GAVETA DO COMPOSITOR
ÁLBUNS DE FAMÍLIA
Eu lembro era tarde de chuva em visita à sacada
Eu lembro era um frio de cobertas... palavras cruzadas
Um tempo em que nem existiam sinais de wi fi
E eu ouvia os velhos vinis que eu herdei de meu pai.
Talvez seja duro entender aos com menos de 20...
A felicidade é simples dispensa o requinte.
a informação não chegava em meios digitais,
Mas, às vezes, pra tornar-se eterno, o menos é mais.
Não havia essas coisas de “selfie”,
“download” ou “dar print”,
as fotos com sorte eram vistas no dia seguinte.
O poder de se ver num papel nos fazia imortais...
Eu diria que é mesmo um presente olhar para trás.
Fica aqui registrado, meus queridos jovens ouvintes
Não encarem esse arroubo de saudosismo um acinte
E, quem sabe, espalhem esta melodia... em corais
A canção se limita a querer recrutar uns iguais.
CABEÇA-DE-BAGRE
Eis que a transmissão deu destaque
a um marmanjo barbado, perdido, chorando.
Lamentando o seu time sem craque,
derrotado sem fazer valer o seu mando
Não, não chora a guerra no Iraque,
A falta de feijão com arroz vez em quando,
A menina afundada no crack,
a mulher que jogava calcinha pro Wando...
Se a paixão do seu filho tingiu o cavanhaque,
e o moleque ´tá até separando...
Para essas coisas banais, um conhaque
“faz com que a gente vá se conformando”
Mas time sem defesa, meio-campo e ataque
“é como se o ar estivesse faltando”
Eis que a transmissão deu destaque
a um marmanjo barbado, perdido, chorando.
Lamentando o seu time sem craque,
derrotado sem fazer valer o seu mando.
Não é por um conjunto de leis tão “Mandrake”
ou que, em várias esferas, falta é comando...
Que hospital bonito só tem no Projac
e o que tem no seu bairro está é desabando...
Caso tenha algum piripaque,
É torcer que o resgate apareça voando
o jeito é recorrer novamente ao conhaque,
há uma caixa fechada, “tudo contrabando”
Mas time sem defesa, meio-campo e ataque
“é como se o ar estivesse faltando”
CONFRONTOS DE CLASSE
Oriundo da mais fina cepa,
Johnny defende a meritocracia,
Em seu caminho, flagra zé na xepa,
vasculhando seu sustento só para aquele dia.
Atrás dos vidros de sua SUV,
Johnny acha isso um absurdo (e zé “um preguiçoso”)...
zé, exposto aos raios UV,
suas rugas fazem com que se pareça mais idoso.
De um cenário de total conforto,
um percebe que “andam a criar um confronto de classes”.
O outro nem percebe, de fome está morto,
em meio a sobras de pepinos, tomates e alfaces...
O mais triste de tudo:
zé é presa fácil, um coitado, um duro...
É massa de manobra!
É certo... era muito mais seguro,
estivesse ele vivendo
em um ninho de cobras.
O mais triste de tudo:
zé é presa fácil, confia nas pessoas...
Não interpreta um texto!
Um simples agradinho e ele tece loas.
zé veste perfeitamente
é um bom cabresto.
Folheando a Forbes e a Isto é gente,
há uma coisa com que Johnny nunca se conforma
e “alguém deveria resolver urgente,
criando uma lei, uma MP ou norma...”
“Por que é que juntam os trapos
esses que andam em farrapos
e espalham, sós, os filhos
nesse mundo de meu Deus?”
Por falar em filhos,
Johnny não faz ideia,
Por onde andam os seus.
ESCOLHAS
O seu carrão parcelado
só o leva ao trabalho... Sempre ao mesmo local.
O meu fuscão ´tá quitado
e com ele eu vou ao campo e ao litoral.
Pense bem!
“0 Km/h a 100 Km/h em segundos”,
dizia o anúncio que viu no jornal,
mas você nem engata a segunda,
parado por horas numa Marginal.
Sua mulher tem investido em vestidos,
só pra fingir um outro padrão social...
Sem repetir, só usa um dia...
(e vocês bem que poderiam
ir ver as dunas de Natal).
Que tal você experimentar andar descalço?
