que grita.

Nota que chega ao destino e há uma confusão,
bombas de efeito moral revidadas com brita...
Joga-se um decapitado do muro até o chão,
Visão que, mais que a intuição, destroça Angelita.

E não é o fato de ver
o assassino ostentando o facão.
É que lhe é bem familiar
a cabeça que com sua outra mão ele agita.


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VOCABOLÁRIO
O vocabulário da bola
Ricardo Moreira

Mané rabisca uma defesa inteira:
lençol, caneta e carretilha.
Finta também uma maria-chuteira
que veio cobrar a pensão de sua filha.
“Overlapping” e “ponto futuro”...
“Oh, professor!
Ó esse zagueiro aqui chegando duro!”

Mané não é mais criança,
é o ponta de lança da nossa seleção.
E nos renova a esperança,
se avança pro gol entrando em facão.

Mas, quando banca o fominha
e se perde no caminho,
também perde o carinho e passa a ser vilão
dos que limitam as suas vidas só aos chuveirinhos...
Sem talento e sem vocação.


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VOCÊ TINHA UM RICARDÃO
Ricardo Moreira

Você jogou no lixo o nosso amor,
não venha se queixar da solidão...
Bastou dar uma vasculhada em seu computador
pra ver que você tinha um Ricardão.

Você jogou no lixo uma história tão feliz
Se eu não me matei, foi por um triz.
Você me fez de palhaço;
também, o padre e o juiz.

Se me quer de volta, um abraço.
Ah, vá jogar moedas em algum chafariz!

Já recompus meus pedaços.
E agora? O que você me diz?
Trocar sobremesa importada
por caixas de Bis...


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VOCIFERANTE E IRACUNDO
Ricardo Moreira

Não pregue as mãos de seus homens na cruz,
se quer que aplaudam seus feitos...
Se quer ter destaque, não apague a luz,
não crie empecilho ao que vai ter proveito.

Forneça a lente aos que, a olhos nus,
têm campos de visão mais estreitos.
O bom comandante não freia, induz,
encoraja os soldados a baterem no peito

Vociferante e iracundo,
exigindo as coisas sempre do seu jeito.
Sentindo-se o “dono do mundo”,
agindo assim nem se elege prefeito.

Você topa?
Você topa mudar a maneira de como conduz sua tropa?
Você topa?
Mania de oferecer condições tão rasteiras
e exigir “soluções de Europa”.


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XENOFOBIA
Ricardo Moreira

Quando senhor Giuseppe
chegou ao Brasil, fugido da Itália,
só deu tempo de pôr uma roupa
e juntar talvez uma ou outra tralha.

Era ´inda criança e,
resquícios da guerra, sofreu represália...
Durou pouco tempo, diria ele: “Menos que um fogo na palha”.

Hoje é aposentado e alterna o seu tempo
entre a bocha e a malha...
E, ao contar sobre sua trajetória,
ora chora, ora ele gargalha.

Seu neto “aprende” História no Youtube.
Ainda não trabalha...
Comenta, ao ver fotos de refugiados,
que é “tudo gentalha”.

“Vai que, em meio aos milhares,
entra um terrorista ou algo que o valha”
“Já tem gente de mais por aqui,
e vem esse povo ainda e atrapalha?”

Por ele, em toda a fronteira
teria uma enorme muralha.

Por ele, em toda a fronteira
teria uma enorme muralha.

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YIN E YANG
(Márcio Policastro e Ricardo Moreira)

Ela é chás, incensos, flautas e florais.
Ele é energético e canções que estão na moda.
Ela é pés descalços, chakras, prana e paz...
Ele é bar, barulho e mundo sobre rodas.

Ela é fibras e alimentos naturais,
Ouve o seu som baixinho (sabe que incomoda)
Ele, quando está junto a um de seus iguais,
é álcool, é torresmo e tudo mais que engorda.

Ela é planta... É um mantra... É o tantra!
Ninguém entende o que ela faz com um "pilantra",
que gosta de UFC e briga por futebol...
Eis um relato do amor entre a lua e o sol


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ZONA DE DESCONFORTO
Ricardo Moreira

Diante da falta de escrúpulo
armar-se em escopetas
talvez seja um escape.
Utopia é achar que na paz
se reparte o poder.

Uma hipótese é que essa estratégia
é muito utilizada
- e vem desde o tacape -
Quem espera algo de um "sem pudor"
aprova o que lhe é permitido: perder.

Impotente perante o patético,
apático ante o aplauso a um impostor.
Prefiro a apologia da paciência
- o viver-se com amor -
Mas comparo a atitude
de quem só se apega à prece
à inocência da flor
que pede permissão pra viver
ao pisar-lhe o trator.


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ZOODÍACO
Ricardo Moreira

Lá vem você de novo e sua pose e postura
e chiliques de estrela,
outorgando-me o papel de nuvem escura
a quem coube escondê-la!
Quer saber? Eu já leciono nessa cadeira,
ouvi benzedeira...
Ignoro, nem leio o seu signo.
Cansei do tremor, ao encontrar geleira,
onde buscava o extremo ígneo!
Conjuga, em crises conjugais, o seu “eu”,
em tom de lamento ou em voz autoritária...
quer chamar sempre a minha atenção nos eventos,
parece a soprano em sua ária.
Diz que rompi com as juras
feitas no casamento, ameaça sumir.
Acusa, cega de ciúme: “você não soube trair!”.
Distribui mais de mil novos regulamentos,
não sem antes subtrair meu orgulho
(a única moeda que ainda restava em meu pote)
É o mix perfeito entre a plateia
ao duvidar do artista e seus dotes
e a gótica, algemando
o poeta anarquista aos seus motes!

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