Será que o seu próximo passo é um passo em falso?
Em breve, o estresse o ataca, você tem um piripaque,
e uma bengala é o que servirá de calço.
FAIXA DE GAZA
Quem se enriquece com a guerra
não vale o que o gato enterra!
Onde jaz civil,
as crianças são mortas
por petróleo e terra.
Imagine que neste momento,
em algum canto do mundo,
em algum gabinete...
Alguém negocia um novo armamento:
algum míssil, um canhão... um foguete.
Covardes mimados!
Distribuem seus campos minados,
espalham porretes...
Fechados em carros blindados,
escondidos em bunkers, usando coletes.
Quem se enriquece com a guerra
não vale o que o gato enterra!
Nunca entenderão
a beleza do “amor anotado em bilhetes”
e a riqueza que é passear com os netos
pagar-lhes sorvetes...
FAROL ACESO
Politicamente correto
como anda o mundo,
melhor pensar um segundo
antes de bancar o gentil.
Quando lembro essa história,
até me confundo...
sequelas de alguns cascudos
que eu levei de um cidadão sem pavio.
Eu, inocente, deveria sair ileso,
só alertei de um farol de automóvel
esquecido aceso
Só que o bruto, ao me ver indefeso
reagiu acertando-me em cheio,
pensou que eu paquerava
sua esposa com silicone no seio
GARRINCHAS E JOÕES
Entra ano e sai ano,
joão-ninguém repete a mesma ladainha.
Reclama que vive entrando pelo cano,
reclama do sedentário e de quem caminha
Ele e a vida são “cão X bichano”.
Reclama não ter o que antes já não tinha,
da nudez e do excesso de pano,
e que, em meio a tubarões, ele nasceu “sardinha”
Só vê a maldade que há no ser humano
E, se vai ao jardim, “caça” erva daninha,
e o incomoda a flauta, o piano...
O cheiro do tempero que vem da cozinha
Repare bem...
Você também quando se olha refletido,
se ali no espelho o que se vê
não é um outro joão-ninguém.
Repare a quantidade de lamúrias
que tem repetido,
mas quando tem a chance de mudar
só o que repete é “amém”.
JANTAR DANÇANTE
Era início do baile,
lá dentro o conjunto tocava "La Mer".
Flagrei-a em seu desembarque,
o contraste entre o esmalte e a luva do chofer...
... Fenda no vestido,
um colar de brilhante,
o salto no asfalto,
meu Deus! Que mulher!...
Dessas que se devora com os olhos...
Está dispensado o talher.
Era início de baile...
Creio eu, os garçons distribuíam o "couvert"
Botei na cabeça: “Eis minha ´partner´ na pista!”...
“Será que ela quer?!”
Um gole de "Dry Martini",
"Nouvelle Cuisine"
e, aos primeiros acordes de "Love is in the air".
Chamei-a pra contradança. Aceitou.
Concluí com sucesso o mister.
Maracas?
(Maracanã ou maracatu?)
Com uma calça Saint Tropez,
Um chapéu panamá,
E tragando um havana,
camisa florida e sandália...
A vida, um eterno final de semana.
Um coquetel sabe-se lá do quê,
uma rumba no rádio, coqueiro e banana...
Gringo até pensa que encontra macaco,
Ao se andar na praia de Copacabana
É a imagem que se tem do brasileiro,
retratado na TV americana.
Pensam que aqui ninguém escreve ou lê,
está atrasado um estágio em evolução humana.
Pensam que aqui a extrema arquitetura
(a essa altura) é oca, barraco é cabana.
Quando é só burrice ou ignorância
nem tem importância, o povo desencana.
Triste é ver gente perpetuando a ideia
e, com isso, enchendo o “rabito” de grana
MURRO EM PONTA DE FACA
Se tudo parece estar fora do prumo,
por que insistir em manter-se no rumo
das coisas que te fazem mal?
Transforma em durável o que era consumo,
buscando no álcool, no fumo, ou em cobertas...
enquanto lá fora rola o carnaval...
Sei que é difícil...
É elementar, não criaram nenhum artifício,
suplemento alimentar ou uma “super-aveia”...
Pra te levantar, só a fé, camarada...
Então, creia!
Impossível é basquete na praia
com bola de meia.
PRÓXIMA